Diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e uma das vozes mais influentes do atual Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), Christopher Waller admitiu que o banco central americano deve realizar cortes de juros em 2024, mas a um ritmo mais lento do que em outros ciclos recentes de flexibilização monetária.
“Desde que a inflação não volte a subir ou permaneça ainda elevada, acredito que o Fomc conseguirá reduzir a taxa dos Fed funds neste ano. Essa visão é consistente com as projeções econômicas de dezembro, cuja mediana era de três cortes de 25 pontos-base em 2024”, afirmou Waller ontem durante evento do Instituto Brookings.
Embora espere cortes para este ano, o diretor do Fed deu sinais de que o processo de flexibilização monetária não será tão agressivo quanto o mercado projeta. Conforme levantamento do CME Group, a expectativa majoritária dos investidores é de cinco a seis reduções de 0,25 ponto percentual em 2024.
“Quando for o momento certo para começar a reduzir os juros, acredito que eles podem e devem ser reduzidos de forma metódica e cuidadosa. Em muitos ciclos anteriores, que começaram depois que choques na economia ameaçaram ou causaram uma recessão, o Fomc reduziu as taxas de forma reativa e o fez rapidamente e, muitas vezes, em grandes quantidades. No entanto, neste ciclo, com a atividade econômica e os mercados de trabalho em boa forma e a inflação caindo gradualmente para 2%, não vejo razão para agir tão rapidamente ou cortar tanto como no passado”, ponderou Waller. Segundo ele, o período e a extensão dos cortes de juros dependerão dos dados econômicos.
Quanto à economia dos Estados Unidos, Waller avaliou que os dados dão suporte à discussão sobre cortes de juros, já que há mais confiança no caminho em direção à meta inflacionária de 2%. Nesse sentido, o banqueiro central considera que o forte relatório de empregos do país (“payroll”) de dezembro refletiu, em grande parte, “ruídos” que não representam tendências macroeconômicas.
Para ele, a postura atual da política monetária é adequada, embora os riscos aos mandatos de inflação e de emprego estejam mais equilibrados. Waller destacou que a atividade e o mercado de trabalho desaceleraram, enquanto os gastos de consumidores têm dado “sinais tentativos” de que estão perdendo força – algo que, segundo ele, ficará mais claro após a divulgação das vendas no varejo americano em dezembro nesta quarta-feira.
Waller afirmou também que será razoável começar a discutir a redução do ritmo do aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) do banco central americano neste ano. Segundo ele, o Fed pode, em breve, moderar o ritmo com que reduz o seu balanço de Treasuries. O QT da entidade foi iniciado há quase um ano e tem como objetivo reduzir o volume de ativos do banco central, obtidos durante a crise da covid-19 para dar liquidez ao mercado.
Embora um QT menos agressivo seja uma possibilidade, Waller diz preferir que apenas o volume de Treasuries seja reduzido mais lentamente, deixando que o prazo dos títulos lastreados em hipoteca (MBS, na sigla em inglês) mantidos pelo Fed se esgote naturalmente.
Fonte: Valor Econômico

