Excesso de exames para detecção tem levado a alto índice de tratamentos agressivos; no Brasil, o problema ainda é o diagnóstico tardio da doença
- O Estado de S. Paulo.
- 11 May 2023
- GIOVANNA CASTRO
A comunidade médica dos Estados Unidos está preocupada com o excesso de exames para detecção de câncer de próstata em homens em idade avançada e o consequente alto índice de tratamento agressivo nesta faixa etária, mesmo em quadros de baixo risco. Em 2010, cerca de 90% dos norte-americanos com câncer de próstata de baixo risco foram submetidos a cirurgias imediatas para remover a próstata ou receberam tratamento com radiação, segundo dados da Associação Americana de Urologia.
De acordo com o The New York Times, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos e do Colégio Americano de Médicos divulgou um novo conjunto de diretrizes que não recomenda a triagem de rotina contra o câncer de próstata para homens com mais de 69 ou 70 anos – ou para homens com menos de 10 a 15 anos de expectativa de vida.
De acordo com os especialistas, o diagnóstico da doença tende a ser seguido instantaneamente por um tratamento, desconsiderando que nesta faixa etária a maioria dos tumores não corre risco de se espalhar e/ou causar sintomas incômodos antes que o paciente vá a óbito por qualquer outro motivo. Eles defendem que o tratamento do câncer nessa idade – por cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia – pode causar mais danos do que manter o tumor.
E NO BRASIL?
Segundo o urologista do Centro de Oncologia e Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Bruno Benigno, o cenário norte-americano é diferente do brasileiro. “Lá, há um excesso de exames e diagnósticos, mas aqui, a maioria dos homens descobre a doença em estágio avançado, então precisamos reforçar a comunicação em relação aos exames de triagem e não o contrário”, afirma.
Nos Estados Unidos, entre 2014 e 2021, a proporção de homens com baixo risco de câncer de próstata que escolheram fazer uma vigilância ativa, com exames de rastreio a cada três ou seis meses, aumentou de cerca de 27% para quase 60%. Já no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 20% dos casos da doença já são diagnosticados em estágio avançado, por causa da baixa adesão aos exames periódicos.
O Inca diz ainda que o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre a população masculina brasileira e representa 29% dos diagnósticos da doença no País. Em
2022, 16.055 homens morreram em consequência da doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia, conforme os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Para mudar esse cenário, Benigno defende que é preciso reforçar as campanhas de prevenção e aprimorar os métodos de análise em relação ao quadro clínico dos pacientes para determinar com mais precisão quando o tratamento é ou não vantajoso.
AFINAL, QUANDO FAZER EXAMES DE PRÓSTATA?
A Sociedade Brasileira de Urologia segue a Sociedade Americana de Urologia, que indica que os exames devem começar a serem feitos aos 45 anos para todos os homens e aos 40 para os de grupo de risco.
Segundo Marcelo Wroclawski, presidente da Sociedade, o momento de parar é quando o homem tem entre 5 e 10 anos de expectativa de vida – cálculo que deve ser feito pelo médico, a partir do estilo de vida e quadro geral de saúde do paciente.
Wroclawski diz que a escolha por interromper o rastreio quando o paciente tem idade avançada se dá tanto pelo entendimento de que não há tantos benefícios em tratar o tumor nessa faixa etária quanto pelos riscos das biópsias. Um dos principais métodos de detecção do câncer de próstata, as biópsias são invasivas e conferem risco de infecção e sangramentos, apesar de alguns centros já oferecerem métodos mais seguros.
QUAIS SÃO OS EXAMES QUE DETECTAM O CÂNCER DE PRÓSTATA?
Os exames de toque retal e de sangue com coleta de antígeno prostático específico (PSA) são os principais na hora de levantar suspeita de câncer de próstata. A partir da suspeita, podem ser feitas biópsias e/ou exames de imagem, como tomografias, para confirmar o diagnóstico da doença.
QUANDO VALE OU NÃO A PENA TRATAR?
Segundo Benigno, a escolha sobre tratar ou não o câncer de próstata deve ser tomada pelo médico, ao lado do paciente e de sua família, após analise individual do caso. “O paciente e a família precisam entender os riscos tanto do tratamento quanto de um possível avanço do tumor”, afirma o especialista.
Se a expectativa de vida do paciente é inferior a dez anos e o tumor não aparenta ser agressivo, não tratar pode ser melhor no sentido de garantir a melhor qualidade de vida a esse paciente em seu fim de vida. Já se o paciente idoso tem ótimas condições de saúde e o tumor tem risco de avançar rapidamente, o tratamento pode garantir mais anos de vida. •
Principal recomendação Se a expectativa de vida do paciente é inferior a dez anos, médico e família devem rever procedimento
Fonte: O Estado de S. Paulo