Indicação já embute percepção de ambiente incerto, segundo o colegiado
Por Larissa Garcia — De Brasília
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou ontem, na ata de sua última reunião, a estratégia de manter o ritmo de cortes da Selic em 0,50 ponto percentual “nas próximas reuniões” e explicou que optou por manter a “comunicação recente” sem retirar o plural na indicação futura, porque “já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”.
Na quarta-feira da semana passada, o colegiado reduziu a taxa básica de juros (Selic) para 12,25% ao ano pela terceira vez seguida. Segundo o Copom, os seus integrantes “concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
Isso porque “tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.
O documento divulgado ontem deu mais ênfase ao cenário externo, “que tem se mostrado mais volátil e adverso” e detalhou que um membro avaliou que a piora do cenário externo “introduz um viés assimétrico” de alta no balanço de riscos para a inflação. Na prática, um diretor do BC defendeu que a piora internacional deveria pesar mais no cenário central da autoridade monetária já nesta reunião.
Os demais membros do Copom avaliaram, contudo, que o cenário internacional afeta “primordialmente o grau de incerteza” relativo ao balanço de riscos. “O Comitê é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela”, acrescentou. A ata elencou, ainda, os múltiplos mecanismos de transmissão da economia internacional para a brasileira, “que devem ser incorporados na tomada de decisão”.
Do lado doméstico, o Copom ressaltou a melhora da inflação corrente, mas alertou que “esgotam-se algumas fontes de desinflação que contribuíram para o primeiro estágio da desinflação”. O colegiado também destacou a perda de dinamismo da atividade econômica brasileira, especialmente do setor de serviços, que deve ajudar a acomodar os preços.
Para o comitê, “são um fator de preocupação” porque “seguem desancoradas”. Com isso, a ata intensificou os alertas sobre os riscos fiscais após discussões sobre a mudança de meta para o déficit primário do próximo ano.
“As expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação. O comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”, disse.
De acordo com o documento, o Copom vinha avaliando que a incerteza fiscal “se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas”. No entanto, notou que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, “o que levou a um aumento do prêmio de risco”.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, apontou o colegiado na ata, repetindo um trecho que já havia sido publicado no comunicado divulgado logo após a reunião de quarta-feira da semana passada.
Para 2025 e 2026, as expectativas de inflação estão estacionadas em 3,5% há meses, acima, portanto, da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Além disso, o comitê reforçou que o “esmorecimento” no esforço de reformas estruturais e da disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, “com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
Fonte: Valor Econômico