Por Júlia Lewgoy, Valor Investe — São Paulo
15/06/2023 06h00 Atualizado há 4 horas
Os gestores de fundos multimercados estavam neutros com as ações brasileiras, mas agora inverteram a mão e estão otimistas, conforme um estudo da casa de análises Empiricus feito com 41 gestoras de recursos. Isso aponta que os investidores profissionais podem estar aumentando a alocação em bolsa, considerando o andamento de agendas do governo e o arrefecimento da inflação.
A casa de análises perguntou aos gestores nos primeiros dias deste mês se eles estavam muito otimistas, otimistas, neutros, pessimistas ou muito pessimistas com as ações e os juros no Brasil. O sentimento melhorou em relação aos dois ativos, em média.
Como diz o nome, os fundos multimercados diversificam as carteiras em diferentes classes de ativos, como ações, commodities, juros e moedas, no Brasil e no exterior. O desempenho deles depende da capacidade de interpretar o cenário e a direção para onde os mercados estão indo e se antecipar, fazendo movimentações na carteira.
A Empiricus ainda perguntou se os gestores estavam muito otimistas, otimistas, neutros, pessimistas ou muito pessimistas com o crescimento da economia, a inflação e as contas do governo. Os gestores melhoraram o sentimento significativamente com os três indicadores, mas continuam pessimistas com as contas do governo.
O Ibovespa acumula alta ao redor de 7% neste ano, com uma arrancada expressiva neste mês. Os gestores comemoraram a aprovação do arcabouço fiscal novo no Congresso, com algumas alterações feitas na Câmara, que deixaram a correção em caso de não cumprimento das metas mais restritiva.
Os gestores ainda continuam atentos ao encontro do Conselho Monetário Nacional (CMN) no fim de junho, para debater mudanças na meta de inflação, como alterações nas bandas e no cálculo. Os dados recentes apontam um arrefecimento na inflação, ajudada pela baixa nos preços das commodities e de alimentação e energia em 2023, o que pode auxiliar a deixar a meta de inflação onde está.
Com o avanço da agenda fiscal e as surpresas favoráveis com a inflação, o mercado começou a esperar uma diminuição mais forte e próxima de juros, em agosto.
Em sua carta mais recente, a gestora Verde, dona de um dos fundos multimercados mais longevos do Brasil, afirmou que o país viveu em maio e nos primeiros dias de junho uma avaliação mais construtiva para os preços dos ativos.
“O arcabouço fiscal evoluiu numa direção positiva na Câmara, o crescimento do PIB do primeiro trimestre foi substancialmente acima do esperado pelo consenso, e a inflação tem surpreendido para baixo”, escreve a equipe liderada por Luis Stuhlberger.
“Os contornos estão bem estabelecidos para o início do ciclo de corte de juros (provavelmente) em agosto. Isso tem feito com que o mercado mais atrasado na redução de prêmio de risco brasileiro, o acionário, finalmente começasse a performar bem.” O time acredita que as ações têm espaço para continuar performando bem e diz que o fundo tem mantido em torno de 20% alocado no mercado local.
Exterior
Os gestores de fundos multimercados melhoraram o sentimento com as ações dos Estados Unidos, mas continuam pessimistas. As expectativas para o crescimento da economia, a inflação e as contas do governo nos Estados Unidos melhoraram e agora estão em nível neutro.
O S&P 500, indicador de referência das ações de Nova York, acumula alta ao redor de 13% neste ano. Nos Estados Unidos, a atividade econômica continua resiliente e a inflação, persistente, o que pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central-norte-americano) a manter os juros altos.
Ainda nos EUA, os investidores acompanharam a crise do teto da dívida, em que o presidente Joe Biden e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, acordaram a suspensão do teto até 1º de janeiro de 2025, com a contrapartida de cortes de gastos.
A casa de análises perguntou aos profissionais qual o nível de preocupação em relação aos impactos do aumento do teto da dívida dos Estados Unidos sobre os ativos de risco e a liquidez. Mais de 80% dos gestores possuem pouca ou nenhuma preocupação.
Na Europa, a atividade econômica desacelera e a inflação está arrefecendo, com exceção do Reino Unido, onde o banco central deve continuar aumentando juros. Na China, a atividade econômica piorou, mas a imprensa do país aponta que o governo está disposto a se endividar para estimular a economia.
Fonte: Valor Econômico

