29 Sep 2023 THAÍS BARCELLOS EDUARDO RODRIGUES CÉLIA FROUFE
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse ontem que a barra para acelerar o ritmo de cortes da taxa Selic, atualmente de 0,5 ponto porcentual, está “ligeiramente mais alta” agora. Desde agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem indicando que vê o ritmo de 0,5 ponto a cada reunião do colegiado como adequado e que é pouco provável acelerá-lo.
Entre os fatores que explicariam essa barra “ligeiramente mais alta” estão os acontecimentos recentes no cenário externo. Campos Neto mencionou o aumento da curva de juros nos Estados Unidos, destacando que há consequências para os países emergentes, como o Brasil. “Empresas boas americanas têm tido emissões de crédito saindo com 6,5% a 7,5% de juro. É dreno de liquidez (que iria) para os emergentes.”
Segundo o presidente do BC, boa parte dos analistas não avalia que as preocupações fiscais nos EUA explicam esse movimento do juro longo, mas, se assim fosse, conforme Campos Neto, o formato da curva seria outro. “Se fosse só a indicação de que as taxas de juros vão ficar altas por mais tempo, o formato não seria esse”, disse ele, em relação à estratégia de política monetária nos Estados Unidos.
Outra razão que pode explicar o aumento da curva de juros americana, disse ele, é um tema mais técnico, relacionado à China, que tem feito intervenções no mercado vendendo títulos do Tesouro americano. Campos Neto ainda disse que, no cenário externo mais incerto, há a discussão sobre o crescimento chinês. “Parece que há uma mudança de modelo, de passar de infraestrutura para inovação e consumo, o que pode fazer com que o crescimento fique mais baixo por mais tempo”, acrescentou.
CONTRACIONISTA. Segundo o presidente do BC, o entendimento do Comitê de Política Monetária (Copom) é de que, mesmo iniciado o ciclo de afrouxamento dos juros, a taxa Selic precisa permanecer em patamar ainda contracionista para se alcançar os objetivos inflacionários. “Mesmo com o ajuste, o que estamos fazendo é restritivo suficiente para atingir a meta”, disse.
Campos Neto afirmou também que não há ganhos em indicar com maior clareza o tamanho do ciclo de cortes da taxa Selic no momento atual, em que há “grande incerteza”. Ele reconheceu que isso já foi feito no passado, mas que o valor esperado de passar essa informação depende do grau de certeza que o BC tem sobre determinado cenário.
“Em momento de mais incerteza, trocar o ‘guidance’ (orientação) gera ruídos de credibilidade. Como definimos o momento atual como de grande incerteza, inclusive com incertezas adicionais no cenário externo, entendemos que não há ganho em indicar o tamanho do ciclo (de corte dos juros) no momento”, disse.
RELATÓRIO DE INFLAÇÃO. O presidente do BC fez essas observações durante entrevista concedida para explicar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central, divulgado ontem. No documento, o BC elevou novamente sua estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, de 2% para 2,9%. Além disso, o banco também informou pela primeira vez suas projeções para o PIB de 2024. A expectativa é de crescimento de 1,8%. O documento apresentado ontem também trouxe as estimativas do BC para a inflação em 2023 (5%), 2024 (3,5%) e 2025 (3,1%).
Fonte: O Estado de S. Paulo

