Por Igor Sodré, Anaïs Fernandes, Gabriel Roca, Augusto Decker e André Mizutani — De São Paulo
13/07/2022 05h04 Atualizado há 4 horas
Enquanto os temores de uma recessão global voltam a assombrar os mercados e pesam nos preços das commodities, tanto o real quanto as ações ligadas a matérias-primas voltaram a ser penalizados na sessão de ontem. O dólar encerrou o dia negociado a R$ 5,4385, no maior nível desde 26 de janeiro, em um movimento de alta da moeda americana visto também em outros mercados emergentes.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de outras seis moedas principais, subiu 0,13%, para 108,162 pontos. Além disso, o dólar atingiu novas máximas históricas em relação ao peso chileno e ao peso colombiano no pregão de ontem.
Ao observar o movimento da divisa americana contra o real nos últimos dias, o sócio-fundador e diretor de Investimentos (CIO) da Armor Capital, Alfredo Menezes, aponta como influenciadores a queda nos preços das commodities, em especial o minério de ferro. Ele chama atenção, ainda, para a recompra de títulos globais da Petrobras, anunciada dia 6 de julho, e cuja data de expiração se deu ontem. “Isso afetou a liquidez do mercado”, destaca o profissional.
Quando projeta a dinâmica para os próximos meses, Menezes vê um dólar ainda mais forte contra o real. “A inflação está relativamente alta; as empresas venderam mais – até porque o PIB surpreendeu para cima -; e, além disso, tivemos juros subindo no mundo inteiro. Acredito que devemos ter o auge de remessas de juros e dividendos das empresas no segundo semestre afetando o fluxo”, diz o sócio da Armor, que espera que o dólar fique entre R$ 5,60 e R$ 5,80 no fim do ano.
O desempenho atual do dólar em relação a outras moedas do mundo e a relação histórica desses movimentos com o comportamento do real sugerem que, dificilmente, o câmbio conseguirá se estabilizar abaixo de R$ 5 por dólar, afirmou Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em evento.
De acordo com ele, em geral, o Brasil “é muito sensível ao contexto global”, o que fica especialmente evidente nas análises de taxa de câmbio. “A moeda aqui segue basicamente as grandes ondas do dólar”, avaliou o economista, ao identificar três grandes movimentos de fortalecimento global da moeda americana desde os anos 1970.
“Essa [onda] mais recente pode estar chegando ao fim, embora o dólar tenha se fortalecido mais recentemente. Mas o que chama a atenção é que o movimento recente do dólar global dificulta a estabilização do real abaixo de R$ 5 e sugere que o nível próximo ao atual é razoável, dado o contexto global”, disse em evento do Itaú.
Embora o movimento de queda forte nos preços das commodities tenha pesado negativamente no câmbio, no mercado de juros houve um alívio, após o forte movimento de alta dos últimos dias. No fechamento, a taxa do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,94% para 13,74%; e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 13,235% para 13,05%, na medida em que as commodities em queda podem dar algum alívio à inflação.
O petróleo Brent sofreu um tombo de 7,10% e encerrou o pregão cotado a US$ 99,49 por barril, diante dos temores renovados de recessão global. Esse sentimento foi visto, ainda, no mercado de Treasuries, com queda nos rendimentos devido à forte procura pelos papéis, e nas bolsas em Nova York. O índice Dow Jones recuou 0,62%; o S&P 500 perdeu 0,92%; e o Nasdaq fechou em queda de 0,95%.
Para o gestor de renda fixa da AF Invest, Maurício Valadares, após a alta expressiva dos juros futuros nos últimos dias, a aposta em uma escalada ainda maior nas taxas não exibe mais uma relação entre risco e retorno muito interessante. “Assim, o ambiente global dos juros e a queda firme do petróleo acabaram ajudando a disparar uma realização de lucros [nos DIs]”, aponta Valadares.
O Ibovespa, por sua vez, subiu apenas 0,06%, para 98.271 pontos. A possibilidade de os juros não serem tão altos quanto se esperava em um cenário recessivo ajudou empresas de setores como varejo, tecnologia e imobiliário, segundo um gestor. Além disso, o desempenho mais forte do volume de serviços prestados em maio também deu algum apoio. As três maiores altas da sessão vieram de varejistas: Magazine Luiza ON avançou 11,41%; Via ON subiu 9,44%; e Americanas ON ganhou 8,26%.
Fonte: Valor Econômico