Por Adriana Cotias — De São Paulo
05/09/2022 05h03 Atualizado há 2 horas
O Credit Suisse furou a bolha do seu private banking e passou a oferecer um serviço de gestão de fortunas à moda dos “single” e “multi family offices”, que costumam cuidar do dinheiro das famílias mais endinheiradas de maneira sistêmica, não importa onde esteja a custódia e qual o tipo de bem ou jurisdição. Começou do zero em 2018, tornou-se operacional há dois anos e hoje reúne cerca de 30 grupos familiares com patrimônio a partir de R$ 250 milhões, o que pressupõe pelo menos R$ 7,5 bilhões sob seu guarda-chuva.
Mas o tíquete médio é maior do que isso e dá para dobrar de tamanho, diz, sem abrir as cifras, Ariane Tavares, diretora que lidera o CS Family Office e que veio do Santander há quase quatro anos para estruturar a área. “A vasta maioria do mercado foca no que é liquidez e a proposta foi ir além disso”, afirma a executiva, que tinha engatado modelo semelhante no grupo espanhol. Gestão de ativos imobiliários e serviços de “concierge” integram o atendimento.
Na execução do plano, o CS coloca, por exemplo, sob uma única casca os bens imobiliários, algo que costuma ficar restrito às butiques dedicadas ao setor. “Apesar de ter um patrimônio expressivo em imóveis, a tomada de decisão do cliente não é profissional, é mais caseira”, afirma a executiva. Ao consolidar tudo que é tijolo, o objetivo é trazer uma visão estratégica do portfólio, o que contribui para atribuir valor aos ativos em relação às premissas de mercado, avaliar se estão bem locados, se há necessidade de revisão de contratos ou até auxiliar numa negociação quando os proprietários são abordados por incorporadoras.
No pacote de concierge entram demandas que impactam o patrimônio familiar, a exemplo do cumprimento de obrigações fiscais na alienação de ativos, eventuais compensações tributárias na venda de empresas e a contabilidade de estruturas “offshore”. Mas há também atividades típicas de um assistente pessoal, como a programação de viagens e compras de passagens, a administração de trabalhadores domésticos com o pagamento de funcionários e encargos sociais, controle de férias, renovação de carteiras de habilitação e de seguros.
Ter múltiplas residências, embarcações, aeronaves dá um trabalho danado. A novidade é ter um banco cuidando disso tudo. O CS Family Office tem um parceiro nessa área, mas Tavares diz que não pode abrir qual é o prestador por se tratar de “segredo estratégico”.
Quando desenhou o negócio, a decisão foi fazer o credenciamento como gestor de patrimônio, um dos poucos no mercado que atuam sob esse modelo e o único family office dentro de um banco, diz Tavares. “Significa ser reconhecido como asset, fazer a gestão independentemente de onde esteja o recurso. É como se fosse um fundo exclusivo que investe no mercado inteiro, inclusive lá fora, leva para uma escala superior, temos famílias que não têm nenhum recurso investido no CS no Brasil ou no exterior. E só terão no CS se tiver a melhor condição para a família.”
Na parcela líquida dos investimentos, o “feijão com arroz” dos serviços de gestão de riqueza, a administração dos recursos também não é trivial. Com mudanças tributárias sempre à espreita para abocanhar uma fatia maior de imposto de renda dos grandes patrimônios, o veículo também importa.
Nos últimos anos, por mais de uma ocasião, o Legislativo discutiu a taxação de grandes fortunas e medidas como a extensão para os fundos fechados familiares do “come-cotas”, o imposto semestral que morde um pedaço do ganho do investidor antes mesmo do resgate em fundos abertos de renda fixa e multimercados.
O veículo fechado, além de permitir o diferimento tributário – com o pagamento de imposto apenas nas amortizações anuais -, é uma forma eficaz para o planejamento sucessório, diz Tavares. Então é preciso estudar caso a caso o que vale fazer antecipadamente para acomodar eventuais alterações regulatórias. Para o dinheiro novo, vindo de algum evento de liquidez, é mais fácil planejar de acordo com os possíveis cenários. Mas, para o legado, é um desafio.
A exemplo de outros serviços de fortunas, o family office do CS tem feito, por exemplo, a cisão de ativos, acomodando a parcela de bolsa num fundo de ações, que não tem come-cotas e a tributação menor, de 15%, não depende do prazo. Na renda fixa, tem criado fundos exclusivos de debêntures de infraestrutura, agrupando ativos com isenção tributária. A regulação prevê um prazo de seis meses para ter 67% do patrimônio nesses papéis e até dois anos para alcançar 85%. No meio do caminho e na parcela remanescente, é possível ter títulos públicos ou bancários, sem desenquadrar o veículo da isenção.
Fonte: Valor Econômico

