3 Feb 2023 SILVANA ROCHA, LUCIANA XAVIER e LUIZ GUILHERME GERBELLI
Na mínima do dia, moeda norte-americana chegou a valer R$ 4,94, primeira cotação abaixo de R$ 5 em 8 meses. Depois, fechou em R$ 5,04.
Pela primeira vez desde junho do ano passado, o dólar voltou a cair ontem abaixo de R$ 5, influenciado pela sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) de que a taxa básica de juros (Selic) pode permanecer num nível elevado por mais tempo. Na mínima do dia, a moeda americana chegou a valer R$ 4,94.
Ao longo da sessão, a queda do dólar perdeu força, para fechar na cotação de R$ 5,0454, ainda assim um recuo de 0,30% no dia.
Na quarta-feira, o Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% pela quarta vez seguida – a Selic está no maior nível desde janeiro de 2017. Na sua primeira decisão no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o comitê ressaltou que a incerteza fiscal tem produzido um custo maior para que a inflação caia, indicando que pode prolongar o aperto nos juros.
No cenário internacional, também na quarta, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros em 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. De sua parte, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que a tarefa de reduzir a inflação nos EUA (a maior nos últimos 40 anos) ainda não está completa, mas apontou que os sinais de desinflação começam a surgir.
EFEITO. Segundo especialistas, a combinação desses dois fatores – a manutenção da Selic em nível elevado e um arrefecimento do aperto monetário do Fed – favorece o chamado “carry trade”, contratação de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em lugares mais rentáveis, como o Brasil.
“Desde o fim do passado, o dólar vem perdendo força no mundo, com a perspectiva de que o Fed se aproxima do fim do ciclo (de alta dos juros) e de que a economia americana mostra sinais de desaceleração, assim como a inflação já caminha para patamares menores”, diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.
Há um fator adicional na cena externa que contribui para a valorização do real, e tem a ver com a reabertura da economia chinesa – o país abandonou a política de covid zero. Uma retomada mais forte da China pode beneficiar as moedas de países exportadores de commodities, como é o caso do Brasil. O FMI elevou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China deste ano de 4,4% para 5,2%.
“Os mercados ficaram satisfeitos que o Copom sinalizou intenção de postergar os cortes de juros para assegurar o processo de desinflação no Brasil. O Copom respondeu à demanda do mercado de maior rigidez”, avalia Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da Stonex. “Esse cenário favorece a entrada de capitais e, por isso, o mercado se antecipa e desmonta parte de suas posições cambiais defensivas.” •
Fonte: O Estado de S. Paulo

