Por Sérgio Tauhata, Valor — São Paulo
06/02/2024 15h17 Atualizado há 11 horas
Apesar dos dados recentes mostrarem força, a economia e o mercado de trabalho dos Estados Unidos estão enfraquecendo e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai ter de começar a reduzir os juros entre março e maio sob o risco de o país entrar em uma recessão, avaliou o fundador da Pershing Square, Bill Ackman, durante participação por teleconferência em evento do BTG. “Os juros têm de cair, seja em março ou maio, o Fed vai ter de começar a reduzir os juros logo, senão vamos ter uma recessão real”, avaliou.
Segundo o gestor americano, o cenário à frente para a economia americana depende dos passos que o Fed escolher tomar. “Então se vai ter uma recessão ou não depende muito do que o Fed fizer”, explicou. “Minha percepção do cenário da economia [nos EUA] neste momento é que a atividade está enfraquecendo e o mercado de trabalho também. Temos visto um número significativo de empresas todos os dias anunciando uma demissão de 3% ou de 5% [da força de trabalho].”
De acordo com Ackman, “quando a inflação alcançou 9% [ao ano em 2022], tínhamos o ‘quantitative tightening’ [QT] entrando ao mesmo tempo, tínhamos a política monetária mais agressiva de todos os tempos e tivemos a política fiscal mais agressiva de todas”. Conforme o especialista, “vimos uma inflação nos Estados Unidos como não vimos em 30 a 40 anos e acho que isso foi um golpe para o legado de [presidente do Fed] Jerome Powell”.
Ackman, porém, afirmou reconhecer os méritos do combate à inflação do Fed. “Então, depois dessa experiência, para seu crédito [de Jerome Powell], ele reverteu o curso, aumentou as taxas de forma bastante agressiva, manteve os juros em patamares bastante elevados.”
De acordo com o fundador da Pershing Square, a inflação medida pelo índice preferido do Fed, o PCE, já voltou ao patamar perto de 2%, que é a meta do BC americano. “A taxa de juros real nos EUA hoje está bastante alta em termos históricos e, apesar disso, a economia ainda parece forte. Então, isso é um pouco um enigma, mas penso que existe alguns fatores que estão se ajustando após a pandemia e isso traz riscos para a economia.”
Ackman citou as hipotecas no mercado imobiliário americano realizadas no período de taxas de juros ultrabaixas. “Muitas dessas hipotecas são ajustáveis, ou seja, a passagem do tempo faz com que elas eventualmente sejam reavaliadas para níveis mais elevados. Acho que a mesma coisa está acontecendo no contexto comercial. Se você olhar para imóveis comerciais, saberá que muitas pessoas pediram dinheiro emprestado a taxas de juros muito baixas por volta de 2019. Os proprietários de imóveis comerciais precisam refinanciar a uma taxa mais alta, o que está causando um grande estresse em seu mercado imobiliário.”
De acordo com o gestor, “no mundo corporativo o cenário é semelhante”. Para o fundador da Pershing, “novamente tivemos esse benefício de taxas muito, muito baixas, mas em algum momento vamos atingir um penhasco”. O atual nível elevado das taxas de curto prazo, na visão do especialista, combinado com a saída de uma alavancagem feita com juros na mínima histórica “irão afetar a economia”.
“Se eu fosse presidente do Fed, começaria a cortar as taxas em breve, porque você tem que fazer isso da mesma forma que aumentou as taxas rapidamente. Acho que [o BC americano] quer começar a baixar ou, pelo menos, começar o processo de redução das taxas.”
Sobre as preocupações em relação à trajetória de endividamento dos EUA, Ackman ressaltou ver implicações do crescimento da dívida em alguns anos. “É um risco de longo prazo, mas estamos vivendo em um mundo em que os chineses são grandes compradores de títulos do Tesouro dos EUA. Mas neste momento, eles provavelmente são vendedores. Os russos costumavam possuir grande parte da sua dívida em Treasuries. Penso que o risco para o investidor de longo prazo é um prémio de rendimento ou o risco inerente dos Estados Unidos alavancados.”
Fonte: Valor Econômico

