A piora das condições financeiras vista após a decisão dos Estados Unidos de elevar as tarifas comerciais cobradas de outros países aumentou de forma significativa os riscos à estabilidade financeira global e os riscos de queda de crescimento das economias, segundo a avaliação do Fundo Monetário Nacional (FMI).
Para o FMI, as incertezas quanto às políticas econômicas, que continuam elevadas, e alguns indicadores macroeconômicos que têm surpreendido negativamente, podem provocar novas correções nos preços de ativos no mercado financeiro global.
Ainda que a volatilidade dos mercados de ações, câmbio e títulos de dívida tenha aumentado desde o início de abril, quando as novas taxas foram divulgadas, os “valuations” em alguns segmentos-chave do mercado de ações e de títulos corporativos seguem elevados, o que significa que ajustes adicionais de preços poderão ocorrer caso as perspectivas econômicas se deteriorarem, disseram os economistas do FMI na atualização do Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado nesta terça-feira.
Essa queda nos preços dos ativos, explicam, deve impactar sobretudo os mercados emergentes, que já tiveram suas moedas e ações desvalorizadas devido à piora das perspectivas de crescimento e o aumento da probabilidade de saída de capitais.
O FMI ressalta que algumas instituições financeiras podem ficar sob pressão, especialmente aquelas altamente alavancadas. Fora isso, à medida que os fundos hedge e a gestão de ativos cresceram, também aumentaram seus níveis de alavancagem e sua conexão com o setor bancário, de onde tomam empréstimos. Com isso, há um aumento do risco de que intermediários financeiros não-bancários que não sejam bem gerenciados sejam forçados a reduzir sua alavancagem ao enfrentarem chamadas de margem e resgates, o que teria implicações no sistema financeiro como um todo.
Os economistas apontam que toda a turbulência vista nas últimas semanas também pode atingir os mercados de títulos soberanos, especialmente os de países com altos níveis de endividamento. “As economias emergentes, que já enfrentam os maiores custos reais de financiamento em uma década, podem agora precisar refinanciar suas dívidas e financiar os gastos fiscais a custos mais altos”, diz trecho do relatório.
O aumento das incertezas pode afetar também o patrimônio das famílias que alocam recursos no mercado de ações e em fundos de investimento, aponta o FMI. Do lado das companhias, o aumento dos spreads dos títulos de dívida que ocorreu recentemente já reflete as maiores preocupações em torno do impacto de uma eventual desaceleração das economias nos balanços dos próximos trimestres.
Esse avanço dos spreads podem também ter um impacto direto na capacidade das companhias se refinanciarem, considerando o aumento dos custos das operações.
Com os crescentes riscos, o FMI aconselha autoridades econômicas a reforçar a supervisão do sistema financeiro e a se preparar para possíveis crises de liquidez e turbulências nos mercados, especialmente diante da alta alavancagem das instituições e da incerteza geopolítica, garantindo que bancos tenham acesso facilitado às linhas de liquidez dos bancos centrais e que medidas de emergência estejam prontas para conter estresses severos no mercado. Economias emergentes, por sua vez, devem fortalecer suas reservas internacionais e manter espaço fiscal para lidar com choques externos.
Fonte: Valor Econômico

