Por Gabriel Shinohara, Valor — Brasília
28/02/2024 08h30 Atualizado há 9 horas
A ata da última reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central (BC), publicada nesta quarta-feira, aponta que o financiamento à economia real continuou desacelerando tanto na pessoa física quanto na pessoa jurídica. A reunião aconteceu nos dias 20 e 21 de fevereiro.
Para pessoa física, o Comef identificou que as principais modalidades de crédito mantiveram tendência de desaceleração ou “passou-se a observar estabilidade”, como em linhas consideradas mais arriscadas, caso de cartão de crédito e crédito não-consignado. A exceção foi o financiamento de veículos, que acelerou.
“Os critérios de concessão foram mantidos, após período de melhora na qualidade. Embora a tendência seja de redução, o comprometimento de renda e o endividamento permanecem historicamente elevados”, diz a ata.
Já para as pessoas jurídicas, a avaliação é que o crédito bancário continuou em desaceleração. Segundo a ata, não há percepção de alteração relevante nos critérios de concessão.
“Os resultados de pesquisas junto às instituições financeiras apontam melhores condições de oferta e demanda de crédito, tendo como um dos fatores a percepção de maior apetite ao risco em algumas linhas. O Comef avalia que é importante os intermediários financeiros continuarem preservando a qualidade das concessões”, aponta.
A ata do Comef também destaca que o mercado doméstico de dívida corporativa “continua ganhando representatividade como fonte relevante de financiamento, principalmente para as grandes empresas”.
Na reunião dos dias 20 e 21, o Comef decidiu manter o Adicional Contracíclico de Capital Principal no Brasil (ACCPBrasil) em 0%. O ACCPBrasil é um valor que deve ser acumulado pelos bancos quando o crédito está em expansão e que pode ser utilizado quando há retratação. O objetivo constituir uma reserva que pode suavizar o movimento de contração.
Para o Comef, o preço dos ativos e o crescimento do crédito “não representam preocupação no médio prazo”, mas há algumas incertezas que devem ser acompanhadas. Entre esses riscos, há os relacionados à atividade econômica e ao endividamento das famílias e das empresas de menor porte. Por conta disso, o comitê “segue recomendando” que as instituições “mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital”.
Acerca do cenário global, o Comef avalia que o sistema financeiro internacional tem se mostrado resiliente e está se adaptando à “dissipação dos choques recentes e à trajetória de desinflação em curso, embora ainda haja sinais de vulnerabilidades localizadas”.
Sobre os EUA, o Comef aponta que continua se observando um aumento de provisões e contração do crédito em “alguns segmentos, em especial os mais sensíveis a taxa de juros”. A ata ainda destaca que a “elevada exposição de bancos menores ao setor imobiliário corporativo, que continua sob estresse, segue sendo ponto de atenção”.
O documento ainda aponta um alívio nas condições financeiras desde a última reunião do Comef, em novembro, mas destaca que “mantêm-se restritivas”.
“A volatilidade dos juros americanos de longo prazo permanece alta. A incerteza também segue elevada, em particular, sobre a trajetória da política monetária das economias avançadas, sobre o crescimento na China e sobre os impactos dos eventos geopolíticos globais”, diz o texto.
O comitê entende que a exposição do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ao risco de taxa de câmbio é baixa e a dependência de “funding” externo é pequena. “Em geral, as economias emergentes têm, até o momento, mostrado resiliência diante do cenário externo adverso, ainda que fatores de vulnerabilidade permaneçam”, diz.
Fonte: Valor Econômico

