Por Liane Thedim — Do Rio
20/06/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
O BTG Pactual vê um fluxo maior de investimentos estrangeiros para países emergentes, como Brasil, México e Colômbia, agora que as incertezas globais começam a se dissipar e o dólar dá sinais de estabilização em níveis mais baixos. Segundo Marcelo Santucci, sócio e CIO da área de “portfólio solutions” do banco, a decisão unânime do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) na semana passada de interromper novas altas de juros e, ao mesmo tempo, indicar que a maioria de seus membros espera mais dois aumentos até o fim do ano deu mais segurança de que o ciclo está perto do fim. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento estão mais avançados no processo de convergência da inflação para a meta, mas com um diferencial de juros ainda alto para as nações ricas.
“A alocação de gestores globais para emergentes está em níveis muito baixos e há possibilidade de fluxo à medida que a inflação seja controlada e os cortes [de juros] comecem. Num cenário de dólar americano ‘de lado’, os investidores se sentem mais confortáveis para buscar retornos fora do mercado desenvolvido. O Brasil está surpreendendo com crescimento e juros num nível bem mais alto, o que nos torna elegíveis a receber recursos estrangeiros, saindo de abaixo do neutro para neutro”, diz Santucci.
Para João Scandiuzzi, sócio e estrategista do BTG Pactual, o corte de juros também abre espaço para ganhos em bolsa num ambiente de redução do risco fiscal e crescimento econômico mais resiliente. Completa o quadro a chancela dada na semana passada pela S&P, que melhorou a perspectiva da nota do Brasil pela primeira vez desde 2019 de “estável” para “positiva”. “O mercado já vinha percebendo a melhora na área fiscal. Os estrangeiros vão prestar atenção à capacidade de implementação do arcabouço fiscal, ao aumento das receitas, à taxa de crescimento e ao andamento da reforma tributária”, diz Scandiuzzi.
Os dois executivos acreditam que a briga contra a inflação nos EUA ainda está longe de acabar, por isso, esperam mais duas elevações de 0,25 ponto percentual, o que elevaria os juros do país a até 5,75% ao ano. “A maioria dos membros [do Fed] vê necessidade de mais dois ajustes, ou seja, indicaram que estão próximos do objetivo. A discussão agora é se o aperto foi suficiente”, avalia Scandiuzzi. Por isso, o banco começa a reduzir o grau de cautela nas carteiras, mas mantém a parcela de renda variável abaixo da média. Atualmente, a distribuição do portfólio global das carteiras balanceadas do BTG está com 65% em renda fixa e 35% em renda variável.
“Temos usado mais a renda fixa nos portfólios e estamos começando a alongar a duração, porque o nível dos juros está alto o suficiente para garantir retorno”, explica Santucci. Os vencimentos curtos ficam com títulos privados com grau de investimento (boa avaliação de crédito), e os longos, com os soberanos. “Desde 2020 estávamos rodando com 3,5 anos de duração média. Em setembro de 2022 fomos a cinco e hoje estamos indo em direção ao benchmark de 6,5 anos.” Com o juro corrente em 5% em Treasuries, um papel “high grade” chega a 6% com vencimento em dois ou três anos, diz ele.
“O mercado tem assumido que a inflação vai bem rapidamente em direção ao alvo do Fed, mas a gente acredita que a luta vai ser mais dura e difícil. Vemos uma desinflação mais lenta, convergindo somente em 2025. E o BC tem tentado sinalizar que o juro vai ficar mais alto por mais tempo”, comenta Santucci. Esse descompasso, afirma, levou o banco a explorar papéis ligados à inflação.
Em ações, a opção é por empresas também com grau de investimento, que dominam seus mercados e não precisam de alavancagem alta – ele cita os setores de saúde e serviços essenciais, por exemplo, por terem receita de tarifas. “A bolsa deveria estar caindo por causa da desaceleração da economia, mas a gente vê os índices subindo, mais uma assimetria. Dessa forma, estamos com uma alocação abaixo do alvo”, explica Santucci.
A alta vem sendo puxada pelo setor de tecnologia, alvo de um rali desde o início do ano. Enquanto o S&P 500 fechou maio com alta de 0,25%, apenas três dos 11 setores subiram: além de tecnologia (9%); comunicações, que inclui Google, Meta e Netflix (6%); e consumo discricionário, com Amazon e Tesla (3%). Se considerado o índice com pesos equalizados, o S&P 500 teria caído 3,8% no mês. “Não dá para saber até quando vai o rali, mas os cenários deveriam conversar.” Para o setor, Santucci espera uma rodada de consolidações: “As ‘big techs’ provavelmente vão comprar as boas iniciativas menores. Num cenário de contração, algumas morrem, outras são compradas, e as grandes ficam maiores.”
Completa o cenário mundial a zona do euro um passo atrás dos EUA no ciclo de aperto monetário e uma China em desaceleração. A adoção de medidas de estímulo à economia chinesa, para os dois executivos, será um contraponto ao aperto no mundo desenvolvido ocidental e ajudará no equilíbrio global.
Fonte: Valor Econômico

