Por Toni Sciarretta — De São Paulo
29/11/2022 05h01 Atualizado
A BlockFi, uma financeira de ativos digitais que já foi uma das “queridinhas” de Wall Street, deu entrada ontem a um aguardado pedido de proteção contra credores pelo chamado Capítulo 11 da lei de falências dos EUA. A startup é a mais nova vítima do colapso da FTX, que já foi a segunda maior exchange centralizada de criptoativos do mundo.
A fintech, que em março recebeu um aporte de US$ 350 milhões e atingiu um “valuation” de US$ 3 bilhões, fazia a ponte entre serviços financeiros tradicionais e criptomoedas. Concedia empréstimos usando criptomoedas como garantia e tinha contas do tipo poupança remuneradas por meio de bitcoin e ethereum.
Como tinha relacionamento comercial com diversos players do mercado de criptoativos, sofreu sucessivos abalos ao longo deste ano, além do forte impacto que a desvalorização das criptomoedas teve no “descasamento” entre ativos e passivos.
Perdeu US$ 80 milhões com a gestora Three Arrows Capital, vítima da implosão do sistema Terra/Luna em abril. Depois foi socorrida pela própria FTX, que concedeu crédito rotativo de US$ 400 milhões e ainda tinha uma opção para adquiri-la. Com a quebra da FTX, a BlockFi teve de suspender logo depois os saques e pedir aos clientes para parar de fazer depósitos nas contas remuneradas. A BlockFi também estava transferindo seus ativos para custódia na FTX, mas a maioria dos tokens ainda não tinham sido movidos.
Fundada em 2017 por Zac Prince e Flori Marquez, a BlockFi contou com o apoio de vozes de prestígio em Wall Street, como Mike Novogratz, gestor com passagem pelo Goldman Sachs e hoje CEO da Galaxy Investments. Recebeu aporte da Valar Ventures, gestora de venture capital de Peter Thiel, fundador do PayPal e Palantir Technologies, que financiou o Facebook, além dos irmãos Winklevoss, da Gemini. Entre os investidores, estão ainda alguns dos fundos de venture capital de maior prestígio, como Bain Capital, Tiger Global, Kenetic e Akuna, além de nomes importantes do universo de criptoativos, como Coinbase Ventures e HashKey.
A empresa cresceu durante os anos da pandemia e tinha escritórios em Nova York, Nova Jersey, Cingapura, Polônia e Argentina.
No pedido de proteção, a BlockFi afirma que tinha ativos e passivos entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões, cerca de US$ 257 milhões em caixa e estava iniciando um plano para reduzir despesas e demitir funcionários. O capítulo 11 da lei de falências dos EUA permite que a empresa continue operando para pagar os credores.
Na massa em recuperação, está entre os credores a FTX US, com um total de US$ 275 milhões a receber. O maior credor é a Ankura Trust, que fazia a administração das contas de criptoativos com juros, com cerca de US$ 729 milhões.
A BlockFi também deve US$ 30 milhões para a SEC (equivalente à CVM nos EUA), que figura como a quarta maior credora da massa em recuperação. A dívida diz respeito a um acordo feito em fevereiro para encerrar um processo em que a SEC e os reguladores de vários estados acusavam a BlockFi de fazer oferta de valores mobiliários sem o devido registro por meio do pagamento de juros nos empréstimo de tokens digitais.
O pedido de recuperação da BlockFi era aguardado e não chegou a causar surpresas, nem teve impacto nas criptomoedas, que recuaram ontem por conta dos protestos na China. O bitcoin foi negociado a US$ 16.247 no início da noite de ontem, com baixa de 1,9%. Nos últimos 30 dias, acumula desvalorização de 21%. “Foi zero surpresa a quebra da BlockFi. Não teve impacto nos preços”, disse José Artur Ribeiro, CEO da Coinext.
Fonte: Valor Econômico

