Principal discordância é quanto à faixa etária mais adequada para começar a imunização
Por Luiz Fernando Figliagi, Valor — São Paulo
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2019/U/1/huaqwQSVKP23vvGGSXRg/dengue18.jpg)
Com o aumento no número de casos da dengue no Brasil, especialistas da área de saúde ainda divergem sobre a melhor estratégia para a vacinação contra a doença no Brasil. A principal discordância é quanto à faixa etária que deve ser atendida prioritariamente.
A estratégia do Ministério da Saúde é priorizar a vacinação de crianças de 10 a 14 anos em 2024 com o argumento de que é o grupo que tem sofrido mais com as hospitalizações.
Marcelo Daher, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), discorda desse esquema de imunização e sugere outro caminho . “Não teremos respostas rápidas com essa vacinação e o público é de difícil acesso”, comenta. “Eu faria diferente, usaria a vacina [primeiro] em pessoas de 50 a 60 anos.”
O presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, explica que a recomendação para as crianças iniciarem a campanha recebendo o imunizante segue orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). “É onde houve mais efetividade e eficácia da vacina nos estudos clínicos e onde há uma substancial carga da doença em termos de hospitalização”, diz.
O que deve ser o foco do sistema é a preparação dos serviços e dos profissionais de saúde para lidar com esse aumento de casos”, afirma o médico André Siqueira, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). “O que vai definir a chance de um caso de dengue evoluir bem ou mal, é o quão bem ele é atendido.”
O Ministério da Saúde foi procurado para responder às críticas quanto ao sistema de vacinação, mas não respondeu até a publicação dessa reportagem.
De acordo com o ministério, 12 mil profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros, foram qualificados para atuar em situações clínicas, de vigilância e controle da doença.
Os especialistas também destacam a importância das medidas de prevenção à medida que o Ministério da Saúde também aumentou os estoques de inseticidas e outros produtos químicos para que as autoridades locais apliquem nas ruas das cidades.
Segundo Daher, o esforço é necessário diante da mudança climática, que tem aumentado o calor e intensificado as chuvas, elementos que ajudam o mosquito da dengue a se proliferar. “O clima está propício para o aumento dos casos. Muito calor e chuvas esparsas”, diz. Ele recomenda os cuidados básicos para evitar focos de proliferação de mosquitos e o uso de repelente durante todo o verão.
Segundo o Ministério da Saúde, 74,8% dos criadouros do mosquito da dengue estão nos domicílios como em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral, pequenas fontes ornamentais e materiais em depósitos de construção.
O Ministério da Saúde lançou campanhas de mobilização social direcionadas para as diferentes regiões do país. Foram separadas as 37 regiões de saúde do território nacional que vão participar da vacinação para atingir o público alvo de 10 a 14 anos.
As regiões Norte e Sudeste têm a maior quantidade de casos nessa faixa etária, enquanto no Nordeste a taxa de contaminação da doença é mais evidente entre o público de 5 a 9 anos. No Centro-Oeste as faixas entre 35 a 39 anos, 40 a 44 e 50 a 54 anos são as mais atingidas. No Sul, o grupo de 25 a 29 anos apresenta mais casos de dengue.
Parte das vacinas adquiridas chegaram em janeiro e a aplicação das doses da Qdenga, fabricada pela japonesa Takeda Pharma, terá início este mês. .
Em janeiro foram 217 mil casos prováveis da doença — o triplo em relação a janeiro de 2023. Em número de mortes confirmadas, já são 15 mortes neste início de ano, contra 41 em todo o ano passado.
Há ainda um alerta a respeito do aumento de casos de dengue e Chikungunya no território nacional emitido pelo Ministério em novembro. Segundo a pasta, Estados e municípios receberam R$ 256 milhões para aplicar medidas de prevenção e controle.
Fonte: Valor Econômico