Por Dow Jones Newswires — De Hong Kong e Pequim
06/03/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
A China divulgou sua menor meta de crescimento em mais de duas décadas, diante de desafios econômicos internos e externos enfrentados, à medida que o país emerge de três anos de medidas rigorosas para controlar a covid-19.
A meta chinesa de crescimento PIB em torno de 5% em 2023, anunciada ontem pelo premiê Li Keqiang, no início da reunião anual do Congresso Nacional do Povo, indica que autoridades estão menos preocupadas em conseguir puramente expansão econômica e atentas a outras prioridades.
Juntamente com a meta de crescimento, o governo chinês anunciou ampliação dos gastos militares para 7,2% do PIB neste ano, ante 7,1% em 2022, em meio ao aumento das tensões com EUA e aliados americanos em relação a Taiwan.
Os gastos militares totais em 2023 somarão cerca de US$ 224 bilhões, segundo orçamento preliminar divulgado na abertura da reunião anual do Congresso Nacional do Povo da China. Trata-se do maior aumento desde 2019.
O aumento indica a prioridade dada por Xi Jinping à modernização das forças militares chinesas, mesmo com a perspectiva de crescimento econômico mais moderado. A expansão é acompanhada de perto por autoridades americanas, para quem a crescente capacidade militar da China representa ameaça cada vez maior a Taiwan.
Nas reuniões desta semana do Parlamento, o líder do país, Xi Jinping, deverá fortalecer seu controle sobre as áreas de segurança, finanças e tecnologia, trocando nomes em cargos-chave no governo.
A meta de crescimento em 2023 é mais conservadora em comparação à de 5,5% traçada por Pequim para 2022 e que esteve longe de ser alcançada, afetada pelos rigorosos controles contra a covid-19 e pelo declínio do setor imobiliário.
A expansão de 3% em 2022 foi a menor em décadas, com exceção de 2020, ano de maior impacto da covid-19, quando autoridades desistiram de atingir qualquer meta.
“Neste ano, é essencial priorizar a estabilidade econômica e buscar o progresso, garantindo a estabilidade”, disse Li, no documento apresentado ontem.
Se a China conseguir reencontrar o ritmo após abandonar restrições da covid-19, poderia retomar trajetória que lhe permita superar os EUA como maior economia do mundo – o que economistas passaram a ver com ceticismo, à medida que a pandemia se estendia.
No curto prazo, a meta de crescimento de 5% mostra a cautela das autoridades com a série de problemas que poderiam desacelerar o ritmo da recuperação, mesmo na ausência das medidas contra a covid-19. A lista inclui a confiança morna de consumidores e empresas, a fraca demanda externa e o alto endividamento dos governos locais, que poderia limitar a capacidade de estimular a economia.
A meta de 5% é especialmente cautelosa, dada a forte recuperação da atividade comercial no começo deste ano, segundo Louise Loo, da Oxford Economics.
Ontem Li disse que o governo elevaria os gastos em 5,6% em 2023, menos do que em 2022, e que a arrecadação deverá crescer 6,7%, mais do que em 2022. O governo projeta déficit fiscal de 3% do PIB neste ano, acima dos 2,8% de 2022 – indicando que Pequim não promoverá fortes estímulos.
Umas das dúvidas sobre 2023 é até que ponto o ritmo de crescimento das exportações desacelerará, depois de elas terem ajudado a impulsionar a economia na pandemia. Na terça-feira, serão divulgados dados da balança comercial dos dois primeiros meses do ano.
Outro fator crítico para a recuperação da China como um todo é a sustentabilidade de qualquer retomada dos gastos dos consumidores no pós-pandemia.
Economistas estão atentos para ver o que famílias farão com todo o dinheiro poupado durante a pandemia. Alguns argumentam que as incertezas conterão o impulso de gastos dos consumidores.
O desemprego entre os jovens, depois de ter chegado a um pico de quase 20% em 2022, permanece alto. Além disso, há poucos sinais de que o governo dará novos incentivos ao mercado imobiliário, em crise desde o fim de 2020.
Fonte: Valor Econômico

