Por Liane Thedim — Do Rio
09/08/2023 05h05 Atualizado há 6 horas
A Capitânia quer 20 anos em cinco. Especializada em crédito, a gestora completou em julho duas décadas de sua fundação, com R$ 25 bilhões sob gestão e 400 mil cotistas. E, até 2028, planeja dobrar de tamanho, com R$ 50 bilhões e nada menos do que um milhão de cotistas. Para isso, atua em três frentes: atuação em dois novos nichos de clientes, lançamento de quatro fundos – em dois deles já captou R$ 400 milhões – e compra de assets menores.
“Passamos 20 anos no mesmo escritório com 40 posições. Acabamos de mudar para um novo, com 80, que aguenta os próximos 20”, diz Arturo Profili, sócio-fundador da Capitânia, que por 14 anos teve porte de pequeno a médio, numa faixa de ativos até R$ 5 bilhões. Nos últimos seis anos, ganhou escala, acompanhando o crescimento do mercado de crédito, até chegar a R$ 10 bilhões em 2021, quando deu a grande virada, com a venda de 20% para a XP. De lá para cá, mais do que duplicou seus ativos sob gestão.
“Foi uma parceria que rendeu muita sinergia”, avalia Profili. Segundo ele, a XP foi uma espécie de consultor estratégico, fornecendo inteligência de produto e mostrando como aproveitar melhor sua capacidade como distribuidora. “E funcionou como um selo de qualidade, que reconheceu a perenidade da Capitânia”, diz Flávia Krauspenhar, sócia-fundadora.
Agora, nesse novo patamar, a gestora busca aumentar a estabilidade de seu passivo, formado por fundos de pensão e de previdência privada, sete multifamily offices (com fundos exclusivos) e varejo. A ideia é atrair single family offices e investidores estrangeiros. “Já temos algumas alocações desses segmentos, mas queremos expandir os dois. Construindo mais esses dois pilares teremos um passivo mais diversificado e mais longo”, comenta Profili. “Um dinheiro mais calmo em tempos de eventuais crises.”
Segundo Krauspenhar, as conversas com os estrangeiros têm sido frutíferas para os fundos imobiliários (FIIs), segmento que, não por acaso, concentra os lançamentos de produtos, todos focados em ativos de renda. O primeiro é focado em participações em shoppings e já está com aproximados R$ 200 milhões. O segundo é de lajes corporativas (escritórios), também com PL de R$ 200 milhões.
O terceiro, que Profili chama de “renda urbana”, vai alocar recursos em “ativos que você esbarra numa cidade mas que não são os shoppings típicos”. Por exemplo, supermercados, farmácias, lojas de material de construção. Mas este ainda está em fase de mapeamento para aquisição, desenvolvimento e retrofit. E, por último, um fundo de logística (como galpões, por exemplo), também em montagem. Os quatro vão adicionar um mínimo de R$ 1,5 bilhão ao portfólio até 2024. “No setor imobiliário, já temos R$ 9 bilhões em ativos, entre eles Certificados de Recebíveis Imobiliários [CRIs], alocações em FIIs e até propriedades que geram renda. Já temos escala.”
Os outros setores de atuação da gestora são crédito privado em geral, infraestrutura e agronegócio, em mais de 40 fundos. “Se juntasse todos, seriam 250 papéis de crédito e alocação em 50 FIIs. E todo ano a gente direciona recursos para novos 75 ativos”, sistematiza Profili. Os sócios optaram por não entrar no segmento de originação, estruturação e distribuição do crédito. Decidiram ser um “investidor padrinho ou âncora de transações”.
“A gente conversa todo o tempo com 50 hubs de transações, que são os grandes bancos, as securitizadoras, as butiques, outras assets, o mercado secundário. Eles apresentam as operações, fazemos uma análise ágil para transformar no que consideramos apropriado e entramos como um capitalista, com R$ 25 milhões a R$ 100 milhões por caso”, explica Profili. De acordo com ele, ser “um fazedor profissional de cheques” possibilitou à gestora “rodar de forma leve”, já que para avaliar emissores e garantias seria preciso ter uma equipe de no mínimo 80 pessoas.
No agronegócio, setor que vem sustentando o crescimento do PIB, já são cerca de 50 ativos – Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Fiagros e FIDCs -, num total de R$ 800 milhões. “Estamos conseguindo entrar em duas operações novas por mês. São produtores, indústrias, prestadores de serviço, comércio, players que estão melhorando a governança e com mais facilidade para acessar o mercado de capitais”, diz o sócio da Capitânia.
Profili, no entanto, frisa que a cautela permeia todas as transações, sobretudo nesse momento de juros em patamares altíssimos, que vêm sufocando o fluxo de caixa das empresas, e depois da crise que afetou fortemente o setor de crédito privado no início do ano, depois do escândalo da Americanas e da recuperação judicial da Light.
“Os bancos estão mais cautelosos, o que aperta ainda mais as empresas. Todo dia a gente amanhece aqui olhando os 300 ativos que compõem nossos fundos para ver se alguém está com febre. Temos 15 analistas dedicados a isso.” A gestora tinha Americanas e Light em carteira e, no primeiro trimestre, o resultado do fundo de crédito ficou abaixo do objetivo. “Estamos trabalhando para recuperar e entregar no mínimo o CDI.”
Em meio a esse cenário difícil, em que várias assets há meses enfrentam pesados resgates de seus fundos, a Capitânia busca oportunidades para ir às compras. Profili afirma já estar em conversações com empresas de R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões, que têm equipe enxuta e sinergia possível com a gestora. “São casas que a gente conhece e faz mais sentido estar junto do que separado. Estamos pela primeira vez olhando para fora, após 20 anos.”
Fonte: Valor Econômico

