Por Bloomberg — Pequim
14/11/2023 23h41 Atualizado há 13 horas
Os gastos do consumidor e a atividade industrial na China cresceram mais que o esperado em outubro, mas a deterioração do mercado imobiliário alimentou expectativas de que o governo irá anunciar mais estímulos à economia.
As vendas no varejo aumentaram 7,6% em outubro em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo disse nesta quarta-feira (15) a Agência Nacional de Estatísticas. Foi um resultado melhor que o esperado, auxiliado em parte pelas comparações com uma contração no mesmo mês de 2022. Outubro também foi o mês da Semana Dourada, feriado em que os chineses costumam viajar. Porém, os gastos dos turistas decepcionaram.
A produção industrial aumentou 4,6%, permanecendo quase inalterado em relação ao mês de setembro. Esses números ajudaram a compensar os sinais óbvios de fraqueza no mercado da habitação: a retração dos investimentos em incorporação imobiliária aumentou e as vendas de moradias caíram mais em outubro do que no mês anterior.
Os dados sugerem que a economia da China tem bolsões de força, como os investimentos na indústria transformadora e os gastos do consumidor com veículos elétricos e smartphones, o que coloca a meta do governo de um crescimento de 5% neste ano dentro do alcance. Mas economistas acreditam que Pequim oferecerá mais estímulos, numa tentativa de estabilizar o mercado imobiliário e melhorar o sentimento das famílias no próximo ano.
“A economia da China parece ter evitado os temores com uma desaceleração sequencial mais ampla em outubro”, diz Carlos Casanova, economista para a Ásia do Union Bancaire Privee em Hong Kong.
“Dito isto, o diabo está nos detalhes”, afirma ele, chamando atenção para a queda nos investimentos imobiliários e acrescentando que as estratégias oficiais para reestruturar a dívida do setor imobiliário levarão vários anos para se concretizar. “O apoio politico ainda é necessário para dar uma resposta às preocupações em torno do sentimento interno e da demanda por habitação.”
Nesta quarta-feira (15), o índice de ações CSI 300 chegou a subir 1,1%, mas recuou, fechando em alta de 0,7%, enquanto o Índice Hang Seng China Enterprises ampliou os ganhos ao longo do dia, fechando em alta de 4%. Os títulos do governo chinês e o yuan pouco mudaram em relação ao fechamento anterior.
As autoridades intensificaram os estímulos à economia, incluindo uma incomum revisão orçamentária no meio do ano e a aprovação, no mês passado, da emissão de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões) em títulos soberanos para investimentos em infraestrutura.
Pouco antes do anúncio dos dados, o Banco do Povo da China (o banco central chinês) injetou no mercado nesta quarta-feira (15) o maior volume de dinheiro desde 2016, através do seu mecanismo de empréstimos de médio prazo para apoiar os gastos do governo. A Bloomberg Economics estima que os empréstimos adicionais terão um impacto nos mercados equivalente a um corte na relação das reservas obrigatórias de mais de 25 pontos base. Isso está diminuindo as expectativas de que o banco central reduzirá essa exigência nas próximas semanas.
Pequim também planeja fornecer ao menos 1 trilhão de yuans em financiamentos de baixo custo para renovar bairros centrais da cidade e construir habitações a preços acessíveis, informou a Bloomberg News. O plano, parte de uma iniciativa do vice-premiê He Lifeng, marcará grande avanço nos esforços chineses para pôr fim à maior crise imobiliária em décadas.
“A meta de crescimento deste ano parece já estar definida, mas não parece que o governo está sendo complacente demais em relação ao próximo ano”, diz Adam Wolfe, economista de mercados emergentes da Absolute Strategy Research. “Parece que estão dispostos a oferecer mais estímulos.”
A Agência Nacional de Estatísticas destacou a melhoria nos principais indicadores na sua declaração que acompanha os dados, acrescentando que a economia “opera de forma estável em geral”. Mas chamou atenção para os desafios decorrentes das incertezas externas e da demanda interna insuficiente, acrescentando que “a base da recuperação econômica ainda precisa ser consolidada”.
“Os principais dados da atividade econômica na China para outubro parecem mais otimistas do que a realidade. A produção e as vendas no varejo superaram as expectativas numa base anual, mas isso se deu em grande parte na comparação com os números deprimidos de 2022, quando a economia enfrentava dificuldades na fase final de sua política de tolerância zero com a covid-19. Os números mensais mostram que o fraco impulso subjacente está sendo transferido do terceiro trimestre. No geral, os dados sugerem que é necessário mais apoio político e que provavelmente ele vai chegar”, afirmam Chang Shu e David Qu, da Bloomberg Economics.
Os economistas alertam que o sentimento do consumidor ainda não está numa base segura. As vendas no varejo em outubro cresceram em um ritmo semelhante ao de setembro, numa base mensal, de acordo com Zhang Zhiwei, economista-chefe da Pinpoint Asset Management, que acrescenta que “a procura interna ainda é fraca”.
Numa base média de dois anos, o crescimento das vendas no varejo desacelerou para 3,5%, em relação aos 4% de setembro, de acordo com cálculos da Bloomberg.
“A atividade de consumo continua um pouco deprimida na China, devido ao fraco sentimento do consumidor, bem como ao efeito de riqueza negativa proveniente do mercado imobiliário”, disse Jacqueline Rong, economista-chefe para a China do BNP Paribas, numa entrevista à Bloomberg TV.
O crescimento médio de dois anos das vendas no varejo permanece muito inferior ao ritmo de 8% pré-pandemia, acrescentou Rong. “É um declínio bastante substancial. As perspectivas do mercado de trabalho são um grande desafio”, disse ela. A taxa de desemprego global da China permaneceu inalterada em relação ao mês anterior, em 5%.
A fraca posição fiscal dos governos locais, devido à crise imobiliária, continua sendo outra razão para o estímulo. Com os governos locais reduzindo os empréstimos, o déficit fiscal diminuiu 14%, para 5,73 trilhões de yuans entre janeiro e outubro, de acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças.
Economistas do Société Générale estimam que os gastos com infraestrutura caíram 0,2% em outubro. Isso sugere que “os danos infligidos pela crise imobiliária são extensos demais para serem combatidos pelos governos locais, que encontram-se em situação de restrição fiscal”, escreveram eles em uma nota a investidores. “O 1 trilhão de yuans já anunciado não parece ser suficiente.”
Economistas do Goldman Sachs liderados por Lisheng Wang também apontaram para a probabilidade de mais apoio do governo.
“Dados os persistentes ventos contrários ao crescimento decorrentes da recessão imobiliária, da confiança ainda frágil e dos riscos financeiros persistentes, acreditamos que a ‘posição de política’ foi desencadeada na China e achamos que o governo central vai intensificar a flexibilização materialmente nos próximos meses”, afirmaram em uma nota a clientes.
Fonte: Valor Econômico

