O ponto mediano para a taxa referencial no Sumário de Projeções Econômicas (SEP) apresentado pelo Fed revelou juros de 5,625% no fim de 2023, o que indica mais uma alta neste trimestre. O SEP aponta que 12 membros do Fomc (o comitê de política monetária) esperam mais um aperto de juros neste ano, e sete participantes acreditam em estabilidade. Porém, houve redução importante para a expectativa de cortes em 2024, de quatro para dois – e foi este o ponto que mais chamou a atenção dos investidores. Cumulativamente, a mediana mostra agora uma redução da taxa de 1,75 ponto percentual entre 2024 e 2025 (0,50 ponto menos do que nas projeções de junho) e de 1,0 ponto em 2026.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que a decisão de manter os juros estáveis não significa necessariamente que o Fed esteja no auge do aumento das taxas para o ciclo atual. “Decidimos manter a política [monetária] e aguardar mais dados”, disse Powell em coletiva após a reunião. “Vimos progressos e saudamos isso, mas queremos ver mais progressos antes de chegarmos a essa conclusão.” Segundo ele, os dirigentes do BC querem ver reequilíbrio contínuo no mercado de trabalho e um progresso contínuo na inflação antes de poderem ser convencidos de que a inflação foi controlada.
O mercado reagiu ao cenário de juros elevados por mais tempo desenhado pelo Fed. Em Wall Street, as bolsas fecharam no vermelho: o Nasdaq perdeu 1,53%, o Dow Jones, 0,22%, e o S&P 500 terminou em baixa de 0,94%. Já os rendimentos dos Treasuries se ajustaram em alta. A taxa da T-note de dois anos subiu de 5,105% para 5,191%, marcando o maior nível desde 2006. E o “yield” do título de dez anos avançou de 4,364% para 4,414%.
A decisão do Fed veio com um viés mais conservador, afirmou o economista-sênior do CIBC, Ali Jeffery. Segundo ele, o fato de as projeções da entidade ainda indicarem uma última alta de juros este ano e a manutenção em patamar elevado por um longo tempo mostra que os dirigentes do BC americano seguem cautelosos.
Powell disse estar satisfeito com a força inesperada do PIB e do mercado de trabalho neste ano. “É uma coisa boa que a economia esteja forte e que tenha sido capaz de resistir ao recente aperto da política [monetária]”, afirmou, acrescentando que um “pouso suave é plausível”, mas “não diria que é o nosso cenário base”. Ele citou como alguns dos possíveis fatores para a resiliência da economia os balanços das famílias e das empresas, que estão mais fortes do que o esperado, e que sustentaram os gastos. “Se a economia for mais forte do que o esperado, isso significa apenas que teremos de fazer mais para voltar para a meta de 2% [de inflação]”, disse, embora desaceleração econômica ou recessão “sejam sempre uma preocupação”.
Houve também revisão mais forte do crescimento do PIB para 2023 e 2024, a 2,1% (de 1,0%) e 1,5% (de 1,1%). Em relação à inflação, a mediana para a inflação subjacente anual (núcleo excluindo alimentos e energia) caiu a 3,7% no quarto trimestre, em comparação com 3,9% no SEP anterior. Já a taxa de desemprego deve cair mais moderadamente em relação ao quadro desenhado em junho. Para este ano, o Fomc agora espera um aumento menor no desemprego, em comparação com as suas projeções anteriores. A taxa de desemprego, que ficou em 3,8% em agosto, subiria para 4,1% em 2024, de 4,5% esperado em junho.
Para Gabriela Santos, estrategista de mercados globais do J.P. Morgan Asset Management, as projeções de inflação do BC americano estão muito altas e os 12 dirigentes que ainda projetam outro aumento de juros – conforme mostrou o gráfico de pontos do Fed – querem apenas manter essa opção para as próximas reuniões. O J.P. Morgan projeta inflação abaixo de 2% nos EUA em meados do ano que vem, enquanto a mediana das previsões dos membros do Fomc mostra uma inflação de 2,5% ao fim do ano.
A principal conclusão desta reunião do Fed é a de que o BC está “batendo na tecla de juros elevados por mais tempo”, segundo Santos. Para ela, essa mensagem já foi incorporada às expectativas do mercado, dada a forte alta das taxas dos Treasuries tanto na ponta curta quanto na ponta longa da curva de juros americana.
Quanto aos cortes de juros a partir do ano que vem, Santos avalia que a postura mais conservadora do BC dos EUA pode fazer com que a redução só comece a partir da segunda metade de 2024. No entanto, ela espera cortes maiores a partir de 2025, mas não a ponto de chegar ao patamar próximo de zero visto durante os anos da pandemia.
Fonte: Valor Econômico

