Por Marcos de Moura e Souza — De São Paulo
11/05/2023 05h00 Atualizado há 4 horas
Depois de ter sofrido mais uma derrota em um processo que poderá levá-lo ao impeachment, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, mantém o país em suspense sobre seus próximos passos.
Um caminho seria apostar na capacidade de mobilização de sua base para impedir que a oposição consiga votos suficientes para destituí-lo.
Outro caminho, previsto pela legislação do país, seria mais radical, a chamada “morte cruzada”. Lasso dissolveria a Assembleia Legislativa, convocaria eleições e, até que o país escolhesse outro presidente e novos deputados, ele governaria com poderes ampliados, sem o Legislativo. Apesar da incerteza, analistas não veem no Equador uma repetição do caos visto no Peru no fim de 2022.
“Tudo aqui está em compasso de espera até que essa situação política decante”, diz Walter Spurrier, veterano analista político e econômico do Equador.
Para Spurrier, o cenário mais provável é que Lasso, mesmo impopular, consiga sobreviver ao impeachment. Mas ele lembra que a possibilidade de dissolução do parlamento segue na mesa.
“Todos os cenários são muito ruins para a economia, para a estabilidade política e para a estabilidade democrática”, define o cientista político Simón Pachano, professor da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso).
Os dois analistas, no entanto, dizem que uma eventual dissolução da Assembleia e novas eleições para Legislativo e Executivo poderiam não ter um efeito tão traumático para o país.
No fim do ano passado, essa receita gerou caos no Peru. Acossado por um processo de impeachment, o então presidente peruano Pedro Castillo tentou se antecipar ao voto dos deputados e dissolveu o Congresso e decretou estado de emergência. Mesmo dissolvido, o Congresso aprovou a destituição do presidente. Houve confrontos e mortes nas ruas. A vice Dina Boluarte assumiu a Presidência.
No Equador, no entanto, a dissolução do Congresso e a antecipação de eleições estão nas regras do jogo. “Lasso poderia aproveitar esse período [em que governaria por decreto, sem o Congresso] para aprovar reformas necessárias para economia e que estão represadas porque a oposição não deixa aprovar nada”, disse Spurrier.
Pachano diz que entre os cenários no cardápio político equatoriano esse seria o menos pior. “As consequências, possivelmente, seriam menos graves do que as consequências dos outros cenários.”
Os outros cenários seriam a aprovação do impeachment e a ascensão do vice-presidente, um médico sem vivência na política e sem grupo político que compôs a chapa com Lasso num momento em que o país vivia o drama da pandemia e aprovou um profissional da saúde ao lado do presidente.
Um segundo cenário com impeachment: um movimento que afastaria o atual vice e abriria caminho para o presidente da Assembleia, Virgilio Saquicela, assumir o comando do país, o que também é visto com bastante relutância, segundo Pachano e Spurrier. Pachano ainda avalia que se Lasso sobreviver, seu governo não teria força para fazer grandes mudanças. Sem impeachment, seu mandato segue até 2025.
Na terça-feira, deputados aprovaram o avanço da tramitação do processo de afastamento. Lasso é acusado por adversário de malversação de recursos públicos. Ele nega irregularidades. Analistas veem por trás do processo uma tentativa de retomada do poder do grupo do ex-presidente de Rafael Correa, condenado a oito anos de prisão por corrupção. Correa deixou o país e não cumpre pena. No ano passado, recebeu do governo da Bélgica status de refugiado.
Fonte: Valor Econômico

