Por Estevão Taiar e Lu Aiko Otta — De Brasília
25/10/2022 05h01 Atualizado há 10 minutos
O Ministério da Economia indicou oficialmente ontem o ex-presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, como candidato para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A existência de uma articulação para que Ilan fosse o indicado foi publicada pelo Valor nas últimas semanas.
A tendência é que agora os ministérios da Economia e das Relações Exteriores intensifiquem as articulações políticas para garantir a eleição, que seria a primeira de um brasileiro desde a fundação do órgão multilateral de crédito, em 1959.
Formado por 48 países, o BID é o principal banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe, com as novas operações alcançando US$ 23,4 bilhões no ano passado.
Desde setembro, quando o americano Maurício Claver-Carone foi destituído após uma apuração que revelou seu envolvimento amoroso com uma funcionária, a instituição é presidida interinamente pela hondurenha Reina Irene Mejía Chacón.
A eleição para a presidência será realizada em 20 de novembro. Para garantir o posto, o indicado precisa superar duas barreiras. A primeira é conseguir o apoio de pelo menos 15 de 28 países que têm direito a voto.
Além disso, é necessário conquistar a maioria dos votos, que variam de acordo com o capital subscrito que cada país tem na instituição. Os Estados Unidos, por exemplo, são responsáveis por 30% dos votos, enquanto o Suriname tem apenas 0,089%.
A possibilidade de o Brasil conquistar o apoio dos Estados Unidos foi tratada na primeira quinzena deste mês em Washington em reunião entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a secretário do Tesouro americano, Janet Yellen.
Segundo apurou o Valor, Yellen se mostrou favorável à demanda brasileira, mas lembrou para Guedes que a decisão não cabe a ela.
O ministro também abordou o tema na capital americana com os ministros das Finanças da Colômbia, José Antônio Ocampo, e do Chile, Mario Marcel.
Em ambos os casos, a receptividade foi considerada “excelente” pela delegação brasileira.
Atualmente, Ilan é diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre 2016 e 2019, presidiu o Banco Centra. Também atuou como presidente do conselho de administração do Credit Suisse no Brasil e economista-chefe do Itaú.
Na nota que confirmou a indicação, Guedes disse que Ilan “concilia ampla e bem-sucedida experiência profissional no setor público, em organismos multilaterais e no setor privado, além de sólida formação acadêmica, que o qualificam inequivocamente para o exercício do cargo”.
Também segundo o ministro, o Brasil “está comprometido” com “o processo de integração regional, impulsionando o desenvolvimento de infraestrutura verde de transportes, energia e telecomunicações” nos países que fazem parte do BID. Com isso, pretende levar a uma “maior integração da América Latina e Caribe às cadeias regionais e globais de valor, com ganhos esperados de produtividade, emprego e renda para a região”.
“Além disso, será importante buscar uma maior participação privada sempre que esta seja possível, num esforço para aumentar significativamente a mobilização de recursos para o financiamento dos projetos de desenvolvimento sustentável da região”, diz.
Segundo fontes, Guedes defende que o banco atue mais fortemente em obras ambiciosas de integração regional, como a ferrovia Transoceânica e Vaca Muerta. O primeiro projeto atravessaria o Brasil e o Peru, para criar um corredor entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
Vaca Muerta é a segunda maior reserva de xisto do mundo, localizada na Argentina. Há planos para a construção de um gasoduto até o Brasil.
Fonte: Valor Econômico

