Em linha com o cenário amplamente precificado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Essa é a terceira reunião em que a Selic permanece nesse patamar. A decisão foi unânime.
No comunicado da decisão, o Copom voltou a citar o ambiente externo ainda incerto — principalmente por conta da política econômica dos Estados Unidos. Segundo o colegiado, “tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica”.
Assim como também era esperado, o BC mencionou a melhora nas projeções de inflação, mas que ainda assim elas seguem acima da meta estipulada pela autarquia monetária. Ainda falando do comportamento macroeconômico, o Copom apontou positivamente a moderação do crescimento da atividade econômica, mas, como havia sido alertado por diversos agentes do mercado nos últimos dias, o mercado de trabalho ainda mostra sinais de dinamismo.
O que não correspondeu às expectativas do mercado foi o retorno da sinalização de que o Copom “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”. Ou seja: juros acima dos 15% ao ano ainda não estão completamente descartados.
“Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. […] O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Você pode conferir o comunicado completo no site do BC.
Antes da decisão, o consenso do mercado apontava para mais uma manutenção dos níveis atuais de juros no encontro de dezembro. Sem a amenização esperada no tom do comunicado, a projeção deve se manter.
Com o anúncio desta noite, o Brasil segue tendo o segundo maior juros reais do mundo — 9,74%. O primeiro lugar fica com a Turquia e um saldo ex-inflação de 17,80%.
O que pensa o mercado
Segundo os economistas da XP Investimentos, as próximas leituras de inflação e atividade deverão convencer o Copom de que a política monetária restritiva está surtindo efeito, o que poderia levar a um afrouxamento do grau de aperto monetário vigente em 2025.
“A política fiscal expansionista e as incertezas globais podem exercer pressão sobre a demanda doméstica, o déficit em conta corrente e a inflação ao longo de 2026, o que tende a limitar o espaço para o ciclo de corte de juros no próximo ano”. A casa, no entanto, mantém um cenário de seis consecutivos, com o ano terminando com juros de 12% a.a em dezembro de 2026.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, também aponta para as poucas novidades no comunicado e ressalta que o BC já absorveu algumas das projeções mais benignas para o IPCA em seu cenário de longo prazo.
“O risco permanece sendo o impacto da expansão fiscal para o próximo ano, principalmente o reaquecimento da demanda doméstica com o aumento da isenção de IR a partir de janeiro, além de novas iniciativas de gastos fiscais devido ao ano eleitoral”, justifica Vitória.
Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, a alta — e novo recorde — visto na bolsa brasileira nesta quarta-feira (05) já refletiam a expectativa de uma suavização no tom do comunicado. Como ela não veio, a quinta-feira (06) deve ser de ressaca na bolsa.
Fonte: Forbes

