Por George Steer, Financial Times
12/12/2022 16h18 Atualizado há 17 horas
Nesta semana, três dos maiores bancos centrais do mundo devem elevar suas taxas referenciais de juros, e muitos investidores, receosos com a possibilidade de recessões, estão voltando suas atenções para qual será o pico que os custos de captação poderiam atingir em 2023.
Os investidores, em termos gerais, preveem que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu (BCE) elevarão os juros em suas reuniões de política monetária nesta semana, mas em uma dose menor do que o fizeram nos últimos meses.
Neste ano, nos dois lados do Atlântico, os bancos centrais elevaram rapidamente os custos de captação, que estavam em seus menores patamares históricos. Com isso, pretendiam esfriar a corrida inflacionária que tem sido exacerbada pela invasão malsucedida da Ucrânia pela Rússia.
Os juros subiram de um patamar próximo a zero para entre 3,75% e 4% nos EUA, para 1,5% na região do euro e para 3% no Reino Unido, assolando os mercados financeiros pelo mundo ao longo do processo.
Nas últimas semanas, porém, muitos investidores passaram a se sentir encorajados pelos sinais de redução da inflação nos EUA e na região do euro e reorientaram o foco, deixando de dar tanta atenção ao tamanho das elevações e passando a pensar mais em qual será o platô de estabilização que os juros atingirão em algum momento de 2023.
O presidente do Fed, Jerome Powell, “praticamente prometeu” um aumento menor, de 0,5 ponto percentual, na quarta-feira, disse David Donabedian, diretor de investimentos do CIBC Private Wealth, o que provavelmente levou os mercados a ajustar as previsões para as taxas de juros no próximo ano.
Os preços do mercado estão levando em conta que a principal taxa básica de juros do Fed chegará a cerca de 5% na próxima primavera americana (segundo trimestre), para depois começar a cair na segunda metade do ano, embora também se acredite que Powell deverá enfatizar que a batalha do banco central contra a inflação está longe de ser vencida. “O Fed nunca admitirá isso, mas seu comportamento sugere que eles realmente não querem dar muitas boas notícias ao mercado de ações”, disse Donabedian.
“Da perspectiva deles, [a mensagem] está funcionando”, acrescentou. “Os números da inflação começaram a diminuir, há sinais de enfraquecimento em setores-chave da economia e o mercado de ações está mais ou menos estável em comparação há seis meses.”
Um índice de preços ao consumidor dos EUA mais alto do que o previsto em novembro ainda poderia levar a uma grande onda de venda de ações, embora a maioria dos economistas acredite que as pressões inflacionárias continuarão em queda.
O BCE também deve aumentar as taxas em 0,5 ponto percentual, embora a dependência da Europa em relação ao caro gás natural torne sua situação “completamente diferente” em comparação à dos EUA, segundo Didier Rabattu, chefe de ações da Lombard Odier Investment Management.
Em novembro, a inflação na região do euro caiu pela primeira vez em 17 meses, passando para 10%, em comparação aos 10,6% de outubro, graças a uma desaceleração nos preços das fontes de energia e serviços. Ainda assim, o BCE “não tem mais credibilidade no combate à inflação, porque simplesmente não pode [combatê-la]”, disse Rabattu.
O banco central é incapaz de influenciar os preços da energia e, ao mesmo tempo, está cauteloso em devastar os mercados imobiliário e de empregos com juros mais altos, acrescentou. “O BCE não quer manifestações nas ruas.”
Por sua vez, os investidores estão apostando que o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra optará por aumentar as taxas em 0,5 ponto percentual, em vez de repetir a alta de 0,75 ponto percentual de novembro. O Reino Unido tem a pior projeção de crescimento entre as grandes economias, os preços residenciais estão caindo no maior ritmo desde a crise financeira de 2008 e milhões de trabalhadores do setor público ameaçam entrar em greve em razão dos salários.
“Diferentemente da região do euro, vemos um risco muito maior de a inflação no Reino Unido se enraizar”, disseram analistas do Bank of America, cujas projeções apontam que o Banco da Inglaterra aumentará as taxas para 4,5% até maio de 2023, mesmo se a economia cair em recessão.
O ritmo de crescimento salarial, de 8%, “permanece alto demais”, destacaram os analistas do banco, o que sinaliza “uma inflação interna muito forte [dos preços ao consumidor] até 2024”.
(Colaborou Nicholas Megaw, de Nova York)
Fonte: FT / Valor Econômico

