Primeiro registro foi feito na capital paulista, mas especialistas dizem que vacina continua eficaz
- O Estado de S. Paulo.
- 3 May 2023
- CAIO POSSATI RENATA OKUMURA
OMS em xeque Mutações ainda colocam em dúvida o plano de declarar o fim da pandemia neste ano
Sintomas diversos A nova variante causa irritação nos olhos, como em conjuntivites, tosse seca e episódios febris
Sequenciada pela primeira vez na Índia em janeiro, e hoje presente em quase 40 países, a nova variante da covid-19 Arcturus, também chamada de XBB.1.16, já circula no Brasil. A cepa recém-descoberta foi detectada no na cidade de São Paulo, segundo informações do Ministério da Saúde e da Prefeitura da capital paulista.
A linhagem vem sendo tratada desde meados de abril como uma variante de interesse (VOI, na sigla em inglês), pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em função da sua rápida disseminação nas últimas semanas. A Arcturus é uma linhagem que descende da BA.2 – que por sua vez derivou da Ômicron
Embora provoque sintomas diferentes em comparação com cepas passadas, como conjuntivite e quadros de febre alta, a nova linhagem não apresentou, até o momento, potencial para causar ondas de mortes e hospitalizações ou levar a riscos mais graves à saúde dos infectados, segundo especialistas. Além disso, as atuais vacinas disponíveis, de acordo com epidemiologistas ouvidos pelo Estadão, dão conta de garantir a proteção contra a variante recém-descoberta.
VISÃO DOS ESPECIALISTAS.
Segundo Claudia França Cavalcante Valente, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), há grandes chances de a vacina bivalente proteger contra a nova variante. “Ainda não há estudos, mas as pessoas com cobertura vacinal no esquema básico, com duas doses e um reforço, e agora com a cobertura de uma nova dose da bivalente, devem estar protegidas contra a XBB.1.16”, afirma.
Claudia avalia que o atual esquema de vacinação recomendado no Brasil ajudará a proteger contra essa nova variante. “O que temos de fazer é manter um esquema vacinal para podermos nos manter protegidos contra novas variantes que surgem. Muito provavelmente, o esquema vacinal orientado hoje é suficiente para a cobertura contra a nova variante. Mas a vigilância epidemiológica de todos os Estados estará sempre em alerta, identificando OS casos, para ver como a variante se comportará no Brasil.”
Pesquisadora e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Ester Sabino também defende a importância da vacinação na prevenção de casos graves. “Essa linhagem faz parte da Ômicron. É possível que tenha perda da eficácia, mas a vacina diminui risco de doença grave para variantes da Ômicron”, afirma.
O epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz, também avalia que as atuais vacinas distribuídas no Brasil são capazes de proteger a população da variante. “Não há grande razão para pensarmos que vacinas como a bivalente deixarão de ser altamente efetivas para casos graves e morte por covid. A Arcturus só mostra que o vírus seguirá infectando muitas pessoas e matando outras, especialmente não vacinados, incompletamente vacinados e grupos de maior risco, como idosos e imunossuprimidos”. afirma.
PANDEMIA ATÉ QUANDO?
Segundo a OMS, entre o fim de fevereiro e início de março, a prevalência da XBB.1.16 era de 0,52%. O índice subiu para 4,31% recentemente. A linhagem mais comum atualmente é a XBB.1.5, também conhecida como Kraken, com 45%.
Mas não está descartada a possibilidade de a Arcturus se tornar predominante.
Representante do Brasil no Grupo Assessor Estratégico de Especialistas em Vacinas (Sage) da OMS, o infectologista Renato Kfouri afirma que a XBB.1.16 é uma variante que tem mais mutações e está ganhando protagonismo em muitos países. “Toda a vez que há uma variante que ganha protagonismo é porque, de algum modo, ela conseguiu vencer essa barreira de infectar imunizados, mas não há ainda evidência de que seja mais grave ou que as vacinas não funcionam. Pelo contrário, os primeiros dados já mostram a neutralização dela e, clinicamente, parece que dá mais conjuntivite”, afirma.
Até o último relatório técnico da Organização Mundial da Saúde, que foi publicado nesta semana, nenhuma mudança na gravidade da saúde de pacientes contaminados havia sido relatada em países onde a XBB.1.16 está circulando. Só na Índia e na Indonésia foi presenciado ligeiro aumento na ocupação de leitos, mas os níveis de internações ainda estão bem abaixo dos relatados em ondas anteriores.
Embora os riscos da Arcturus sejam baixos, a variante foi lembrada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, em apresentação no dia 26. “Como ilustra o surgimento da nova variante XBB.1.16, o vírus ainda está mudando e é capaz de causar novas ondas de doenças e mortes”, disse. Adhanom ainda afirmou ter esperanças de declarar o fim do covid-19 como uma emergência de saúde pública mundial ainda neste ano.
Para o epidemiologista Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz, embora não se possa afirmar que a nova variante provoque “um desastre sanitário, tal como foi a Gama (P.1), na América do Sul”, a Arcturus coloca em xeque o plano de declarar o fim da pandemia mais rapidamente.
DETALHAMENTO.
De acordo com o Ministério da Saúde, um caso da variante XBB.1.16 foi registrado na cidade de São Paulo. A pasta afirma que as evidências sobre essa linhagem ”não indicam riscos à saúde pública se comparada a XBB.1.5 – que é a principal cepa em circulação no País – e nem de aumento na gravidade dos casos”.
O paciente é um homem de 75 anos, com comorbidades, segundo a Secretaria Municipal de Saúde da capital paulista. O idoso também não tinha registro de viagens recentes e apresentou o esquema vacinal completo contra covid-19, tendo, inclusive, recebido a dose bivalente da Pfizer.
Ele apresentou sintomas gripais e quadro de febre no dia 7 de abril, foi atendido pela rede de saúde privada da cidade e teve alta no dia 27. O caso foi notificado no dia seguinte e confirmado pela Prefeitura nesta segunda-feira.
Segundo o Município, a Arcturus não apresentou “gravidade ou aumento no número de casos na cidade de São Paulo” até o momento. “Entre os principais sintomas causados pela nova variante estão irritação nos olhos (parecidos com conjuntivite), tosse seca e episódios febris”, informou. Alguns desses sintomas foram vistos com menos frequência em cepas que predominaram no País no passado. •
Fonte: O Estado de S. Paulo