Por Owen Walker e Cheng Leng, Financial Times — Hong Kong
03/09/2023 17h31 Atualizado há 17 horas
Credores chineses intervieram para conceder bilhões de dólares aos bancos russos, à medida que as instituições ocidentais retiravam as suas operações no país durante o primeiro ano da invasão da Ucrânia.
O movimento dos quatro maiores bancos da China é parte de um esforço de Pequim para promover o yuan como uma alternativa global ao dólar.
A exposição da China ao setor bancário russo quadruplicou nos 14 meses até março deste ano, de acordo com dados analisados pela Escola de Economia de Kiev.
Os credores tomaram o lugar de bancos ocidentais, que ficaram sob forte pressão de reguladores e políticos de seus países para sair da Rússia, enquanto sanções internacionais tornaram os negócios bem mais difíceis.
O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês), Banco da China, Banco de Construção da China e Banco Agrícola da China aumentaram sua exposição conjunta de US$ 2,2 bilhões para US$ 9,7 bilhões nos 14 meses até março, de acordo com dados do Banco Central da Rússia, com o ICBC e o Banco da China representando US$ 8,8 bilhões dos ativos totais.
No mesmo período, o Raiffeisen Bank, da Áustria – banco estrangeiro com maior exposição à Rússia – aumentou seus ativos no país em mais de 40%, de US$ 20,5 bilhões a US$ 29,2 bilhões.
A instituição disse que está procurando formas de sair do país e que reduziu seus ativos a US$ 25,5 bilhões desde março.
Os movimentos dos bancos chineses são ainda parte de uma mudança da própria Rússia para adotar o yuan como reserva cambial, ao invés do dólar ou do euro.
“Os empréstimos de bancos chinesas a bancos russos e instituições de crédito, que são, na maior parte, um caso em que o yuan toma o lugar de dólares e euros, mostram que as sanções estão fazendo o seu trabalho”, disse Andrii Onopriienko, vice-diretor de desenvolvimento da Escola de Economia de Kiev, que compilou os dados.
O aumento das transações em yuan destacam a mudança econômica da Rússia em direção à China, com as negociações entre os dois países atingindo um recorde de US$ 185 bilhões em 2022.
Antes da invasão à Ucrânia, mais de 60% dos pagamentos da Rússia por exportações foram feitas no que as autoridades do país se referem agora como “moedas tóxicas”, como o dólar e o euro, com o yuan representando menos de 1%.
Desde então, as negociações com as moedas “tóxicas” caíram para menos da metade dos pagamentos de exportação, enquanto o yuan representa 16%, segundo dados do banco central da Rússia.
O Raiffeisen é um dos poucos bancos ocidentais que manteve uma presença significativa na Rússia, depois de vários outros credores estrangeiros terem cortado relações e vendido subsidiárias no ano passado.
Mas as reformas introduzidas pelo Kremlin no verão passado tornaram muito mais difícil para os bancos estrangeiros venderem as suas subsidiárias russas. Na sexta-feira (01), o vice-ministro das Finanças da Rússia, Alexei Moiseev, reafirmou a posição do governo de obstruir as vendas de bancos estrangeiros.
Os lucros dos negócios russos da Raiffeisen aumentaram 9,6%, para 867 milhões de euros, nos primeiros seis meses deste ano, com o credor austríaco aumentando os salários do seu pessoal baseado na Rússia em 200 milhões de euros.
O Banco Central Europeu (BCE) está aumentando a pressão sobre os credores que supervisiona, incluindo o Raiffeisen, para que saiam da Rússia.
A Raiffeisen disse que estava tentando encontrar maneiras de vender ou desmembrar seus negócios na Rússia, ao mesmo tempo em que se mantinha em conformidade com as leis e regulamentos locais e internacionais.
“Estamos comprometidos em reduzir ainda mais a atividade empresarial na Rússia enquanto continuamos a progredir nessas transações potenciais”, acrescentou o banco.
No geral, a proporção de ativos bancários russos detidos por credores estrangeiros reduziu de 6,2% para 4,9% nos 14 meses até março.
O ICBC, o Banco da China, o Banco de Construção da China e o Banco Agrícola da China não quiseram comentar.
Fonte: Valor Econômico