Para o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central (BC), o cenário de manutenção de apetite a risco das instituições financeiras, elevação na taxa de juros e aceleração de crédito para pequenas empresas e famílias “requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito, tanto na qualidade dos empréstimos quanto no apetite ao risco”. A avaliação consta na ata da última reunião do Comef, realizada na semana passada.
Segundo o Comef, houve aceleração no crescimento do crédito para micro, pequenas e médias empresas, que “já possuem materialização de risco e endividamento elevados”. No caso das famílias, o crescimento do crédito nas modalidades de maior risco se acelerou e houve uma “leve piora” na qualidade das concessões em algumas modalidades, em um contexto de “comprometimento de renda e endividamento elevados”.
“Na visão do Comitê, esse cenário, adicionado à elevação da taxa de juros, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito, tanto na qualidade dos empréstimos quanto no apetite ao risco”, apontou a ata.
Para o colegiado, no entanto, os preços dos ativos e o crescimento do crédito não representam preocupações no médio prazo, apesar da existência de incertezas. “Os principais ativos de risco da economia vêm seguindo trajetórias de preço moderadas. O crédito bancário manteve seu ritmo de crescimento, em linha com a atividade econômica, que tem apresentado crescimento acima do esperado, e com a manutenção do apetite ao risco. A importância do crédito obtido via mercado de capitais é substancial e continua crescendo”.
O Comef destacou que as provisões do sistema financeiro “permanecem adequadas” e estão acima das expectativas de perdas esperadas.
Na avaliação do comitê, a materialização de risco de crédito às famílias “continuará em queda”, com exceção do crédito rural. Por outro lado, o colegiado ressaltou que a materialização segue elevada para micro, pequenas e médias empresas “e não deverá apresentar alteração relevante no curto prazo”. Já no caso de grandes empresas, o Comef explicou que a solução de casos “pontuais” reduziu os ativos problemáticos.
Segundo o colegiado, os níveis de capitalização e de liquidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN) seguem superiores aos requerimentos prudenciais. “O Comef segue atento à dinâmica das cadernetas de poupança e dos demais instrumentos de captação para o crédito imobiliário. A rentabilidade do SFN segue melhorando gradualmente, influenciada pelo crescimento do resultado de juros com operações de crédito e pelo menor custo com provisão”, apontou.
A ata ainda descreve que o sistema está resiliente segundo o resultado de testes de estresse realizados. O impacto mais severo seria um cenário de quebra de confiança no regime fiscal. Essa avaliação já constava na ata da reunião anterior, que ocorreu em agosto.
Desde então, o governo apresentou medidas fiscais de redução de gastos que teriam impacto de R$ 70 bilhões, segundo o governo. No mesmo dia, o governo anunciou a proposta de isentar de Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil por mês, com previsão de compensação. As medidas não foram bem recebidas pelo mercado.
De acordo com a ata, os testes também indicam que o SFN está apto a absorver impactos no capital das mudanças regulatórias que terão efeitos a partir de janeiro de 2025, fazendo referência a regulamentação que alinha as regras contábeis aos padrões internacionais IFRS 9.
Fonte: Valor Econômico

