Por Matheus Prado — De São Paulo
21/06/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
O avanço de mais de 20% do Ibovespa desde o fim de março, conforme participantes do mercado passaram a projetar que o Banco Central deve começar a cortar juros em agosto, pode ser, segundo o J.P. Morgan, só o início de um movimento mais amplo de ganhos para a renda variável local. Nessa linha, a casa revisou sua projeção e agora espera que o índice encerre 2023 aos 135 mil pontos, ante 130 mil pontos na estimativa anterior.
Um levantamento do banco americano mostra que, nos últimos cinco ciclos de queda de juros no Brasil, que ocorreram entre 2005 e 2020, o Ibovespa subiu, em média, 33% depois que a Selic começou a cair – e só teve performance negativa no afrouxamento mais recente, durante a pandemia. O documento aponta ainda que os investidores não precisam se apressar para montar posições, já que, nos períodos analisados, o mercado sobe, em média, 3% nos três meses anteriores à flexibilização e 7% nos três meses seguintes.
Com isso, Emy Shayo Cherman, estrategista de ações para Brasil e América Latina do banco, diz que a tendência positiva pode ganhar mais tração à frente. “Para além dos dados da pesquisa, e apesar dos ganhos recentes, a bolsa tem alta de pouco mais de 9% em 2023 e deveria estar em um nível 20% acima do atual para ser compatível com o movimento recente de descompressão dos juros futuros”, diz.
A tese, afirma, é bem simples: corte de juros e preços de ações atrativos. Além disso, ela acredita que o primeiro trimestre marcou o fim da revisão para baixo dos lucros das empresas, o que também deve impulsionar a bolsa ao longo do ano. Estímulos na China que respinguem em preços mais altos de commodities, nota, deixariam o J.P. ainda mais otimista com a tese.
“Nossa maior preocupação, por outro lado, é uma possível correção de dois dígitos na bolsa americana, que tende a ter um forte impacto no mercado local. Fizemos um estudo que mostra que, desde 2001, os mercados emergentes comportam-se na mesma direção que o mercado americano em 84% das vezes. Inclusive, quando a bolsa de lá cai, um dos países que é mais afetado é o Brasil. Não acho que seria diferente dessa vez.”
A executiva nota que os múltiplos das ações locais registraram forte compressão desde que os juros começaram a ser apertados, no início de 2021. O indicador de preço/lucro do Ibovespa, diz, saiu da casa de 12,5 vezes no quarto trimestre de 2020 para quase metade disso no início de 2023. Com a recente valorização da bolsa, subiu a 8,2 vezes, mas ainda tem de ganhar mais 30% para voltar à média de 10,7 vezes. O banco trabalha com a hipótese de que o indicador voltará à média até o fim do ano, alcançando assim o preço-alvo de 135 mil pontos estipulado para o Ibovespa.
Em termos setoriais, as exportadoras de commodities, que sofrem com incertezas em torno da economia global e não devem liderar os ganhos do índice, mostram os patamares de preços mais descontados do Ibovespa. Mas Cherman indica que, ainda assim, a assimetria da bolsa é positiva.
“Se analisarmos o referencial ex-commodities, o múltiplo está em 10,7 vezes, contra média de 12,2 vezes. Se retirarmos commodities e bancos, o múltiplo está em 12,8 vezes, contra 14,5 vezes de média. Alguns setores, como consumo, estão sendo negociados abaixo da média histórica mesmo após a recuperação significativa”, diz. O banco está “overweight”, com exposição acima do consenso, em construção civil, setor financeiro, consumo discricionário e saúde.
No setor imobiliário, diz, as taxas mais baixas se traduziriam em melhoria nos múltiplos de shoppings. Entre as ações de consumo, a melhoria nas variáveis macro deve dar suporte a melhores margens. Em finanças, o banco favorece grandes players com base em “valuations” com desconto. E, em saúde, entende que as empresas devem continuar performando bem em razão do espaço para penetração da saúde privada, enquanto a melhoria no mercado de trabalho é bom presságio para farmácias.
Para que essa expectativa se realize, no entanto, é essencial que o investidor estrangeiro reforce seu posicionamento no mercado local, algo que a estrategista diz que está voltando a ocorrer. Ela nota que o fluxo do grupo para o segmento secundário (ações listadas) da B3 subiu neste mês, com entrada líquida de R$ 7,68 bilhões até o dia 16.
“Pesquisas de mercado mostram que os players globais estão, em geral, com posição ‘underweight’ [abaixo do consenso] em China, o que denota uma necessidade de alocação mais robusta em outros emergentes”, diz. Ademais, argumenta que o mercado local possui agora posicionamento de destaque em relação a outros países latino-americanos, nomeadamente ante o México.
“Acreditamos que o rali da bolsa mexicana ficou para trás. O Mexbol teve uma das melhores performances do mundo nos últimos seis meses, então é normal que dê uma arrefecida. Além disso, tem múltiplos acima dos pares da região. À frente, acreditamos que uma desaceleração da economia americana, junto com o início da temporada de eleições locais, deve esfriar as perspectivas para o mercado de lá, apesar de a composição ser mais defensiva do que a do Ibovespa”, diz.
Fonte: Valor Econômico

