Ações visam minimizar os custos com plano de saúde, que hoje chegam a representar 20% da folha de pagamento nas organizações
— Para o Valor, de São Paulo
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Diante da elevação dos gastos com planos de saúde, empresas estão se empenhando em criar ações de bem-estar e de gestão da saúde para os funcionários, em uma tentativa de amenizar esse impacto, com redução do sinistro e do risco da apólice. Se em 2021 o gasto das organizações com os planos de saúde girava entre 5% e 10% da folha de pagamento, em 2023 essa parcela ficou entre 10% e 20%, segundo dados da Aon, consultoria em benefícios.
Nesse sentido, a telemedicina é um dos destaques da Pesquisa de Benefícios 2023 da Aon, que contou com a participação de 929 empresas, de mais de 30 setores, sendo metade delas (50,6%) multinacionais e 61% com mais de 500 funcionários. A maioria (78,7%) está localizada no sudeste do Brasil. Esta é a 14ª edição da pesquisa.
O levantamento indica que 86,3% das empresas pesquisadas oferecem serviço de telemedicina aos seus empregados, um aumento de 13,4 pontos percentuais em relação ao mapeamento de 2021. A pandemia teve impacto nesse incremento – já que o serviço foi amplamente utilizado e mostrou sua qualidade – e também a jornada educativa que as empresas vêm fazendo com seus funcionários em relação ao uso dos benefícios de saúde. “A maioria das idas ao pronto-socorro, que é a porta de entrada ao sistema de saúde, é uma utilização que não precisaria ser no PS. As pessoas aprenderam que a tecnologia traz bom atendimento e um custo evitado [da ida ao pronto-socorro], que é mais alto, gera exames adicionais e medicamentos”, explica Leonardo Coelho, vice-presidente de saúde e talento para a Aon no Brasil. “Muitas vezes o médico consegue identificar a situação na telemedicina e prescrever a medicação virtualmente.”
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Segundo o especialista, as empresas têm demandado o desenho de uma solução [de gestão de saúde] integrada à cultura da organização. Para cada setor, a aplicação tem particularidades, e deve estar alinhada às diferentes populações que habitam aquela empresa.
A oferta da telemedicina, bem como de toda as ações de saúde e bem-estar que as empresas estão propondo como uma medida de saúde preventiva, só é eficaz quando há uma comunicação educativa adequada, que explica quando fazer uso de cada um dos benefícios, inclusive do pronto-socorro. Segundo a pesquisa, a oferta de telemedicina pelas empresas se dá em parceria com o plano de saúde na maior parte dos casos (74,9%) ou com um fornecedor terceiro (20,8%). Entre os serviços prestados nesse tipo de atendimento estão tanto cuidados eletivos como atendimentos de urgência e emergência.
O uso da telepsicologia, crescente nas organizações, também entra nessa frente de gestão de saúde e bem-estar. “A saúde mental é outra preocupação dos RHs atualmente”, afirma Coelho. A pesquisa mostra que houve aumento de 33,6 pontos percentuais na oferta de programas de saúde mental entre 2021 e 2023. No levantamento mais recente, 73% dizem oferecer algo nessa área. “O investimento em saúde mental é resultado da observação da força de trabalho”, avalia Coelho.
Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, em 2023, foram concedidos 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais no Brasil. Esse número contempla os benefícios por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) e os benefícios por incapacidade permanente (antiga aposentadoria por invalidez). Em 2022, foram 209.124 e em 2021, 200.244. Coelho acredita que hoje não é mais tão tabu falar de saúde mental nas empresas. “Essa barreira foi rompida”, diz. “E esse é o maior impacto pós pandemia.”
Além disso, 47,5% das empresas oferecem algum tipo de subsídio para incentivar seus empregados a terem hábitos ou práticas saudáveis. Entre eles, aplicativos esportivos ou de bem-estar, inscrição em eventos esportivos e atividades de mindfulness.
De todo modo, Coelho explica que não adianta sair ofertando uma série de benefícios de forma aleatória na empresa. “Não é simples desenvolver um programa que tenha realmente impacto na organização”, afirma. “É algo que tem que ser construído com base em inteligência de dados. É sobre usar dados de utilização, da saúde ocupacional, dos planos de saúde, para traçar o plano de ação.”
Segundo ele, “a complexidade do cenário de saúde reforça a necessidade de análises detalhadas desses dados para facilitar o acesso à assistência médica e promover a saúde e o bem-estar, convergindo em uma estratégia mais sustentável para os benefícios de saúde.”
É importante oferecer uma gama variada de benefícios para atender diferentes grupos”
— Antonio Catharino
A pesquisa também procurou entender como está a oferta de flexibilidade pelas empresas – ponto relevante para atração e retenção de profissionais. Com coleta de dados entre maio e julho de 2023, o levantamento mostra que, naquele momento, 83,4% das empresas estavam atuando no formato híbrido, sendo que uma parcela reduzida (13,1% do total de empresas pesquisadas) permitia o híbrido com livre decisão de dias remotos pelos funcionários. O levantamento indicou que 32,5% das empresas pretendiam revisar sua política de trabalho no próximo ano.
Coelho comenta que o modelo de trabalho híbrido ou remoto sempre foi visto como um benefício pelos profissionais. O que mudou, de antes da pandemia para hoje, é que essa escolha, agora, é também uma estratégia das empresas para atração e retenção de talentos. O modelo de gestão por entregas – e não monitorado por horas trabalhadas -, relevante para os formatos a distância, é uma realidade em somente 9,8% das empresas pesquisadas.
O mapeamento da Aon sinaliza que, além de possibilitar a flexibilidade de localidades, o trabalho remoto permite que as empresas busquem talentos fora do país – o que 25,2% já fazem -, e isso vem alterando as tendências das relações de trabalho e influenciando nos modelos de contrato. Sendo assim, 14,6% já possuem contratos em modelo “part-time” (a tempo parcial) e 6,9% consideram implementá-lo futuramente. Uma pequena parcela de 1,8% iniciou o modelo de contrato de “job sharing”, que é quando um mesmo cargo é ocupado por dois profissionais, reduzindo a jornada de trabalho normalmente, e 4,9% já o consideram para implementação futura. Nesse cenário, Coelho faz um questionamento: “Os gestores estão preparados para a nova força de trabalho? Não só o remoto, mas construir uma jornada estratégica para as pessoas onde flexibilidade e remoto entram.”
Uma outra pesquisa, feita pela Serasa Experian ao analisar dados de 1,5 mil pessoas que estão atualmente empregadas ou em busca de emprego no Brasil, mostra que para 46,4% a oferta de um pacote atrativo de benefícios é um item muito importante para concordar com uma proposta de trabalho. Em segundo lugar aparece o item práticas que promovem o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional (35,1%) e, depois, estabilidade e plano de carreira (34,9%), em terceiro. Autonomia para tomar decisões (22,6%) ficou em quarto e bônus e remuneração variável (21,8%) em quinto. Completam a lista a possibilidade de trabalho híbrido ou remoto (21,3%), a possibilidade de aprender a trabalhar com tecnologias, inovação e metodologia de trabalho (17,4%) e transporte facilitado até a empresa ou estacionamento gratuito (13,6%).
O levantamento também identificou que, entre os benefícios oferecidos pelas empresas, a maioria dos entrevistados valoriza mais os atrelados à saúde (84%), que englobam convênio médico e odontológico, descontos em academias, entre outros. Alimentação (74%) veio em seguida e contempla vale refeição, vale alimentação, cesta básica e refeitório na empresa, por exemplo. O benefício financeiro, que reúne previdência privada corporativa e parceria com empresas de crédito consignado, entre outros, aparece como relevante para 46% dos participantes.
Quando perguntados sobre a relevância das atividades oferecidas pela empresa em que trabalham ou gostariam de trabalhar, os respondentes escolheram ações para a preservação da saúde mental como a mais importante e a flexibilidade de horário em segundo lugar. “Os dados mostram a diversidade de necessidades e prioridades dos profissionais brasileiros e destacam a importância de oferecer uma gama variada de benefícios para atender a diferentes grupos e promover o bem-estar de maneira abrangente”, comenta Antonio Catharino, diretor de recursos humanos da Serasa Experian.
Fonte: Valor Econômico