Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro — De Brasília e São Paulo
25/10/2022 05h01 Atualizado há 12 minutos
Como reflexo do crescimento da economia, o déficit nas contas externas do país permaneceu em trajetória de crescimento em setembro, somando US$ 5,7 bilhões, maior para o mês desde 2014, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) ontem. Em 12 meses, as transações correntes acumularam resultado negativo de US$ 46,2 bilhões, ou 2,56% do Produto Interno Bruto (PIB).
Por outro lado, os Investimentos Diretos no País (IDP) somaram US$ 9,2 bilhões, maior ingresso para o mês desde 2017, e alcançaram US$ 73,8 bilhões em 12 meses (4,10% do PIB), quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. O volume é mais que suficiente para cobrir o rombo na conta corrente e é maior do que o ingresso estimado pela autoridade monetária para todo o ano.
No último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), de setembro, a projeção para 2022 era de entrada de R$ 70 bilhões na modalidade, número que deve ser revisado para cima no documento de dezembro. De acordo com dados parciais de outubro, até o dia 19 os investimentos diretos somaram US$ 3,943 bilhões.
O chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, afirmou que o aumento do déficit se deu pela abertura plena da economia e pelo crescimento da atividade acima do esperado neste ano. Ele disse ainda que os resultados do setor externo já são comparáveis aos de outros períodos da economia, antes da pandemia de covid-19.
Em relação a setembro do ano passado, houve aumento nas despesas de lucros e dividendos de 71%. “A gente passou de um déficit de US$ 1,9 bilhão [em setembro de 2021] para um déficit de US$ 5,7 bilhões, aumento de US$ 3,8 bilhões. Todas as contas [do setor externo] se moveram no mesmo sentido, para ampliar o déficit corrente, e a balança comercial reduziu o superávit. Mas a principal rubrica foi a de renda primária e dentro dessa conta a de lucros e dividendos”, pontuou o especialista.
Rocha explicou que houve aumento do estoque de investimento estrangeiro, sobretudo, pela maior rentabilidade das empresas, que vem da melhora da economia. Isso significa que as empresas lucraram mais e enviaram recursos para suas matrizes no exterior. “A gente tende a imaginar que esses lucros e dividendos se referem apenas às empresas de investimento direto, mas temos também empresas que investem no mercado de capitais e que também auferem lucros aqui”, disse.
Ele ressaltou ainda o crescimento da demanda por serviços e bens importados. “No caso da balança comercial [de bens], houve ligeira redução no superávit [para US$ 2,4 bilhões] em setembro por aumento nas importações maior do que nas exportações”, complementou.
Pela metodologia do BC, as exportações de bens somaram US$ 30,6 bilhões e as importações totalizaram US$ 28,3 bilhões em setembro, alta de 24,5% e de 28,2% respectivamente, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Nos últimos 12 meses, a gente viu um crescimento do déficit em transações correntes. Até 2021 esse montante era bastante reduzido em razão das restrições impostas pela pandemia”, ressaltou Rocha.
Já as empresas brasileiras aplicaram R$ 760 milhões em suas filiais no exterior em setembro. “Embora o lucro [das filiais brasileiras no exterior] esteja crescendo, houve mais receitas de lucros e, no mês, foi mais forte o fluxo remetido para as matrizes [no Brasil] do que o mantido [reinvestido] no exterior”, destacou o técnico do BC.
Os investimentos em carteira negociados no país, que incluem renda fixa e ações, registraram saída líquida de US$ 2,6 milhões em setembro, resultado de retirada de US$ 3,9 bilhões em ações e fundos de investimento e entrada de US$ 1,2 bilhão em títulos de dívida. Em 12 meses, o resultado foi negativo em US$ 2,5 bilhões.
Em outubro esse movimento se inverteu. Dados parciais do Banco Central mostraram que até o dia 19, os investimentos em carteira negociados no mercado doméstico registraram saída líquida de US$ 558 milhões, fruto de entrada de US$ 775 milhões em ações e fundos de investimentos e saída de US$ 1,332 bilhão em títulos de dívida.
Todos os meses deste ano registraram volume maior de investimentos diretos em relação ao mesmo período do ano passado. “No ano, a modalidade acumulou US$ 70,7 bilhões, maior volume desde 2011”, ressaltou Rocha. “Mesmo com o aumento [do déficit em conta corrente], o valor ainda é baixo, sendo amplamente financiado pelos investimentos diretos no país”, ponderou o técnico.
Fonte: Valor Econômico