As dúvidas deixadas pelo comunicado divulgado na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, principalmente em relação aos quatro votos que divergiram da maioria, limitam, pelo menos por ora, grandes mudanças de posicionamento por gestores locais, que já buscavam reduzir sua exposição ao risco nos últimos dias. A dinâmica externa, assim, ainda deve seguir ditando o rumo dos mercados à frente, embora a questão local tenha ganhado força nas sessões mais recentes.
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Paulo Clini, da Western Asset, segue com posições aplicadas em juros de curto prazo — Foto: Silvia Costanti/Valor
Parece cedo para mudar posicionamento, diz o diretor de investimentos (CIO) da Western Asset no Brasil, Paulo Clini. “O comunicado foi confuso por só refletir a posição dos que votaram por corte de 0,25 ponto percentual, e isso abriu uma miríade de interpretações. O fato de não explicitar o racional de parte relevante do comitê abriu espaço para interpretação de que quem votou por corte de 0,5 ponto o fez por motivações políticas, ainda mais por se tratar dos quatro diretores indicados pelo atual governo. Precisamos esperar a ata, já que o comunicado trouxe barulho adicional para um mercado que já estava inseguro”, afirma.
O executivo nota, nessa linha, que a decisão não mudou a visão da casa de que a redução de passo do Copom não indica intenção de parar de cortar juros. O texto diz que o comitê está muito dependente de dados e, se o cenário piorar, quem votou por 0,25 ponto pode optar para encerrar o ciclo de afrouxamento em junho, opina Clini, sem enxergar uma indicação escondida no comunicado. “Talvez a ata deixe isso mais claro.”
“Nossa visão para ativos locais já era cautelosa, com baixa utilização de risco. Só vale ressaltar que enxergávamos mais espaço para cortes de juros que o consenso e continuamos acreditando nisso. A correlação dos mercados está bem alta e o principal gatilho são as taxas, então temos posição aplicada na ponta curta da curva, mas também temos um pouco de bolsa e pequena posição em real”, afirma.
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Leonardo Monoli, da Azimut, segue com posições pequenas em juros locais e na bolsa brasileira — Foto: Foto: Gabriel Reis/Valor
A decisão foi “hawk” (dura), mas o resultado foi “dove” (pró-afrouxamento), concorda o diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli. O executivo diz que uma interpretação possível é a de que os dois grupos buscaram “marcar posição” na reunião, mas agora “vão ter que redigir muito bem a ata para tentar deixar claro que a divergência foi pontual”.
“Isso para que o estrago que foi feito hoje [ontem] possa ser contido”, afirma. “A curva de juros inclinou e a divisão do Copom fez o dólar subir, mesmo em um Brasil que já tem níveis de preços muito descontados. Há a sensação, para os ativos brasileiros, de que é preciso muito estrago para acrescentar ainda mais prêmios de risco em tudo. Mas, se essa divergência dentro do Copom continuar, essa dinâmica pode se estender”, avalia.
A Azimut manteve posições bastante reduzidas nas curvas de juros locais e em uma alocação acima do nível estrutural no segmento de crédito privado de alta qualidade. Em relação aos fundos multimercados, a casa realizou nova rodada de redução no nível de exposição. E, quanto ao mercado acionário, continua com baixa exposição nos mercados local e global.
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Eduardo Camara Lopes, da Jubarte, continua a esperar segunda ‘pernada’ de cortes na Selic mais à frente com alívio externo — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Para o diretor de investimentos da Jubarte Capital, Eduardo Camara Lopes, os ciclos de política monetária têm componentes endógenos e exógenos e, quando as condições globais permitirem, o afrouxamento monetário no Brasil deve ser retomado.
“Existe um componente do ciclo que é endógeno e fez a Selic chegar nos níveis atuais. Mas haverá uma segunda fase do ciclo, impulsionada pelo ambiente global, que foi postergada recentemente. Ainda não sabemos quando o Fed vai começar a cortar, mas, quando isso acontecer, o Brasil vai ter condições de ter uma segunda pernada de afrouxamento”, afirma.
Sobre o Copom, Lopes diz que há duas óticas para avaliar a divisão observada entre os membros do colegiado. A primeira é que a decisão ficou entre o 0,5 ponto e o 0,25 ponto – e não entre 0,25 ponto e zero -, o que indica que ainda há algum espaço para cortes de juros nas próximas reuniões. A segunda, mais negativa, é que os quatro dissidentes foram os nomeados pelo atual governo. Mas o executivo aguarda mais informações na ata, que será divulgada na terça-feira.
Em termos de posicionamento, a Jubarte tem reduzido algumas apostas em Brasil nos últimos dias, diante da piora do cenário global e local. “Passamos a ter um portfólio um pouco mais defensivo, já que essa primeira fase do ciclo vai ser um pouco menos profunda – o que não invalida o fato de que, na hora que o Fed começar a cortar os juros, isso acaba tendo um efeito no Brasil”, aponta. As preferências da Jubarte são em juros mais curtos e também nos juros reais. “Diminuímos bastante a parte de renda variável e temos também proteções no dólar.”
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Thiago Mendez, getor de estrategias de renda fixa do Bahia Asset, tem posições aplicadas em NTN-Bs e vendidas no real — Foto: Leo Pinheiro/Valor
O Bahia Asset Management carrega posições “menores, mais táticas e que devem se beneficiar das discussões sobre a chance de um BC mais tomador de risco”, diz o sócio e gestor dos fundos multimercado e de renda fixa da gestora, Thiago Mendez. Ele revela ter posições aplicadas em NTN-Bs de curto prazo, ou seja, apostas na queda dos juros reais de prazo mais curto. “O timing, talvez, não seja o melhor, mas tem algum valor.”
Além disso, Mendez sustenta posições táticas vendidas no real em relação a uma cesta de divisas que compreende o peso mexicano e o dólar australiano. “Taticamente, achamos que o real pode sofrer ainda mais”, afirma o gestor, que também diz não ter posições relevantes na bolsa brasileira.
Para o executivo, diante do estresse dos mercados, o próximo movimento dos diretores do BC que votaram por um corte maior na Selic pode ser o de tentar passar uma mensagem mais cautelosa. “Acho que eles tendem a se incomodar com o movimento do mercado, mas a votação revela uma preferência e pouca coisa pode desfazer essa percepção gerada pelo placar emblemático”, enfatiza o gestor. “E toda essa confusão diminui ainda mais a probabilidade de a Selic cair mais neste ano.”
fonte: valor econômico

