Qualquer estudante de introdução à economia sabe que os preços sobem quando a demanda supera a oferta. Por isso, investir no que é escasso costuma ser uma boa estratégia de longo prazo.
Muitas vezes, o termo econômico “escassez” é usado para descrever recursos ou capacidade em termos físicos, mas, historicamente, o mercado de ações tem feito uso de uma visão mais abrangente. Lucros em alta, por exemplo, costumam tornar-se um evento limitado durante recessões, portanto os valores relativos das ações das empresas capazes de continuar elevando seus lucros aumentam, apesar de um cenário desafiador.
Nos mercados de hoje, as “certezas” parecem ser um bem extremamente escasso. Os caprichos de Washington criaram um ambiente altamente incerto, no qual fazer previsões é praticamente impossível. Se, por um lado, os investidores estiveram durante muitos anos apostando em investimentos especulativos, como as ações das chamadas “Sete Magníficas” da tecnologia, criptomoedas e empresas sem ativos reais, agora, eles vêm percebendo que previsões que prometem o céu não servem para nada quando não se pode nem prever quais serão as mudanças nas políticas do dia seguinte.
A maioria dos investidores racionais não está interessada em saber se as políticas dos governos são apropriadas ou não. Querem uma comunicação clara para poder avaliar oportunidades de investimentos. No entanto, de repente, essa clareza tornou-se fugaz.
Os investidores sempre devem tentar ignorar a política, mas o atual governo dos EUA parece querer interferir no setor privado consideravelmente mais do que no passado. A oscilação das políticas vem atrapalhando a capacidade do setor de investimentos de se planejar estrategicamente. Ainda mais importante, mudanças impulsivas nas políticas deixam os investidores no escuro, tentando adivinhar se as oportunidades são reais ou só miragens.
Os indicadores que medem a incerteza estão em níveis recordes. O Índice de Incerteza das Pequenas Empresas da NFIB (federação das empresas independentes dos EUA) e o Índice Baker, Bloom e Davis de Incerteza de Comércio Exterior são duas das métricas mais citadas. Eles indicam que a incerteza está em seu nível mais alto em várias décadas ou perto disso.
Nunca há uma percepção perfeita das perspectivas, portanto, em qualquer investimento, se espera algum nível de incerteza. Os prêmios de risco são o ajuste natural dos mercados. Investimentos de menor qualidade ou mais imprevisíveis tendem a oferecer retornos esperados mais altos para compensar o leque de resultados possíveis.
O aumento da imprevisibilidade é a causa da recente volatilidade. O mercado de ações dos EUA está simplesmente ajustando seu prêmio de risco e seus preços com base em uma gama mais ampla de resultados incertos. A percepção de certeza impulsiona valores relativos mais altos para as ações, enquanto políticas instáveis levam a múltiplos mais baixos na relação entre preço e lucro projetado.
No índice S&P 500, desde 1º de janeiro, essa relação caiu de 25 para 20, um recuo de 20%. Isso reflete o desejo dos investidores por um prêmio de risco maior, pois os lucros e fluxos de caixa estão se tornando cada vez mais nebulosos.
Se a certeza é, de fato, uma escassez, então fluxos de lucro estáveis e previsíveis deveriam começar a ter valores relativos mais altos. No entanto, parece que o mercado não percebeu completamente isso.
Considere os Rankings de Ações Ordinárias do S&P, uma métrica às vezes negligenciada sobre o crescimento e a estabilidade dos lucros e dividendos. As ações de empresas de alta qualidade fora de tecnologia – com notas “A+”, “A” ou “A-” – hoje são negociadas com um desconto de 25% a 30% em relação às do setor de tecnologia do S&P 500.
Os retornos em dinheiro são mais seguros do que aqueles baseados no crescimento, e essas ações não tecnológicas de alta qualidade também oferecem dividendos quase quatro vezes maior que o das ações tecnológicas.
Estatísticas similares se aplicam às ações europeias. Empresas europeias de alta qualidade são negociadas com desconto de 15% em relação às ações de tecnologia dos EUA e oferecem um rendimento de dividendos três vezes maior.
Em outras palavras, a certeza não está apenas escassa, mas também está barata.
Se consistência e clareza não se tornarem normas nas políticas governamentais, os investidores aguardam que a recente reavaliação continue. Se Washington continuar alterando a seu capricho as políticas comerciais, geopolíticas e trabalhistas, impedindo empresas e investidores de avaliar os fundamentos, os investidores provavelmente direcionarão suas carteiras de investimento para a segurança de fluxos de lucros mais estáveis.
A escassez costuma impulsionar retornos duradouros nos investimentos. Às vezes, o crescimento é escasso, outras vezes, o valor é escasso. Hoje, a certeza e a confiança são recursos muito escassos.
Richard Bernstein é executivo-chefe da Richard Bernstein Advisors
Fonte: Valor Econômico