Por Matheus Schuch, Lu Aiko Otta e Estevão Taiar — De Brasília
10/06/2022 05h01 Atualizado há 5 horas
Com sua popularidade desgastada pela alta de preços, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ontem um apelo ao setor supermercadista para reduzir os preços, pois a “conta” da inflação é injustamente atribuída a ele. O presidente mostrou preocupação em relação ao efeito da alta da inflação na sua campanha pela reeleição e apontou que o atual cenário favorece a candidatura de seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Numa referência a Lula, Bolsonaro afirmou que o cenário favorece a volta do que classificou de “populismo”.
Mais concretamente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu o corte dos impostos estaduais sobre a cesta básica. E, a quatro meses da eleição, endossou a proposta dos supermercados, pela qual a indústria só deveria apresentar novas tabelas de preços no ano que vem. “Nova tabela de preços, só em 2023. Trava os preços. Vamos parar de aumentar preços por dois ou três meses. Estamos em uma hora decisiva para o Brasil”, declarou o ministro.
“Um apelo que eu faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, é para que os produtos da cesta básica, cada um obtenha o menor lucro possível para a gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, em especial os mais humildes”, disse Bolsonaro, em participação virtual no Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). “Eu sei que a margem de lucro tem caído cada vez mais, vocês já vêm colaborando desta forma, mas eu apelo que colaborem um pouco mais na margem de lucro dos produtos da cesta básica.”
Guedes reforçou: “Agora é hora de dar um freio na alta de preços”. E disse que “o empresariado tem que entender o seguinte: temos que quebrar cadeia inflacionária”.
Enquanto o ministro pregava uma “trava” nos preços, o presidente foi além e pediu que as empresas reduzam seus preços. “Se cada um baixar 1% que seja na vez dele [ao longo da cadeia], ficarei eternamente grato”. Diante disso, Guedes se corrigiu. “Eu estou pedindo para travar alta. Se ele está pedindo para baixar, quem tem voto é ele. Vamos baixar, pessoal.”
O ministro avaliou que os supermercados estão com a margem de ganho já bastante estreita. Na outra ponta, o setor agropecuário precisa produzir mais, porém adotando medidas de sustentabilidade ambiental.
Ele defendeu o que chamou de cooperação da cadeia intermediária E disse que o governo cortou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto de Importação sobre diversos produtos de consumo básico, e desonerou todos os itens da cesta básica.
“Está na hora de os governadores ajudarem o Brasil”, disse. Acrescentou que o governo federal tem repassado recursos “o tempo inteiro” para Estados e municípios. “Dos R$ 180 bilhões que eles têm em caixa, será que não podem adiantar um terço para a população brasileira?”
A Abras pediu a Guedes que compense os Estados pelas perdas de receita com a desoneração de alimentos da cesta básica, disse o presidente da associação, João Galassi. É uma medida semelhante à que foi proposta pelo governo federal para reduzir o preço do diesel e do gás de cozinha.
A lista de produtos da cesta básica é muito ampla e contempla itens que vão de arroz e feijão a salmão e queijos sofisticados, afirmou a secretária especial de Produtividade e Competitividade, Daniella Marques. Ela defendeu que, desse rol, sejam selecionados os produtos consumidos por famílias de baixa renda para que o governo possa “fazer algo mais acentuado para produtos mais básicos.”
Fonte: Valor Econômico

