O mercado de trabalho brasileiro surpreendeu em janeiro com um ritmo mais forte de geração de vagas com carteira assinada que o esperado. O bom desempenho apaga a má impressão deixada pelos dados do mês anterior e reforça que a desaceleração do mercado de trabalho e da atividade econômica deve ser gradual, avaliam economistas.
Segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o país gerou 137.303 vagas formais líquidas no mês passado. O resultado veio bem acima da mediana das instituições consultadas pelo Valor Data, que era 51.508 de vagas. As projeções variavam entre 20 mil a 175.692 vagas.
Foram registradas 2.271.611 admissões contra 2.134.308 desligamentos no mês passado. O resultado líquido foi menor do que o de janeiro de 2023, quando houve a abertura de 173.233 postos de trabalho.
Quatro dos cinco setores da economia registram saldo de vagas em janeiro: serviços (45.165); agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (35.754); indústria geral (70.428); construção (38.373). O setor de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas teve fechamento líquido de (52.417) vagas.
A surpresa de janeiro mitiga o susto com os dados de dezembro, quando houve destruição líquida de 535.547 vagas, bem acima do esperado. Naquele momento, o dado reforçou a leitura de uma desaceleração mais rápida da economia. “O mercado de trabalho tem se mostrado resiliente. Os números indicam que a desaceleração da atividade econômica será lenta e não linear”, diz o Bradesco em relatório.
Também em relatório, a Genial Investimentos destacou o comportamento da razão entre os salário de admissão e de demissão, métrica utilizada para aferir o aperto no mercado de trabalho. O indicador avançou 0,5 ponto porcentual em relação a janeiro de 2024 e se encontra no patamar mais elevado desde janeiro de 2022. “Corrobora a nossa percepção de que apesar da política monetária contracionista, o mercado de trabalho segue robusto”, escreve a equipe de economistas da corretora.
Os desligamentos a pedido do trabalhador, por sua vez, alcançaram 809.724 em janeiro, uma alta mensal de 17% e maior valor da série histórica, nota a MCM Consultores. A taxa de rotatividade, ou a proporção entre desligamentos a pedido e desligamentos totais, subiu a 37,9%, também maior patamar da série histórica.
“O indicador continua mostrando o grau de aquecimento do mercado de trabalho, pois possivelmente boa parte destas pessoas se desligou a fim de se admitir em outros lugares, sob condições mais vantajosas, sendo um sinal de que as pessoas estão encontrando maior oferta de vagas”, diz a consultoria.
Em janeiro, taxa de rotatividade subiu a 37,9%, maior patamar da série histórica do Caged
O resultado do Caged havia sido parcialmente antecipado na segunda-feira (24), quando o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, afirmou que o relatório mostraria saldo superior a 100 mil empregos em janeiro.
Na ocasião, o comentário levou a uma alta dos juros futuros – participantes de mercado avaliam que, diante de uma economia aquecida, a consumo das famílias seguirá firme e o Banco Central terá mais trabalho para controlar a inflação. Este movimento se repetiu na quarta-feira, após a divulgação dos dados.
Na entrevista coletiva organizada para comentar os números, o ministro criticou o mercado por achar “ruim” a divulgação de números melhores que o esperado. “Parece que o mercado ficou nervosinho”, afirmou, acrescentando que o “mercado real” reage com política de aumento real de salário mínimo.
Marinho aproveitou a ocasião para reforçar que a Medida Provisória (MP) que libera recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores que aderiram ao saque-aniversário será publicado na próxima sexta-feira. Dos R$ 12 bilhões que serão injetados na economia, metade será paga em março, e o restante, em junho. A primeira parcela liberará saldos de até R$ 3 mil e deve contemplar 93,5% dos 12,1 milhões de trabalhadores com direito aos recursos, informou.
Já a MP que muda as regras do crédito consignado privado será publicada na semana depois do Carnaval. “O sistema já está redondo”, disse Marinho.
Fonte: Valor Econômico

