Por Dow Jones — Nova York
08/03/2023 12h00 Atualizado há 22 horas
Novas duras críticas da China aos Estados Unidos demonstram como as relações entre as duas maiores potências do mundo se tornaram instáveis.
Apenas algumas semanas atrás, a China e os EUA estavam prontos para estreitar relações, em algo semelhante a um “cessar-fogo diplomático”. O enviado do presidente americano, Joe Biden, à Pequim deveria elaborar uma possível estrutura para diálogos de alto escalão entre os governos e estabilizar as relações após anos de tensões.
Então, um suposto balão de vigilância chinês foi detectado invadindo o espaço aéreo da América do Norte, lançando novas dúvidas entre as nações. A viagem de reconciliação foi adiada e as relações entre as duas potências mergulharam em uma espiral de recriminações e tensões.
Nesta semana, o presidente da China, Xi Jinping, e o ministro das Relações Exteriores do país, Qin Gang, acusaram Washington de tentar atrapalhar o desenvolvimento da China, o que pode levar os dois países ao conflito.
“Tudo o que o outro lado faz é visto como negativo e feito com más intenções”, disse Suisheng Zhao, especialista em política externa da China na Universidade de Denver. “É uma mentalidade da Guerra Fria”.
A China, acusou Xi, enfrenta “contenção, cerco e repressão total” de nações ocidentais aliadas aos EUA.
Na terça-feira, Qin Gang, fez um alerta de que, a menos que os EUA mudem de estratégia em relação à China, “certamente haverá conflito e confronto”.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, quando questionado sobre a retórica de Pequim, disse que a política do governo Biden permanece inalterada e que os EUA buscam competição com a China, não conflito.
A nova escalada de animosidade entre EUA e China mostra as dificuldades em restringir as tensões. O governo Biden manteve as tarifas comerciais impostas por Donald Trump, aprimorou os controles sobre as exportações de semicondutores avançados e reuniu aliados e outros países para combater a influência da China em todo o mundo.
Pequim se aproximou de Moscou, inclusive durante a guerra contra a Ucrânia, e intensificou as provocações militares contra Taiwan.
O Congresso americano ajudou no aumento das tensões. O presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, disse na terça-feira que se encontrará com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, quando ela viajar aos EUA neste ano. Pequim quer isolar Taiwan e forçar a ilha a se unificar com a China. A predecessora de McCarthy, a democrata californiana Nancy Pelosi, enfureceu Pequim no verão passado ao visitar Taiwan.
Por anos, Xi tem soado cada vez mais sombrio nas avaliações pessoais sobre as relações internacionais, embora até esta semana ele tivesse evitado criticar os EUA nominalmente. Agora, no final de vários meses de negociações internas no Partido Comunista, Xi solidificou a posição como líder supremo da China.
Os comentários sobre o “cerco” contra a China mostram um Xi “livre” da temporada de negociações políticas e ecoam uma longa tradição de membros do Partido Comunista de posicionar a China como uma vítima, disse Michael Auslin, historiador da Hoover Institution da Universidade de Stanford.
No episódio do balão, os EUA rapidamente rejeitaram a alegação da China de que era um dispositivo inofensivo de monitoramento do clima e explodiram o que disseram ser uma nave espiã com um míssil Sidewinder. Por trás da nova rodada de acusações que se seguiram estão as preocupações de ambos os lados de que os países permaneçam na trajetória de um conflito armado real.
Após o incidente do balão, os EUA adiaram a visita a Pequim do secretário de Estado, Antony Blinken, após ambos os lados terem dados sinais de que buscavam reabrir os canais de comunicação, que se estreitaram durante o governo Trump e depois entraram em colapso durante a pandemia de covid-19 e as tensões com Taiwan.
Em vez do diálogo entre os países, o principal enviado estrangeiro da China e conselheiro de Estado, Wang Yi, viajou pela Europa e falou mal dos EUA em cada parada. Washington respondeu rejeitando um documento que detalha uma proposta de paz da China para a guerra da Ucrânia
Blinken também alertou publicamente Pequim para não se envolver no conflito na Ucrânia, dizendo que os EUA tinham informações de que a China estava considerando fornecer ajuda militar à Rússia, como drones e armamentos.
Grande parte da retórica de ambos os governos parece destinada aos públicos internos.
Xi fez os comentários contra os EUA em um órgão legislativo repleto de líderes empresariais politicamente conectados que estão enfrentando as piores perspectivas econômicas em 25 anos, como uma expansão de apenas 5% no produto interno bruto.
Para os EUA, a incursão do balão mostrou uma ousadia da China que exigiu resposta dura e serviu como um catalisador para os republicanos do Congresso exigirem de Biden uma postura mais intransigente em relação a Pequim.
Fonte: Valor Econômico

