O presidente da China, Xi Jinping, se prepara para nomear aliados fiéis para altos cargos na hierarquia do Partido Comunista, segundo fontes próximas a líderes do partido, o que fortaleceria sua posição no momento em que enfrenta desafios cada vez maiores dentro e fora do país — de desaceleração da economia nacional até a resistência ocidental às ambições de Pequim no cenário mundial.
Um dos aliados que Xi pretende promover, segundo essas fontes, é Li Qiang, hoje a principal autoridade do PC em Xangai. Em março, Li assumiu a responsabilidade por um lockdown de várias semanas contra a covid-19, durante o qual dezenas de milhões de moradores do centro financeiro do país passaram dificuldades para ter acesso a alimentos e cuidados médicos.
É provável que Li seja alçado ao Comitê Permanente do Politburo, o principal órgão decisório do partido, segundo as fontes. Li, de 63 anos, também é considerado um dos principais favoritos para ser nomeado premiê na reunião legislativa anual da China, previsto para março de 2023.
Tradicionalmente, cabe ao premiê a gestão econômica do país, que nos últimos meses foi castigada pela abordagem de Xi de tolerância zero à covid-19, pela retração dramática no mercado imobiliário e pelas duras medidas regulatória que provocaram incerteza entre as empresas.
Outros aliados de Xi que devem entrar no Comitê Permanente são seu chefe de Gabinete, Ding Xuexiang, e a principal autoridade do partido na província de Guangdong, Li Xi, que já foi secretário de um veterano da revolução comunista que tem laços estreitos com a família do presidente.
Fontes próximas a líderes do partido advertiram que as deliberações finais sobre a composição do Comitê Permanente não serão reveladas até domingo, quando a elite do partido deve concluir a definição dos membros de seus principais órgãos decisórios para o próximo mandato.
A composição do próximo Comitê Permanente e a identidade do novo premiê têm sido objeto de especulação intensa entre os observadores da política chinesa desde antes do congresso quinquenal do partido, que se realiza nesta semana em Pequim. Neste congresso, Xi está prestes a romper com um precedente e garantir um terceiro mandato como líder do PC.
Embora Xi pareça estar seguro de que ganhará mais cinco anos no poder, a crescente frustração pública com sua gestão da covid-19 e da economia forneceu munição aos rivais, que tentam limitar seu poder ao garantir que seus aliados não monopolizem as nomeações para os cargos mais altos.
Se conseguir o que quer apesar das resistências, Xi se cercará de autoridades que pensam como ele e derrubará as regras para a sucessão que o partido aperfeiçoou ao longo das últimas décadas para evitar um retorno a uma ditadura no estilo da de Mao Tsé-tung. Para analistas políticos, isso pode facilitar a Xi levar adiante suas prioridades, mas também aumenta os riscos caso essa agenda fracasse.
“O risco de as coisas darem errado e ele ser responsabilizado é muito maior”, disse Ryan Manuel, diretor da Bilby, uma empresa de inteligência artificial com sede em Hong Kong que analisa documentos do governo chinês.
Com mais aliados em postos-chave, algumas fontes avaliam que Xi pode começar a delegar parte de sua autoridade a subordinados de confiança à medida que fica mais velho — ele completará 70 anos em 2023. Xi também tem menos adversários políticos com que se preocupar, já que neutralizou muitos deles nos expurgos das ações contra a corrupção e impediu os líderes aposentados do PC de se intrometerem na política.
O atual premiê da China, Li Keqiang, deve deixar o cargo em março, depois de completar dois mandatos de cinco anos — o máximo permitido pela Constituição chinesa. Em algumas ocasiões, ele se contrapôs a Xi e o pressionou a reverter políticas consideradas prejudiciais ao crescimento. Ainda assim, analistas políticos o consideram um dos premiês menos influentes da China, cujo domínio sobre a economia desapareceu quando Xi centralizou a tomada de decisões em suas mãos.
Li Qiang, Li Xi e Li Keqiang não têm relações de parentesco.
Segundo analistas, outros candidatos à sucessão de Li Keqiang são Wang Yang, chefe do principal órgão consultivo do governo, a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, e Hu Chunhua, hoje o mais jovem dos quatro vice-primeiros-ministros do país. Nas últimas décadas, os primeiros-ministros chineses sempre tinham experiência anterior como vice-primeiros-ministros, um critério em que tanto Wang quanto Hu se encaixam.
Algumas autoridades e acadêmicos estrangeiros consideram Wang e Hu como representantes de uma tendência por reformas de cunho liberal que favorecem os princípios do mercado. Eles são vistos como fora da órbita de Xi, já que foram levados para o poder por outros patronos políticos, embora os dois tenham apoiado publicamente as políticas do presidente chinês. Fontes próximas a líderes do partido disseram que Hu pode não chegar ao Comitê Permanente.
Essas fontes e analistas políticos acreditam que Xi não deve alçar ao Comitê Permanente do partido nenhum possível sucessor, pois isso minaria sua autoridade como líder supremo.
Se Xi conseguir dar o cargo de primeiro-ministro a Li Qiang, ele será capaz de consolidar o controle sobre a formulação das políticas econômica e social, na avaliação de Chen Gang, pesquisador sênior do Instituto do Leste Asiático, da Universidade Nacional de Cingapura. “A reforma e a abertura da China continuarão, mas o ritmo diminuirá. A política de zero-covid continuará, e Li pode contar com políticas de estímulo para impulsionar a economia”, avalia ele.
Fonte: Valor Econômico

