Para a indústria farmacêutica, a inovação é como oxigênio: é a partir de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que os principais players avançam, conquistam e mantêm posições relevantes. Líder do setor no ranking do anuário Valor Inovação Brasil 2025, a EMS tem um dos maiores e mais modernos centros de P&D da América Latina, em Hortolândia (SP). Lá, atua uma equipe técnica de mais de 800 pesquisadores — serão mais de 900 até o fim do ano. A farmacêutica também mantém o laboratório Monteresearch na Itália. “Estamos ampliando a equipe em 20% e seguimos trabalhando de forma integrada e estratégica no avanço de soluções farmacêuticas para o Brasil e o mercado internacional”, diz Carlos Alberto Fonseca de Moraes, diretor de P&D e inovação da EMS. Só em 2025, ele prevê aporte superior a R$ 700 milhões em P&D e inovação — cerca de 6% do faturamento da empresa.
O investimento se traduz em novos produtos como a liraglutida, medicamento inovador destinado ao tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2 que, segundo Moraes, é fruto de tecnologia própria e produção nacional. “São os primeiros análogos de GLP-1 produzidos no Brasil e desenvolvidos com tecnologia exclusiva baseada em síntese química de peptídeos, garantindo alto grau de pureza e performance terapêutica.” O lançamento está previsto para agosto, com produção inicial estimada em 200 mil canetas e projeção de mais de 500 mil unidades no primeiro ano de comercialização. Há possibilidade de exportação para mercados estratégicos, incluindo Estados Unidos e Europa.
A EMS tem um pipeline de pesquisas robusto em diferentes frentes de inovação. “Um dos destaques é o lançamento da semaglutida, previsto para 2026, após o término da patente no Brasil”, antecipa Moraes. “Na frente de biotecnologia, os projetos da Bionovis estão em andamento, assim como iniciativas de inovação radical lideradas pelas unidades internacionais da EMS, como a Brace Pharma e a Vero Biotech, nos Estados Unidos”, completa.
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Na Eurofarma, que também está entre as cinco mais inovadoras do setor, os investimentos em P&D em 2024 passaram de R$ 755 milhões — 23% a mais que em 2023, chegando a 7% da receita líquida anual, o que ampliou o portfólio de produtos. Foram 118 lançamentos no Brasil e 298 nos demais mercados em que atua. Da estrutura de inovação fazem parte o Eurolab, parque de inovação farmacêutica com 21 mil metros quadrados, na unidade da Eurofarma em Itapevi (SP), e mais de 750 cientistas, o que permite à empresa manter 400 projetos ativos em seu pipeline de pesquisas, com foco em áreas como antibióticos, obesidade, sistema nervoso central, oncologia e doenças negligenciadas.
O objetivo é ambicioso. “A inovação radical própria é algo sem precedentes na indústria farmacêutica de capital regional”, diz João Siffert, vice-presidente de inovação e P&D da Eurofarma. “Temos dois projetos com possibilidades de entrar em estudos clínicos de fase 1 brevemente.” A aposta passa pelo mercado internacional. “A qualidade e o potencial de internacionalização estão garantidos com a certificação FDA da planta de Itapevi”, afirma Siffert.
Fora dos laboratórios, a Eurofarma também investe na inovação digital. “Apostamos em frentes que ajudam a moldar o futuro da medicina, como saúde digital, terapias avançadas e IA aplicada ao cuidado, por meio de uma cultura de inovação aberta”, diz Rodrigo Pereira, diretor de empreendedorismo e digital da companhia. A farmacêutica tem ainda um fundo de corporate venture com captação de US$ 100 milhões em cinco anos, focado em biotecnologia disruptiva. O objetivo é apoiar startups em fase inicial que atuam em áreas como imunoterapia, genética, IA aplicada ao desenvolvimento de medicamentos e até computação quântica. Cada investimento pode chegar a US$ 5 milhões por empresa e, até o momento, foram realizados sete aportes desde 2023, grande parte deles nos Estados Unidos.
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Para a Roche Farma do Brasil, a inovação garante mais da metade do faturamento da empresa. Só em 2024, ela investiu cerca de R$ 600 milhões em pesquisa clínica no Brasil, 10% a mais que em 2023. Hoje, mais de 40 profissionais se dedicam a trazer estudos globais da companhia para o Brasil, atuando em pesquisa e inovação.
“Esse número cresce quando consideramos os profissionais envolvidos em parcerias com centros de pesquisa, hospitais e startups, formando uma rede colaborativa que contribui para viabilizar soluções inovadoras no país”, explica Lorice Scalise, presidente da Roche Farma do Brasil.
A estratégia da empresa no Brasil passa por investir em soluções que apoiem a descentralização do cuidado, levando tratamentos e diagnósticos para perto de onde os pacientes estão — inclusive em postos de saúde ou em casa. Isso se reflete em projetos como o Amor em Rota, no Hospital de Amor de Barretos (SP). “O projeto reduziu o deslocamento de pacientes com câncer de mama ao hospital, gerando economia de tempo e dinheiro para as famílias e otimizando a infraestrutura hospitalar”, conta Scalise. “A digitalização da saúde com o uso de dados e IA também tem sido essencial para orientar decisões clínicas mais precisas e políticas públicas mais eficazes.”
Com pesquisas que abrangem diversas áreas terapêuticas, a estratégia da Roche Farma envolve a abertura de novos canais de diálogo, para explorar possibilidades em conjunto com parceiros. “Como resultado dessas colaborações, mais de 20 mil pacientes brasileiros tiveram acesso às nossas inovações mais recentes no último ano”, diz Scalise. De acordo com ela, a inovação na Roche não é projeto isolado. “Somos uma organização movida pela ciência. Isso cria uma cultura voltada para antecipar e responder a necessidades médicas não atendidas. Então, o nosso ponto de partida sempre será o paciente.”
Também no time das mais inovadoras, a AbbVie Brasil é filial da americana AbbVie, empresa que em apenas 12 anos se tornou a terceira maior farmacêutica do mundo em valor de mercado. O segredo? Inovação radical. “Esse é o DNA da companhia”, explica Eduardo Tutihashi, gerente-geral da AbbVie no Brasil. Ele conta que a AbbVie era o braço de inovação da Abbott, quando foi desmembrada e, em 2013, se tornou empresa independente e totalmente voltada à produção de medicamentos inovadores. “A estratégia é inovar com tratamentos para doenças não atendidas, ou criando medicamentos mais eficientes e seguros para enfermidades que já têm tratamento disponível.”
Com esse posicionamento, segundo Tutihashi, a AbbVie se afasta de áreas que poderiam ser rentáveis, como a de desenvolvimento de biossimilares. “Não queríamos perder o foco.” Hoje, o principal motor da companhia é a imunologia. Mas os investimentos são crescentes no desenvolvimento de novas drogas voltadas à oncologia e outras especialidades, como dermatologia, gastrologia e reumatologia. Desde 2013, o investimento global da companhia em P&D chegou a US$ 73 bilhões — 18% do faturamento no mundo. “É a maior relação entre investimento e receita no mercado mundial”, diz Tutihashi. No Brasil, a empresa tem uma planta em Guarulhos (SP), focada em oftalmologia, com 1.100 funcionários.
A BlauCotação de Blau Farmacêutica aposta na biotecnologia. Voltada ao mercado institucional e hospitalar, a empresa é uma multinacional brasileira, com presença em seis países da América Latina, na Europa e nos Estados Unidos. Anualmente, a Blau destina uma parcela relevante de sua receita líquida ao fomento de P&D e inovação. Em 2024, o valor ficou perto de R$ 170 milhões. A empresa tem mais de dois mil colaboradores no Brasil. No centro de PD&I trabalham 215 profissionais, incluindo 43 doutores (PhDs).
Marcelo Hahn, CEO da Blau Farmacêutica, explica que a estratégia da empresa passa por buscar soluções sustentáveis para os desafios tecnológicos e produtivos. “Integramos plataformas próprias e IA para antecipar necessidades médicas ainda não atendidas, com ênfase em áreas como oncologia, imunologia, nefrologia, reumatologia e hematologia”, diz. De acordo com Uilberson Silva, diretor de PD&I da Blau, o principal projeto em andamento da empresa envolve um anticorpo monoclonal para tratamento de diferentes tipos de câncer, com um mercado global estimado em US$ 40 bilhões. “Essa iniciativa contribui de forma significativa para a autonomia produtiva do Brasil”, diz.
A Blau tem mais de cem projetos em diferentes estágios de andamento. “Nossos desenvolvimentos incluem desde insumos farmacêuticos ativos (IFAs) biotecnológicos e biossimilares até medicamentos sintéticos complexos. Todos são desenvolvidos internamente, com uso intensivo de IA para análises preditivas, bioinformática, sensores inteligentes e outras tecnologias da indústria 4.0”, conta Uilberson.
Para Hahn, a área farmacêutica e de ciências da vida está passando por uma revolução tecnológica. “Essa transformação tem potencial para reposicionar o Brasil no cenário internacional, desde que apoiada por marcos regulatórios modernos, céleres e alinhados às exigências da inovação.”
Fonte: Valor Econômico