Por Stella Yifan Xie — Dow Jones Newswire, de Hong Kong
28/11/2022 05h01 Atualizado
As recentes medidas da China para flexibilizar as restrições ligadas à covid-19 e reavivar a atividade do combalido mercado imobiliário suscitaram a esperança de que o líder chinês, Xi Jinping, esteja colocando uma nova ênfase no apoio à economia, o que poderia levar a uma recuperação mais forte do crescimento no próximo ano.
Mas economistas alertam que as medidas tomadas até agora não se traduziram numa ampla mudança nas políticas de Xi, e o recente Congresso do Partido Comunista reforçou que o líder chinês quer manter seus objetivos de alcançar a autossuficiência económica e a “prosperidade comum”, mesmo à custa de um crescimento menor.
Espera-se que a economia da China se recupere um pouco em 2023, após a grande freada deste ano. Mas a maioria dos economistas duvida de uma volta à expansão forte do pré-pandemia.
No curto prazo, a demanda por produtos chineses está caindo no Ocidente, à medida que os consumidores cortam gastos. Além disso, algumas cidades chinesas estão restaurando medidas rigorosas de restrição com o aumento dos casos de covid, o que sugere que o caminho da China para conviver com o vírus será acidentado. E a venda de casas, que está fraca há meses, continua caindo, apesar dos cortes nas taxas de financiamento e de outras medidas para reavivar a confiança.
No longo prazo, a China enfrenta outros desafios, incluindo o envelhecimento da população, elevados níveis de endividamento e pressão dos EUA, que tenta restringir o acesso chinês a semicondutores e outras tecnologias.
Com isso, “acreditamos que o crescimento potencial da China será significativamente inferior ao que se pensava antes”, escreveram economistas da Goldman Sachs numa nota recente aos clientes.
Embora digam que a economia da China vá se recuperar um pouco na segunda metade de 2023, à medida que mais restrições da covid forem sendo levantadas, eles preveem um crescimento de apenas cerca de 4% – bem abaixo do nível pré-pandemia, que foi em média de 8,6% nos dez anos até 2019.
Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia-Pacífico na S&P Global Ratings, prevê crescimento médio anual de 4,4% até 2030, caindo para 3,1% na década seguinte. Ele cita os ventos contrários, incluindo a queda da população economicamente ativa e tensões geopolíticas.
Xi parece ansioso para evitar que a crise na China se agrave demais, dizem economistas. Mas ele não parece querer adotar novas medidas, depois de alertar repetidamente nos últimos anos que um crescimento demasiado forte poderia exacerbar os desequilíbrios financeiros na economia e aumentar o fosso entre ricos e pobres.
No recente congresso do Partido Comunista da China, Xi priorizou na agenda econômica a autossuficiência em alimentos, energia e bens de alta tecnologia; a redução da dívida; e a redistribuição da riqueza, num programa conhecido como “prosperidade comum”.
Economistas dizem que esses objetivos, embora potencialmente úteis para a China, podem prejudicar a produtividade, desencorajar o investimento privado e reduzir o crescimento do emprego.
A repressão do governo às empresas privadas de internet no ano passado, impulsionada em parte pelo desejo de reduzir a acumulação de riqueza no setor tecnológico, levou a perda de empregos, o que ajudou a empurrar o desemprego urbano entre jovens da China para quase 20% neste ano. Também gerou corte de investimentos.
Na terça-feira, a JD.com, uma das maiores plataformas de comércio eletrônico da China, disse que quer cortar o salário de cerca de 2.000 gestores, em 10% a 20%, para ajudar a melhorar os benefícios aos trabalhadores, em linha com “prosperidade comum” de Xi.
As medidas de Pequim para flexibilizar algumas restrições da covid e socorrer as incorporadoras podem ajudar a evitar que a economia da China caia mais, mas o seu efeito deve ser limitado ou pode até piorar a situação no curto prazo, se a covid continuar a se espalhar. Espera-se que o país cresça cerca de 3% neste ano, abaixo da meta oficial de cerca de 5,5%.
O governo disse neste mês que iria afrouxar as regras de quarentena e abrir mais o país a visitantes estrangeiros, para limitar o dano económico causado “pela abordagem de tolerância zero da pandemia”. O governo anunciou ainda 16 passos para apoiar o mercado imobiliário, incluindo o incentivo a bancos para darem empréstimos a construtoras em dificuldades.
Isso indica o reconhecimento tácito de que as “políticas muito rígidas talvez tenham levado a prejuízos desnecessários para a economia”, disse Kuijs, da S&P Global Ratings. Contudo, não sugerem uma completa inversão das prioridades de Xi na economia, disse.
A alta da covid, porém, minou a flexibilização, com mais de 80 cidades cambatendo novos surtos, o que vem afetando regiões que geram metade do PIB da China, segundo a Capital Economics.
Duas das maiores cidades da China, Guangzhou e Chongqing, com população total de cerca de 50 milhões, impuseram lockdown generalizado. Na última semana, trabalhadores entraram em choque com a polícia na megafábrica do Foxconn na cidade de Zhengzhou, em meio a restrições mais rigorosas contra a covid, que ameaçam interromper a produção.
Nesse fim-de-semana houve em Xangai e outras grandes cidades chinesas contra os lockdowns.
“Os investidores aplaudiram a dinâmica de uma eventual reabertura, mas estão possivelmente ignorando os riscos financeiros e económicos do caminho para chegar lá”, disse Michael Hirson, diretor de pesquisa sobre China na 22V Research, de Nova York.
Incertezas ainda pairam no setor imobiliário, que contribui com cerca de um quarto da atividade económica total da China. O excesso de imóveis vagos agrava o problema. Rosealea Yao, analista da consultoria Gavekal Dragonomics, estima que serão necessários cerca de 20 meses para que a China venda o seu estoque de habitações não vendidas, que está em mais de 2,2 bilhões de metros quadrados.
Questões estruturais, como a demografia desfavorável e tensões com os EUA, vão pesar mais na economia, dizem analistas. A população economicamente ativa da China, que atingiu o pico por volta de 2014, deverá cair 0,2% ao ano até 2030, diz a S&P Global Ratings.
Xi parece admitir que a China não voltará ao crescimento rápido. Há dois anos ele falou em dobrar a economia chinesa até 2035, o que exigiria expansão de quase 5% ao ano. Em outubro, porém, ele abandonou essa meta e falou em atingir o patamar de “um país desenvolvido de nível médio” até 2035, o que exigirá crescer cerca de 3,5% ao ano na próxima década.
Fonte: Valor Econômico

