Por Brooke Masters e Harriet Agnew — Financial Times, de Londres e Nova York
04/01/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Os gestores de ativos globais enfrentarão em 2023 um acerto de contas há muito adiado, pois a queda dos preços nos mercados os forçará a cortar custos e tomar decisões difíceis sobre onde investir para crescer.
Depois de um ano recorde em 2021, as receitas caíram em todo o setor no ano passado, já que os mercados em queda em quase todas as classes de ativos afetaram as comissões de desempenho e administração. Nos Estados Unidos, os ativos totais dos fundos mútuos e ETFs (os fundos negociados em bolsas de valores) caíram 17% entre o começo de 2022 e o fim de outubro, segundo mostram os números mais recentes divulgados pelo Investment Company Institute.
Ao mesmo tempo, a maioria dos gestores de recursos estão sob pressão para encontrar dinheiro para melhorar suas tecnologias e conquistar novos clientes. Como resultado, eles estão espremendo os custos com pessoal via congelamento de contratações e cortes nas bonificações, na esperança de evitar demissões em massa.
Consultores também relatam um grande aumento das solicitações de aconselhamento sobre “eficiências”. “Houve muita complacência. Muitos concorrentes agora precisam colocar a casa em ordem”, diz Markus Habbel, sócio da consultoria Bain, especializada no setor. “Se você não tem escala, está ficando mais difícil.”
Embora a reação inicial às turbulências do ano passado tenha sido em grande parte medidas genéricas de aperto de cinto e pequenos cortes gerais, analistas do setor preveem que este ano exigirá mais decisões estratégicas.
“A tentação é tirar um pouco de tudo. Mas na verdade isso não muda as coisas”, diz Julia Hobart, sócia da prática de gestão de ativos e patrimônio da Oliver Wyman. “Os gestores terão que decidir no que eles irão se concentrar e no que não irão. Grandes mudanças estruturais terão de ser feitas para reduzir os custos.”
Jeremy Taylor, que chefia a operação britânica da Lazard Asset Management, acrescenta: “O que o gestor de ativos faz quando as receitas caem? Você tende a fazer menos das coisas que não funcionaram nos últimos três a cinco anos e examinar mais atentamente as coisas que não cresceram… Você não desiste de nenhum produto em escala.”
Na verdade, os gestores de ativos mais fortes estão ansiosos para obter ganhos, enquanto seus concorrentes mais fracos estão realizando cortes. “Continuamos investindo durante o ciclo de mercado em tendências de longo prazo que são prioridades estratégicas para nós, incluindo investimentos sustentáveis, alternativas, gestão ativa e fundos negociados em bolsas de valores”, diz Patrick Thomson, presidente-executivo da J.P. Morgan Asset Management na Europa. “Se você investir significativamente nessas tendências em uma desaceleração, isso o colocará em vantagem, enquanto os outros poderão ter de realizar cortes.”
Muitos gestores estão esperançosos de que os fundos de bônus, que viram grandes quedas nos preços e retiradas maciças com o aumento dos juros, começarão a se recuperar em 2023. “Isso é uma faca de dois gumes para os gestores porque haverá fluxos de saída de outras classes de ativos de margens maiores para a renda fixa de margens menores”, diz Tom Mills, que analisa o setor para o banco Jefferies.
Alguns gestores também preveem que a desaceleração vai intensificar a mudança de clientes dos fundos mútuos tradicionais e contas de corretagem para novas formas de investimentos, como ETFs, contas gerenciadas separadamente e carteiras modelo.
“Sempre que há grandes choques no mercado, as pessoas fazem grandes mudanças em suas carteiras. É quando as pessoas adiam a manutenção”, diz Martin Small, que comanda a operação de consultoria patrimonial da BlackRock nos EUA e está assumindo como seu novo diretor financeiro. “Nos mercados de varejo dos EUA está havendo uma mudança das contas de corretagem para a consultoria à base de honorários, o que significa mais carteiras modelo e ETFs.”
Os gestores de ativos passaram 2021 e o começo de 2022 contratando provedores especializados em mercados privados e investimentos alternativos, mas as negociações praticamente cessaram em meio às turbulências do mercado. Os preços das ações do setor caíram muito: o índice S&P Composite 1500 Asset Managers tem queda de 23%. Os vendedores estão relutando em aceitar esses preços e os potenciais compradores não estão dispostos a pagar mais.
Philipp Koch, chefe da prática de gestão de ativos da McKinsey na Europa, acredita que a pressão contínua sobre os custos poderá mudar o cálculo, especialmente no segundo semestre de 2023. “Alguns concorrentes poderão concluir que seus modelos de negócios não são mais sustentáveis e considerar soluções mais criativas para consolidação e fusões e aquisições”, avalia. “A maioria dos gestores de ativos estava do lado da compra. Havia pouquíssimos vendedores. Mas isso poderá mudar.”
As pressões poderão ser grandes demais para alguns concorrentes de longa data. “Sempre que há uma recessão, se for uma recessão profunda, os jogadores com mãos fracas são eliminados”, afirma Cyrus Taraporevala, que acaba de deixar o cargo de presidente-executivo da State Street Global Advisors. “Isso é normal.”
Fonte: FT / Valor Econômico

