O colunista Rafael Souto cita estudo que mostra que 61% das pessoas estariam dispostas a trocar de trabalho se não visualizassem oportunidades de desenvolvimento
26/10/2023 05h00 Atualizado há 5 horas
Os modelos tradicionais de construção da estrutura do trabalho baseados em organogramas hierárquicos clássicos vêm sofrendo por não corresponderem aos anseios de desenvolvimento das pessoas e também serem limitantes para entregar todo o valor que os negócios precisam.
De um lado, indivíduos com expectativas crescentes de desenvolvimento pressionam por crescimento e oportunidades. Do outro, negócios sendo desafiados a ser cada vez mais velozes e inovadores para acompanhar as transformações da sociedade.
Um estudo global realizado no início de 2023 pelo LinkedIn mostrou que 61% das pessoas estariam dispostas a trocar de trabalho se não visualizassem oportunidades de desenvolvimento. Não necessariamente alteração de cargo, mas chances para aprender e crescer profissionalmente. Os desafios para engajar talentos gerando oportunidades somados aos crescentes problemas de negócios fazem com que tenhamos que pensar uma forma diferente de moldar o trabalho.
Em vez de estarmos fixados em descrição de cargos e funções tradicionais é hora de pensarmos em organizar o trabalho por habilidades. No célebre livro “Reinventando as Organizações”, o autor Frederic Laloux apresenta um novo sistema para organizar o trabalho. Chama as empresas que adotam um novo formato de organizações Teal. Elas são caracterizadas por estrutura auto-organizada e um profundo senso de propósito. A gestão é distribuída, equipes operam com alto grau de autonomia. Decisões são tomadas por aqueles mais próximos do problema, a hierarquia é mínima.
Os modelos sugeridos por Laloux são disruptivos e difíceis de serem implementados porque mexem com um aspecto central das organizações: a dinâmica de poder. Embora distante da maioria das empresas, reflexões sobre descentralização de poder e equipes autodirigidas são uma luz para referenciar a transformação nas estruturas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/x/h/mjV8AlRvSdGTc8BgdMcQ/pexels-pixabay-356043.jpg)
Essa caminhada para moldar uma estrutura mais ágil pode ser feita de forma gradual. Nesse contexto entra a gestão por habilidades. Empresas como Bayer, Novartis e Coca-Cola vêm discutindo e implementando formatos nessa direção. No Brasil, a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) é um exemplo de empresa que busca novos formatos.
Uma organização dirigida por habilidades coloca as competências dos seus colaboradores no centro das decisões e operações. O foco é garantir que as pessoas sejam alocadas em tarefas e projetos com base em suas habilidades e conhecimentos, a fim de maximizar a eficiência, a produtividade e a satisfação. A organização prioriza a correspondência entre as habilidades, competências, experiências dos funcionários e as funções que desempenham.
Essas organizações são flexíveis e adaptáveis, permitindo que as equipes se ajustem rapidamente às mudanças nas demandas. A alocação de pessoal pode ser reconfigurada conforme necessário.
A organização investe no desenvolvimento contínuo das habilidades, reconhecendo que a aprendizagem e a evolução são essenciais para manter a relevância e a eficácia. Podem ser mais inovadoras, pois as equipes são compostas por pessoas com as habilidades certas para abordar problemas complexos e promover a criatividade.
A alocação eficaz de habilidades leva a uma maior eficiência e produtividade, pois as pessoas estão aptas a realizar suas tarefas com eficácia.
Uma organização dirigida por habilidades pode adotar muitos princípios de uma organização Teal, especialmente relacionados à autonomia, colaboração e desenvolvimento contínuo. Ela busca criar um ambiente em que as habilidades dos funcionários sejam reconhecidas, desenvolvidas e aplicadas de forma eficaz.
Rafael Souto é sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado
Fonte: Valor Econômico