Por Natália Coelho
São Paulo, 15/06/2023 – Mesmo diante de sinais de desaceleração da economia da zona do euro, com a região entrando em recessão técnica no primeiro trimestre de 2023, a expectativa geral de analistas consultados pelo Broadcast é de que o Banco Central Europeu (BCE) eleve os juros em mais 25 pontos-base (pb) em sua próxima decisão monetária, nesta quinta-feira. A decisão está marcada para 9h15 (de Brasília) e será seguida por declarações da presidente da instituição, Christine Lagarde.
A justificativa, segundo análise do banco de investimentos Berenberg, é que a inflação e seu núcleo seguem muito elevados para oferecer algum “alívio”, enquanto a pressão de salários segue com riscos para o positivo. Em maio, o índice de preços ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) da região desacelerou a 6,1%, na leitura anual, ficando abaixo do esperado, enquanto o núcleo subiu 5,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já a taxa de desemprego caiu à mínima recorde de 6,5% em abril.
O banco alemão avalia que a força do núcleo da taxa inflacionária levará o BCE à mais uma alta de 0,25 ponto porcentual em junho, com riscos de outra da mesma magnitude em julho, apesar de também considerar que o pior da inflação já passou e que ainda há os efeitos defasados de altas anteriores a serem considerados. “O BCE provavelmente enfatizará ainda mais fortemente do que antes que sua política futura depende de dados, em meio a uma maior incerteza”, indica a instituição, levantando possibilidade de uma pausa em julho, mas também de mais aperto no segundo semestre.
Entretanto, a visão de que a inflação já atingiu seu pico vai de encontro ao indicado pela presidente do BCE, Christine Lagarde, que afirmou em evento realizado no dia 5 de junho que não acredita que o núcleo tenha atingido seu ponto mais alto, devido às fortes pressões de preços.
O ANZ, por sua vez, já vê como certa a alta de 25 pontos-base (pb) em julho, depois da elevação da mesma magnitude nesta quinta-feira. “Achamos que o BCE pode então fazer uma pausa, mas manter um viés de aperto, enfatizando que o aperto da política funciona com um atraso. Não prevemos corte antecipado nas taxas”.
Apesar de prever a pausa, o banco australiano ressalta que a expectativa não seria uma reversão na política monetária e espera que as taxas permaneçam em nível elevado por bastante tempo, com dirigentes do BCE mantendo o tom rígido e com riscos de que a inflação se prove mais persistente que as previsões.
Apostando na verdade em mais três altas de juros pelo BCE, contando com a de junho, o Danske Bank também chama atenção para a persistência inflacionária, bem como seus fatores, que continuam demonstrando sinais “mistos”, além da dinâmica de preço-salário que segue sendo uma preocupação de peso para o BC europeu.
Já para o ING, o BCE está ficando “sem mais argumentos hawkish”, diante da desaceleração dos dados econômicos da zona do euro, e com sinais “encorajadores” nos indicadores de inflação. “Diante disso, a curva de juros implicando em mais duas altas neste ciclo (incluindo esta semana) já parece em sintonia com a mensagem hawkish do BCE”.
Já o NatWest acredita que a alta dessa semana, prevista também para 25 pb, deve ser a última do ciclo, ao passo que o TD Securities, além de dar como certa a alta desta quinta-feira, destaca que Lagarde deverá manter o mesmo discurso na coletiva de imprensa de maio, indicando que o trabalho da autoridade monetária europeia ainda não terminou no combate à inflação.
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Fonte: Broadcast

