Embora o mercado especule que a forte e repentina valorização do iene hoje pela manhã ante o dólar tenha sido causada por uma intervenção não confirmada do Ministério das Finanças e do Banco do Japão (BoJ) no mercado de câmbio japonês, não serão intervenções desse tipo que irão determinar a direção da divisa japonesa, na opinião do economista Jonas Goltermann, da Capital Economics.
Segundo ele, embora o Ministério das Finanças tenha poder de fogo para continuar intervindo e comprando moeda, o que irá determinar o rumo do iene será o diferencial de taxas de juros entre Estados Unidos e Japão.
“O forte salto do iene hoje é semelhante aos dois episódios de intervenção oficial reconhecida em setembro e outubro do ano passado. Mas também é possível que os participantes do mercado tenham se precipitado quando o dólar passou a valer mais que 150 ienes ou que o BoJ tenha solicitado cotações aos bancos negociantes, um prelúdio imediato para uma intervenção real”, afirma Goltermann.
Segundo o economista, apesar da afirmação repetida do Ministro das Finanças, Shunichi Suzuki, de que “as intervenções cambiais não se baseiam nos níveis do iene porque é a volatilidade que importa”, é razoável supor que se o dólar passasse a valer mais que 150, um grande movimento adicional de alta poderia ter ocorrido. “Portanto, na prática, mesmo que a volatilidade seja a principal preocupação, o nível 150 é importante”, afirma.
“Embora esta abordagem do gato e do rato possa funcionar para ganhar algum tempo para o iene, a sua sustentabilidade depende em grande parte do que acontecer com os rendimentos do Tesouro dos EUA”, afirma Goltermann, em relatório que compara as duas intervenções ocorridas em setembro e outubro de 2022.
Goltermann aponta que a intervenção de setembro do ano passado, ocorrida quando o dólar atingiu 145 ienes, manteve o câmbio sob controle durante algumas semanas, mas, à medida que os rendimentos do Tesouro subiram, esse nível cedeu. Já a intervenção subsequente, em outubro quando o dólar atingiu 150 ienes, teve um impacto mais duradouro porque os rendimentos dos EUA caíram devido a uma mudança nos dados de inflação dos EUA e no tom do Federal Reserve, lembra o economista.
“O iene valorizou-se significativamente nos últimos dois meses de 2022 e no início de 2023, atingindo um câmbio de 130 ienes por dólar em janeiro, quando o BoJ começou a afrouxar a sua política de controle da curva de rendimentos”, afirma.
Para o economista, as autoridades japonesas têm alguns fatores a seu favor. “O Japão tem grandes reservas cambiais, cerca de US$ 1,122 trilhão no final de agosto. Mesmo que seja pequeno relativamente à dimensão global do mercado de ienes, é poder de fogo mais do que suficiente para sustentar compras intermitentes de ienes destinadas a afastar o mercado dos 150 ienes por dólar”, estima.
Segundo ele, as duas intervenções do ano passado foram de cerca de US$ 50 bilhões. “Além disso, o iene parece significativamente subvalorizado em relação ao seu ‘justo valor’ e o posicionamento especulativo é fortemente vendido no iene: há ampla margem para essas posições se desfazerem”, explica.
Para Goltermann, em última análise, porém, o sucesso da última intervenção dependerá, em grande parte, da evolução da política monetária.
“Continuamos a pensar que o Fed irá em breve encerrar o seu ciclo de aperto à medida que a economia dos EUA abranda e a inflação continua a arrefecer, e que os juros serão reduzidos muito mais rapidamente e mais profundamente do que o que está precificado nos mercados monetários. Esperamos também que o BoJ aumente a sua taxa de juros no início do próximo ano, embora apenas ligeiramente para território positivo – o que já está precificado nos mercados monetários”, prevê.
O economista espera que o diferencial da taxa de juro oscile novamente a favor do iene, aliviando a pressão sobre a moeda japonesa. “Nossa previsão para o final de 2023 permanece em 135 ienes por dólar”.
Fonte: Valor Econômico
