Baseado em recursos de inteligência artificial e machine leaning, o sistema fornece “níveis” de chance de perder talentos
Por Jacilio Saraiva, Para o Valor
15/06/2022 09h05 Atualizado há 4 horas
A Bayer, multinacional alemã de produtos farmacêuticos e agroquímicos, está usando uma ferramenta capaz de prever pedidos de demissão dos funcionários. Baseado em recursos de inteligência artificial e machine leaning (aprendizado de máquina), o sistema fornece “níveis” de chance de perder talentos – que pode ser alto, médio e baixo – a partir de dados sobre engajamento em atividades e adesão a treinamentos. A empresa tem 6,5 mil empregados no Brasil.
“A tecnologia também indica aos líderes as principais ações a serem tomadas para evitar as perdas”, afirmou André Kraide, líder de recursos humanos da Bayer Brasil e da divisão agrícola na América Latina, durante live da série RH 4.0 do “Carreira em Destaque”, mediada pela editora de Carreira do Valor, Stela Campos.

Bayer usa ferramenta capaz de prever pedidos de demissão
A novidade faz parte, segundo Kraide, de uma nova frente de capacitação do quadro, desenhada desde 2019, para que os funcionários tenham autonomia de escolher os cursos que desejam fazer na companhia. A partir de um plano individual de desenvolvimento e com a mentoria das chefias, é possível participar de pelo menos dez novos programas em 2022, com temas como liderança e “learning agility” (aprendizado rápido). “Setenta por cento do desenvolvimento de um profissional depende dele mesmo”, disse Kraide, há quase 17 anos na Bayer.
O executivo explicou que a ideia é entender o que cada funcionário planeja para a carreira, a fim de customizar as qualificações. Com o advento da pandemia, a maioria dos cursos passou a ser on-line e deve continuar assim, disse. “A exceção é para aulas que exigem atividades de cocriação.” Um dos programas em andamento para a liderança é sobre letramento em diversidade e inclusão, realizado em cinco módulos, com duas horas cada.
A empresa ainda criou duas ações para incentivar a busca de novos conhecimentos pelas equipes. A Go Learn (Busque aprender, do inglês) oferece conteúdo digital via plataforma de streaming com séries educativas, vídeos, podcasts e artigos. Já a Embrace Leadership (Abrace a liderança) é dirigida aos gestores. O objetivo é ajudá-los a se apropriarem de novas formas de liderar, em um ambiente voltado para mais performance e segurança psicológica.1 de 1 “A tecnologia também indica aos líderes as principais ações a serem tomadas para evitar as perdas [de funcionários]”, afirmou André Kraide, — Foto: Reprodução/Valor
“A tecnologia também indica aos líderes as principais ações a serem tomadas para evitar as perdas [de funcionários]”, afirmou André Kraide, — Foto: Reprodução/Valor
De acordo com o líder de RH, um dos principais desafios no início das novas jornadas de ensino foi conseguir o engajamento qualitativo da maioria. “A intenção era que os funcionários se conectassem com as ações porque entendiam o valor delas e ainda experimentassem outros meios de aprendizagem que não fosse a sala de aula clássica, com um treinador orientando o grupo.” Kraide afirmou que, em alguns cursos, os chefes atuam também como instrutores e ajudam a “cascatear” os conteúdos entre as equipes.
“A necessidade de ter currículos mais técnicos está sendo balanceada pela busca de características pessoais”, avaliou o executivo, que retornou à operação brasileira da Bayer no ano passado, para comandar a área de RH, depois de atuar, desde 2014, em divisões de negócios do grupo no México e em Cingapura, como vice-presidente de marketing para a Ásia e o Pacífico e vice-presidente de negócios para o Sudeste Asiático e o Paquistão.
Desde o final de abril, disse ele, a Bayer também implanta novidades nos expedientes do Brasil. Liberou o retorno dos funcionários aos escritórios, em um formato híbrido, conhecido como Bayflex. Os empregados e a liderança decidem juntos como será o calendário de produção de cada equipe, de acordo com as demandas – não há um número definido de pessoas que devem estar na empresa ou dos dias da semana em que será preciso trabalhar presencialmente.
“Não precisamos ter um regra que sirva para todos”, afirmou. “Os horários e locais de trabalho serão diferentes de time para time, por tipo de negócio e épocas do ano.” Com sede em São Paulo (SP), a companhia atua em 31 cidades, em 12 estados. Kraide afirmou que tem percebido que às terças, quartas e quintas-feiras o escritório recebe mais funcionários. “Tivemos dias em que chegamos a ter aproximadamente mil pessoas na sede, o que significa por volta de 50% do público do período pré-pandemia.”
A empresa manteve o tamanho dos escritórios, mesmo com a mudança, segundo o executivo. “Mudamos apenas o conceito de uso”, explicou. “Não temos mais salas individuais e há mais zonas de colaboração.” Alguns departamentos ganharam atrativos a mais para estimular a convivência, como espaços de karaokê e meditação.
Para desenhar o novo padrão de trabalho, a Bayer realizou pesquisas com os funcionários. Um dos levantamentos mais recentes ouviu 1,6 mil empregados, afim de investigar preferências como a quantidade de dias para estar no escritório. Entre os respondentes, as maiores vantagens apontadas no estilo flexível foram a redução do tempo no trânsito, indicada por 91% do total, e a proximidade com a família (81,5%).
“Vamos avaliar os formatos propostos a cada três ou quatro meses, e entender o nível de satisfação das equipes”, disse Kraide. “A princípio, os feeedback são positivos, tanto dos líderes como dos times.”
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