Por Estevão Taiar — De Brasília
28/11/2022 05h01 Atualizado
Depois de atingir em agosto o menor patamar em quase 13 anos, a participação de investidores não-residentes na dívida pública do Brasil voltou a subir. Questões como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e o futuro do arcabouço fiscal não devem, pelo menos em um primeiro momento, interromper essa recuperação.
A participação dos não-residentes na dívida mobiliária federal interna (DPMFi) alcançou 9,3%, ou R$ 512 bilhões, em outubro. Os números foram divulgados na sexta-feira pelo Tesouro Nacional, no Relatório Mensal da Dívida (RMD). Influenciado por fatores como o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, o indicador entrou em trajetória de queda a partir de meados do segundo semestre do ano passado, atingindo em agosto deste ano 8,8% – o menor patamar desde dezembro de 2009. Mas, desde então, vem apresentando recuperação.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2022/I/B/cN1SmoTFCcml4Ea5BTGw/arte28fin-301-divida-c2.jpg)
“A diferença [em relação a agosto] não é significativa, mas de fato é uma reversão da tendência de queda que vimos desde o começo do ano”, diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.
Para a economista, a principal explicação para a reversão é a possibilidade precificada pelo mercado de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não tenha que subir tanto os juros quanto esperado anteriormente. Ela lembra que o diferencial de juros medido pelas taxas reais de dez anos entre Brasil e EUA “voltou a subir nas últimas semanas”.
“Com os juros mais elevados, podemos ainda manter a atratividade para o investidor estrangeiro”, diz ela. “A preocupação maior com a PEC e a percepção maior de risco fiscal pode vir no médio prazo, com a queda do investimento direto no país.”
Tatiana Pinheiro, economista-chefe para Brasil da Galapagos Capital, afirma que “outubro foi marcado por um interesse maior dos investidores internacionais por ativos brasileiros”. Ela lembra que pesquisa realizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em sua reunião anual colocou o país no mês passado como o “principal para aumentar a alocação”.
Em entrevista coletiva na sexta-feira para comentar o RMD, o coordenador de operações da dívida pública do Tesouro Nacional, Roberto Lobarinhas, destacou os efeitos negativos que as discussões sobre a PEC da Transição e o arcabouço fiscal tiveram no mercado em novembro.
“Vimos uma forte abertura ao longo de toda a curva local de juros, refletindo as preocupações com [política] fiscal que têm se apresentado nas discussões em torno da PEC da Transição e das regras fiscais para os anos seguintes”, disse.
Já o estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sergio Goldenstein, destaca em relatório que, mesmo com a recuperação vista nos últimos dois meses, o estoque de títulos domésticos detidos por não-residentes ainda apresenta queda de R$ 53 bilhões no acumulado deste ano.
Na comparação do mês passado com setembro, o destaque positivo foi o crescimento da participação, de 19,5% para 21,2%, do volume de Letras do Tesouro Nacional (LTN, título de rendimento prefixado). A elevação representa alta de R$ 5,4 bilhões. Em sentido oposto, o volume de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F, outro título) em posse de não-residentes recuou de 44,6% para 43,8% (queda de R$ 1 bilhão).
Fonte: Valor Econômico

