O câmbio doméstico contrariou as projeções traçadas no início do ano e se fortaleceu de forma consistente. Com o dólar perto de R$ 5,40, parte do mercado continua a revisar para baixo as expectativas para a moeda americana e vê espaço para que o real se mantenha em níveis mais apreciados. No começo de janeiro, a mediana das projeções das instituições financeiras, no relatório Focus do BC, apontava para dólar em torno de R$ 6 no fim deste ano. Enquanto alguns bancos mantêm um tom mais cauteloso, outros já projetam um câmbio ainda mais forte, sustentado pelo elevado diferencial das taxas de juros.
O caso recente mais evidente é o do Goldman Sachs, cuja projeção aponta agora para dólar a R$ 5,10 em seis meses, ou seja, no fim de 2025. “O real é uma das moedas com melhor desempenho neste ano, sustentado por uma queda no prêmio de risco específico do país (que havia aumentado no fim de 2024), por taxas reais elevadas e por um ambiente global mais favorável a risco”, escrevem os estrategistas do banco americano em relatório a clientes.
“Do ponto de vista tático, esse desempenho acima da média torna o real vulnerável a possíveis oscilações no apetite por risco ou a manchetes relacionadas à situação fiscal doméstica. No entanto, fora das considerações de curto prazo, acreditamos que há espaço para uma valorização adicional da moeda e para que ela continue superando outros ativos em retorno total na segunda metade de 2025”, avaliam os profissionais do Goldman Sachs.
Há no mercado um sentimento geral de maior otimismo com os ativos brasileiros, sobretudo pelo capital externo. Foi o que notaram os profissionais do HSBC, em relatório enviado a clientes, sobre sua percepção em relação aos mercados domésticos durante conversas recentes com investidores estrangeiros em Londres. De acordo com o banco, operações compradas (apostas na alta) em real contra o dólar e aplicadas em juros “são apostas consensuais”.
“Não nos lembramos de um período com viés tão otimista em relação aos ativos locais nos últimos anos, segundo os clientes. Os juros reais elevados são um dos principais motivos para esse otimismo, enquanto o real é beneficiado pela fraqueza do dólar”, afirmam. De acordo com o banco, a percepção é que há uma preferência mais forte por expressar esse otimismo por meio do real, e não via mercado de juros, o que marca uma diferença em relação aos investidores locais.
Até sexta-feira, o dólar acumulou queda de 12,23% no ano ante o real, um valor semelhante ao de outros mercados emergentes, embora a divisa brasileira, de fato, exiba uma apreciação um pouco superior. O dólar recua 10,68% contra o peso mexicano no ano; cede 7,66% em relação ao peso chileno; e tem baixa de 10,56% na comparação com o peso colombiano.
Embora no ano o real apresente desempenho superior aos pares regionais, o comportamento mais recente da moeda brasileira se mostra bem alinhado. Esse resultado, na avaliação do estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, reflete alguns fluxos sazonais de saída de dólares do país e o aumento das tensões entre o governo e o Congresso Nacional, o que “eleva levemente o grau de dificuldade para o cumprimento da meta fiscal de 2026, mas, ao mesmo tempo, limita a capacidade do governo de introduzir impostos altamente distorcivos e de expandir ainda mais os gastos”.
No campo positivo para o real, Giacomelli observa que a sinalização do Banco Central de que manterá a Selic alta “por um período bastante prolongado” aponta para um diferencial de juros crescente em relação a outros países, ao mesmo tempo em que o pior momento para o balanço de pagamentos “provavelmente já passou”.
Nesse sentido, o Deutsche Bank continua a projetar dólar cotado a R$ 5,50 no fim deste ano, mas diz esperar que “um compromisso entre o governo e o Congresso; uma política monetária restritiva; o enfraquecimento do dólar global; e uma melhora nos fluxos sustentem ganhos moderados no câmbio à vista e bons retornos totais”.
O BradescoCotação de Bradesco, na equipe de economistas comandada por Fernando Honorato Barbosa, também projeta o dólar a R$ 5,50 no fim do ano, embora observe que, na comparação com os pares, seria possível uma valorização bem mais expressiva do real. Em revisão de cenário, o banco apontou que o dólar poderia chegar a R$ 5,03 se acompanhasse o desempenho da cesta de moedas emergentes e, caso seguisse o DXY, poderia alcançar R$ 4,63.
“Entretanto, as incertezas fiscais de médio prazo podem alterar essa trajetória e impedem alta convicção na direção dos modelos”, afirmam os economistas do banco. “Por isso, decidimos ajustar a projeção para próximo dos níveis correntes, em R$ 5,50 por dólar. A decisão da interrupção da alta de juros pelo BC, combinada com o ambiente global, deve favorecer o ‘carry trade’ e a tomada de risco pelos estrangeiros, nos próximos meses, amparando essa direção de apreciação.”
Fonte: Valor Econômico

