.22 Aug 2022JOSÉ MARIA TOMAZELA
Durante as décadas em que fez parte da rede extensionista da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, o engenheiro agrônomo Vandir Daniel da Silva acompanhou a transformação da safrinha de milho no Estado.
“Antes o produtor plantava trigo no inverno e milho no verão. Com a entrada da soja, passou a investir no cultivo do milho na entressafra para plantar soja no verão”, diz Silva.
Segundo ele, no início era uma lavoura de baixa tecnologia mas, com o tempo, o produtor percebeu que, caprichando na adubação do milho, conseguiria ganho maior na soja seguinte. “Hoje o milho de segunda safra é de alta tecnologia.”
Agora aposentado, Silva aplica os conhecimentos em sua própria lavoura. Ele plantou milho safrinha em fins de dezembro, em Itapeva (SP), e conseguiu uma produtividade próxima de 6 mil kg por hectare (ha). O resultado é superior à média estadual, de 5,2 mil kg/ha, mas poderia ser melhor. “Faltou chuva entre maio e junho, fase crítica para a lavoura, e tivemos o ataque da cigarrinha do milho”, afirma.
Em Mato Grosso, maior produtor nacional de milho, as condições foram favoráveis à safrinha, diz o produtor Egidio Batista, de Primavera do Leste.
Ele fez o plantio em janeiro e está encerrando a colheita com média de 6,1 mil kg/ha. “Como as chuvas vieram na época certa, usamos um bom pacote tecnológico, com sementes de alta produtividade. Foi uma das melhores safras de milho que já colhemos”, afirma. O Estado deve produzir 21 milhões de toneladas este ano.
ÁPICE. Em Capão Bonito (SP), o produtor Marcos Alberto de Souza conseguiu média de 132 sacas por hectare – 7,92 mil kg –, uma das mais altas do País. “Em 20 anos que faço a safrinha do milho, essa foi a melhor colheita que tive.”
Souza fez o plantio após a colheita da soja, na época mais propícia, entre 20 de janeiro e 22 de fevereiro. Ele integra a Cooperativa Agrícola de Capão Bonito, cujos cooperados cultivaram 15 mil hectares de milho safrinha neste ano.
“Tivemos média de 103 sacas por hectare, pois as chuvas vieram na época certa. Aqui chamamos de safra estendida, pois o milho entra na sequência da colheita da soja para evitar as geadas do início do inverno”, diz o gerente da cooperativa, Luiz Carlos Mariotto.
Segundo maior produtor nacional de milho, com 17,6 milhões de toneladas nesta safra – 14,6 milhões da segunda safra –, o Paraná vem batendo recordes de produtividade, conforme Edmar Wardensk Gervásio, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
“A segunda safra do período 2021/2022 no Paraná é recorde em área plantada, com 2,7 milhões de hectares, 8% maior que a da safra anterior”, diz. “A produtividade média é de 5,4 mil kg por hectare, mas temos produtores com média de 6 mil kg.”
Conforme Gervásio, a produção de milho perdeu espaço para a soja na primeira safra e, em consequência, a segunda safra ganhou espaço, competindo com o trigo. Ele diz que a segunda safra tem gerado renda maior para o produtor. Para um custo de produção de R$ 46,73, a saca de milho está cotada em R$ 80.
Em Mato Grosso do Sul, a colheita do milho safrinha avança com produtividade média de 78 sacas por hectare, o que deve garantir 9,34 milhões de toneladas para a produção nacional. O problema é que falta armazenagem. “O milho está chegando, mas ainda temos soja nos silos. Estão sendo utilizados bags (grandes sacos) para colocar essa safra”, explica o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura, Jaime Verruck.
ETANOL. A produção de etanol, novo mercado para o consumo interno de milho, deve consumir este ano 10,3 milhões de toneladas do grão no Brasil, alta de 30% em relação a 2021, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem).
Segundo o presidente executivo da Unem, Guilherme Nolasco, o setor de etanol de milho está em expansão. “O etanol de milho se consolidou como alternativa para a verticalização da produção de milho, agregação de valor e, desde a última safra, como importante equalizador no mercado de combustível.”
Hoje, 17 usinas de etanol de milho estão em operação, sendo 10 em Mato Grosso, 5 em Goiás, 1 no Paraná e 1 em São Paulo. Desde o ano passado, usinas que já atuam no mercado vêm anunciando expansão de suas unidades. Além disso, pelo menos duas novas unidades deverão entrar em operação este ano, uma delas em Dourados (MS). •
Fonte: O Estado de S. Paulo

