O que a desaceleração da economia chinesa tem a ver com a subida das taxas de juros longas nos Estados Unidos? Na visão do economista-chefe da gestora americana Apollo, Torsten Sløk, as mudanças estruturais no país asiático podem ser uma das forças que têm impulsionado a escalada dos juros dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano.
O especialista citou, em artigo no blog da gestora, que a China tem acelerado o ritmo de vendas líquidas de Treasuries. As reduções líquidas no estoque de títulos americanos detidos pelo governo chinês somam mais de US$ 40 bilhões de abril a julho deste ano.
Dados mais recentes do departamento do Tesouro dos EUA indicam que a posição em julho das reservas chinesas de Treasuries estava no menor nível desde maio de 2009, com um total de US$ 821,8 bilhões, ante uma cifra de US$ 776,4 bilhões há 14 anos.
Segundo Sløk, o crescimento econômico na China está desacelerando por razões cíclicas e estruturais, com declínio contínuo de exportações aos EUA. “Como resultado, a China tem menos dólares para aplicar em títulos do Tesouro [dos EUA]”, disse o economista.
O especialista explicou que o fator China se soma a vários outros na pressão sobre as taxas longas americanas, que permanecem perto das máximas em 15 anos. Além das vendas chinesas, o conjunto de forças que, eventualmente, têm impulsionado a escalada dos juros reúne o corte da nota soberana dos EUA, o “quantitative tightening” (QT), ou seja, o enxugamento do balanço do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), a flexibilização do controle da curva de yield (rendimentos) pelo Japão, com consequente redução de demanda por títulos americanos, e o aumento das emissões do Tesouro dos EUA para cobrir o déficit público.
Os números do Tesouro americano sinalizam que o fator China pode ter peso semelhante ao do término do controle de curva de yield pelo Japão. A decisão tomada pelo BC japonês tem levado a uma menor demanda por títulos de dívida americana por parte de investidores japoneses, historicamente grandes compradores de Treasuries americanos.
Os dados do departamento do Tesouro dos EUA indicam que, de julho de 2022 a julho de 2023, o governo chinês reduziu em US$ 117,4 bilhões o estoque de Treasuries. O Japão, no mesmo período, diminuiu a posição nos papéis do Tesouro dos EUA em US$ 118,2 bilhões, praticamente o mesmo montante.
Conforme o economista-chefe da Apollo, uma conclusão possível é que, na soma dos fatores, o custo do capital provavelmente permanecerá mais elevado por razões que pouco têm a ver com o ciclo econômico. Outro fator que tem levado a China a vender reservas, segundo analistas, tem sido a pressão para defender o enfraquecimento da própria moeda, o yuan, com intervenções no mercado de câmbio.
Fonte: Valor Econômico
