Com os Estados Unidos mostrando interesse nas chamadas terras raras brasileiras, o governo Lula cobrou nesta quinta-feira (24) que os americanos voltem à mesa de negociação para que seja construída uma alternativa à tarifa anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou em público a estratégia, orientando que os empresários recorram à Justiça americana para tentar mitigar os efeitos da decisão unilateral. Também revelou que o plano de contingência a ser levado para a mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá “propostas de todo tipo”, inclusive uma linha de crédito.
Segundo Haddad, mais de 10 mil empresas brasileiras poderão ser prejudicadas com o tarifaço. Trump decidiu aplicar, a partir de 1º de agosto, uma tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros. O governo Lula vem tentando negociar essa tarifa, inclusive trabalhando de forma indireta por meio de contatos no meio político e empresarial a fim de que Trump seja sensibilizado, mas tem conseguido poucas respostas da Casa Branca.
Diante desse cenário, o governo começou a preparar um plano para ajudar as empresas brasileiras que serão afetadas. Haddad disse que um “cardápio de medidas” está pronto e será apresentado na próxima semana a Lula, a quem caberá escolher quais propostas serão adotadas e o alcance delas.
“Isso é uma decisão política que necessariamente vai caber a ele, pela sensibilidade do tema e pela importância do tema”, afirmou Haddad em entrevista à rádio Itatiaia. Ele não quis antecipar detalhes das alternativas, mas confirmou que incluem uma linha de crédito e medidas “permitidas pela lei internacional”.
Sobre as investigações dos Estados Unidos contra o Pix, Haddad afirmou que um possível interesse por trás dos Estados Unidos é “dinheiro”.
“Hoje o Pix está sendo aceito em países europeus, está sendo aceito nos Estados Unidos, na Argentina, sem custo para esses países. A quem que isso está prejudicando? Está prejudicando quem ganha dinheiro com transação financeira”, disse.
Já Lula disse ontem que Trump não quer negociar uma saída para o tarifaço. Na avaliação do presidente brasileiro, caso Trump quisesse realmente resolver a disputa, já teria telefonado, o que não aconteceu.
“Eu não sou bom mineiro, mas eu sou bom de truco. Se ele estiver trucando, ele vai tomar um seis [quando um jogador dobra a aposta contra o adversário]. O Brasil está acostumado a negociar”, disse em evento em Minas Gerais.
Lula também pediu que o governo americano respeite o povo brasileiro e que Trump diga “qual o problema dele” com o Brasil, mas disse que não levará “desaforo”, prometendo retaliação. “Se os Estados Unidos quiserem negociar, o Lula está pronto para negociar, mas desaforo só da Dona Lindu”, emendou, em referência à própria mãe, e dando a entender que os americanos estão incomodados com o Brasil por conta de dois aspectos: a regulação das redes sociais e o Pix.
Em seu discurso, Lula também mencionou o interesse dos EUA em relação aos minerais estratégicos do Brasil.
“Nós temos 12% da água doce do mundo para proteger. Nós temos 215 milhões de pessoas para proteger. Nós temos todo o nosso petróleo para proteger. Nós temos todo o nosso ouro para proteger. Nós temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, disse.
A declaração foi uma referência à notícia de que o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília afirmara a representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) que os Estados Unidos estão interessado em realizar acordos com o governo brasileiro para a aquisição dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras. Em resposta, ele teria ouvido que qualquer negociação nesse sentido precisa ser definida e conduzida pelo governo brasileiro, e não pelo empresariado do setor.
A concorrência pela exploração desses minerais estratégicos, fundamentais para o desenvolvimento tecnológico de diversos setores e para a transição energética, é um dos fatores que estão no centro das tensões entre Estados Unidos e China. Esses minerais são usados, por exemplo, para nas áreas de defesa, comunicações e energia.
Já o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, disse ter uma “pauta muito longa a ser explorada e avançada” na esteira da negociação. A afirmação foi feita ao ser questionado especificamente sobre o interesse americano nos minerais críticos. “Você tem inúmeras áreas”, disse, citando conversas com diversos setores que teve nos últimos dias, entre eles o de mineração. Alckmin também conversou no último sábado (19) com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. De acordo com o vice-presidente, a conversa foi boa, durou cerca de 50 minutos e, nela, foi reiterada a abertura do Brasil em negociar com os Estados Unidos.
Fonte: Valor Econômico
