31 May 2023 ADRIANA FERNANDES BEATRIZ BULLA
A Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) defende que os bancos adotem para os correntistas (clientes) os mesmos critérios socioambientais aplicados para concessão de crédito aos frigoríficos. Isso significaria, por exemplo, barrar o acesso ao sistema financeiro de pessoas envolvidas em operações ligadas ao desmatamento ilegal na Amazônia.
O posicionamento da Abiec ocorre um dia após o Estadão revelar medida da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estabelecendo que as instituições brasileiras só poderão conceder crédito para frigoríficos e matadouros que comprovarem não comprar gado de abate proveniente de áreas de desmatamento ilegal da Amazônia e do Maranhão.
A decisão vale para fornecedores diretos e indiretos e faz parte de um protocolo comum de autorregulação para a cadeia de carne bovina.
Segundo a Abiec, os frigoríficos já vêm “implementando e aperfeiçoando seus sistemas de monitoramento de critérios socioambientais de seus fornecedores” desde 2009. “Hoje, nossos associados utilizam ferramentas avançadas, como imagens de satélite e inteligência artificial, que permitem monitorar diariamente dezenas de milhares de fornecedores para garantir que estão de acordo com as mais avançadas políticas ambientais, atendendo às exigências de clientes e consumidores no mundo inteiro”, diz, em nota, a associação.
“É bem-vinda (a medida da Febraban), mas esse processo tem de se integrar ao que já está acontecendo desde 2009, sob pena de não atingir aquela faixa que temos lutado para trazer para dentro do processo”, afirmou o presidente da Abiec, Antonio Jorge Camardelli.
Fernando Sampaio, da área técnica de sustentabilidade da Abiec, afirma que o setor de frigoríficos tem bancado sozinho o esforço de rastreamento e monitoramento para garantir a blindagem da cadeia de pecuária. “Não nos negamos a fazer a nossa parte, mas é um esforço que não pode ser só dos frigoríficos, tem de ser também do governo e dos outros setores. Nós cortamos relação comercial com um fornecedor que está embargado, mas ele tem conta no banco. Qual o esforço de verdade dos bancos em relação a esses clientes? O desmatador, o grileiro ilegal tem conta em banco”, afirma Sampaio.
Camardelli diz que já há 20 mil produtores bloqueados porque não atendem às normas, seja na questão ambiental, seja na social.
BOI NA LINHA. Dentro e fora do País, o setor foi pressionado, nos últimos anos, a se adaptar a exigências ambientais. Em parceria com o Ministério Público Federal, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) lançou, em 2019, a iniciativa Boi na Linha, programa que reúne os maiores frigoríficos do País e monitora o desmatamento ilegal na cadeia da carne bovina.
Maior exportador de carne bovina do mundo, o Brasil tem cerca de 40% dessa produção concentrada na região amazônica. Países importadores têm adotado critérios cada vez mais rígidos para compra de produtos brasileiros produzidos na região.
Em nota de resposta à Abiec, a Febraban afirmou que “os bancos direcionam investimentos para atividades que tenham impacto positivo na sociedade e no meio ambiente e atuam de forma proativa nessa direção”. •
Decisão Instituições só concederão crédito a frigorífico que não comprar gado de área desmatada
Fonte: O Estado de S. Paulo

