Por Victor Rezende e Gabriel Roca — De São Paulo
12/08/2022 05h04 Atualizado há 4 horas
Bastou um sinal mais claro de que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim para que os juros de longo prazo desabassem. A busca por títulos públicos se intensificou e levou o Tesouro Nacional a realizar ontem o maior leilão de papéis prefixados do ano, em um movimento que coincide com um aumento do otimismo do investidor estrangeiro com os ativos brasileiros. O cenário ainda demanda cautela diante da proximidade das eleições, mas o nível elevado dos juros no Brasil na comparação com outros emergentes e países desenvolvidos tem predominado na leitura de agentes do mercado.
Os estrangeiros costumam demandar, em especial, títulos prefixados de longo prazo. E, com os juros brasileiros em níveis elevados ao longo de toda a curva, a sinalização de fim de ciclo de aperto emitida pelo Banco Central gerou um forte rali nos mercados. A taxa da NTN-F com vencimento em janeiro de 2029 se afastou ainda mais da casa dos 13% e chegou a 12,02% no início desta semana.
Nesse contexto, o Tesouro realizou ontem o maior leilão de prefixados do ano, ao ofertar 16,5 milhões de LTNs e 2 milhões de NTN-Fs e vender o lote integral, na medida em que a demanda pelos títulos públicos brasileiros tem aumentado desde a última semana.
A recomendação da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, para títulos de países emergentes está em “overweight” (desempenho acima da média do mercado). E, de acordo com Axel Christensen, diretor de estratégia de investimentos da gestora para América Latina, a visão da casa para a dívida brasileira em moeda local é bastante positiva.
“Os títulos do Brasil têm oferecido rendimentos elevados para os investidores estrangeiros. Se você olhar para os ‘bonds’ em moeda local, em especial os títulos intermediários e de longo prazo, os juros reais são muito atrativos, o que continua sendo difícil de encontrar no restante do mundo”, afirma o estrategista da BlackRock.
Além disso, segundo Christensen, do ponto de vista do câmbio, ainda que os Estados Unidos tenham embarcado em um processo de aperto monetário recentemente, moedas como o real e o peso mexicano têm se comportado bem, o que ele classifica como positivo para a estratégia da gestora.
O executivo da BlackRock também afirma que a gestora tem monitorado de perto os números da inflação e da atividade econômica local. “Devemos começar a procurar sinais de que o Banco Central do Brasil pode começar a entrar em um ciclo de cortes de juros para enfrentar o enfraquecimento da economia. Isso poderia ser um gatilho para aumentarmos o nível de exposição”, afirma Christensen. Ele, contudo, pondera que esse cenário ainda pode demorar alguns meses para ganhar corpo.
Na visão dos estrategistas Saad Siddiqui e Gisela Brant, do J.P. Morgan, o Brasil oferece a melhor história em termos de fundamentos para aproveitar o atual cenário global. Assim, ontem o banco americano abriu posição aplicada (que aposta na queda das taxas) no DI para janeiro de 2026, “justificada pela perspectiva de atividade econômica mais lenta, surpresas negativas na inflação, ‘valuations’ atraentes e juros reais altos”. O J.P. também passou a adotar uma recomendação “overweight” para os títulos públicos em moeda local do Brasil no portfólio de mercados emergentes (GBI-EM) da casa.
A gestora Joana Freire, da Eurizon SLJ Capital, mantém o viés construtivo com os ativos brasileiros, que já é sustentado pela casa há algum tempo. “E os últimos eventos globais encorajaram ainda mais esse posicionamento, já que os bancos centrais emergentes agiram bastante no ano passado e estão bem à frente do Federal Reserve. O Brasil é o líder nesse aspecto por estar em uma posição invejável em termos de juros”, enfatiza.
De acordo com ela, participantes do mercado têm olhado para do Brasil devido ao diferencial de juros expressivo tanto em relação a outros emergentes quanto na comparação com mercados desenvolvidos. “Tanto que, assim que foram vistos sinais de pico da inflação, começamos a ver taxas cederem. Todo mundo começou a entrar porque o ‘carry’ chama atenção.”
Assim, para a Eurizon, o Brasil tem sido, já há alguns meses, um dos mercados mais interessantes para investimento. “O Brasil é um dos mercados em que estamos mais construtivos devido ao prêmio, que está alto tanto em relação aos emergentes em geral quanto na comparação com os emergentes ‘high yield’ ”, observa Freire.
A gestora canadense Manulife Investment Management também tem adotado visão positiva para a renda fixa brasileira, ao observar, em especial, o fim do ciclo de aperto monetário e o alívio recente nos preços das commodities.
“Esse ambiente tem favorecido a renda fixa brasileira em todo o espectro de classes de ativos. O Brasil tem sido uma de nossas expressões preferidas de avaliação favorável e isso não se dá somente nos títulos públicos em moeda local, mas também na dívida soberana em moeda forte e no câmbio local”, avalia Elina Theodorakopoulou, gestora de portfólio da Manulife.
Ela, inclusive, enfatiza que a Manulife acompanha de perto os desenvolvimentos políticos brasileiros, na medida em que as eleições se aproximam, o que pode aumentar a volatilidade nos ativos. “Os programas econômicos a serem adotados em uma era pós-eleitoral determinarão o caminho dos ativos brasileiros, com algum prêmio político atrelado a eles na preparação para as eleições. O aspecto de sustentabilidade das agendas propostas e implementadas também será de grande importância”, diz.
Fonte: Valor Econômico

