Por Matheus Schuch — De Brasília
23/03/2023 05h00 Atualizado há 14 horas
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que a apresentação de “um bom arcabouço” fiscal permitirá que o Copom reduza a Selic já na próxima reunião, prevista para os dias 2 e 3 de maio – ontem, o Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano. Enquanto ministros e lideranças do PT cobravam com veemência a revisão imediata da taxa básica de juros, Tebet pontuou (antes da decisão do Copom) que a redução precisa ser acompanhada de uma sinalização clara de compromisso fiscal.
“Apresentando o arcabouço, só de apresentar e se for um bom arcabouço, vai permitir que na próxima reunião do Copom, daqui um mês ou 45 dias, que estes juros comecem a cair. Aí fica tudo mais barato na vida das pessoas”, afirmou Tebet, em entrevista a uma rádio de Mato Grosso do Sul.
A ministra ponderou ontem que a queda na curva dos juros depende do compromisso do país em não gastar mais do que recebe.
Sem entrar em detalhes por respeito a uma “cláusula de sigilo”, a ministra afirmou que o novo marco fiscal definirá que o país precisa investir na pauta social, que “não pode faltar dinheiro para educação, saúde, merenda escolar”, mas será necessário definir prioridades.
“O Brasil precisa mostrar nos próximos dois ou três anos que é um bom aluno e faz o dever de casa”, frisou a ministra. “O arcabouço vai olhar pelo lado da despesa, para que pelo menos a gente zere este jogo, para não gastar mais do que arrecada. E de outro lado, também tentar estabilizar e até diminuir esta dívida que temos para que os juros caiam. E eles precisam cair porque a economia está desaquecida. Os juros são altos não porque tem muita demanda.”
A apresentação das novas regras fiscais estava prevista para esta semana, mas foi adiada diante da necessidade de adequar alguns parâmetros do texto. Em entrevista à Globo News, ontem, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que os ajustes finais devem ser encaminhados em breve porque, em um primeiro momento, houve boa aceitação das linhas gerais do projeto entre lideranças do Congresso.
“No desenho geral já há avanço bastante grande. É um desenho que busca recuperar credibilidade e sustentabilidade da política fiscal, ao mesmo tempo em que abre espaço para alguma flexibilidade e para o financiamento adequado das políticas públicas”, frisou. “Existe uma transição que precisa ser pensada em todos os seus detalhes e consequências, mas acredito que isso vai avançar rapidamente com a boa vontade montada pelos parlamentares e a boa receptividade do texto.”
Mello criticou a Selic alta e gostaria que ainda na reunião de ontem o Copom já levasse em conta os possíveis efeitos da quebra de bancos no exterior e a dificuldade de acesso a crédito no Brasil.
O secretário acrescentou que, apesar de isolados, eventos como a crise da Americanas podem levar a um cenário generalizado de pedidos de recuperação judicial, outro tema sensível às variações da Selic.
“Está ficando cada vez mais claro que o aperto das condições financeiras, o custo e a dificuldade de acessar crédito têm afetado diretamente a rentabilidade e a viabilidade de diversos setores da economia”, pontuou.
Fonte: Valor Econômico

