Rede possibilita processos automatizados e uso de tecnologias como IoT e inteligência artificial
Por Para o Valor — Rio
A expansão da rede 5G para o interior abre espaço para a implementação de novos hubs logísticos com processos automatizados. Tecnologias emergentes, como internet das coisas (IoT) e inteligência artificial, tornam-se mais acessíveis fora dos grandes eixos, possibilitando redução de custo e agilidade nas entregas. O leilão do 5G previu ainda a expansão da rede 4G para mais localidades e rodovias, tornando mais rápida a comunicação com o transporte e mais eficiente todo o sistema logístico.
O Grupo Elfa, operador logístico focado no setor de saúde, está em fase de estudos com a Embratel para a implementação de 5G privativo nos centros de distribuição (CDs). Segundo Rafael Tobara, CIO do Grupo Elfa, a empresa fez mais de 20 aquisições nos últimos oito anos, após investimento do fundo Pátria, e mantém cerca de 30 CDs que atuam como hubs de distribuição de medicamentos e equipamentos hospitalares para mais de 7 mil hospitais, 250 mil clínicas e 700 planos de saúde em todo o país.
“Dentro dos CDs, alguns com mais de 20 mil m2, tenho ineficiências relacionadas à instabilidade do sinal do wi-fi, o que atrapalha a separação e a preparação de pedidos [pick], a coleta e a comunicação externa. A rede 5G privativa deverá será implantada a partir de 2025, inicialmente no CD de Belo Horizonte ou no de Brasília, como piloto para toda a rede. Os objetivos são: maiores cobertura e segurança, eliminando áreas de sombra, e agilização de entregas”, afirma Tobara.
No setor portuário, TIM e Embratel reivindicam o pioneirismo na instalação de rede privativa 5G standalone em 3,5 GHz. O projeto da Embratel ocorreu como uma prova de conceito em um dos três pátios do hub de veículos do Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco. O projeto automatizou, registrou e monitorou, de forma real e virtual, a movimentação dos carros e sua localização exata em todos os passos do deslocamento, com o mínimo de intervenção humana.
Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel, explica que o projeto utilizou rede 5G e câmeras inteligentes integradas com uma solução de video analytics para automatizar e otimizar processos logísticos de identificação e monitoramento de entrada e saída de veículos armazenados no atracadouro, minimizando, expressivamente, o tempo e os esforços gastos para conferência de cargas de automóveis. A prova de conceito foi aprovada, mas a implementação definitiva da rede 5G depende do planejamento futuro do hub de veículos, que poderá ser arrendado, afirma Marcio Guiot, diretor-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. “Uma das ideias é contratar a rede para todo o complexo portuário e oferecer serviços de rede para os arrendatários”, sinaliza Guiot.
A TIM atua como fornecedora de infraestrutura e como integradora de soluções, e lançou, em abril, a frente de negócios TIM IOT Solutions, com foco em agro, utilities, indústria 4.0 e logística, segmento em que oferece soluções para toda cadeia, de portos a rodovias — nesse caso, por meio de parcerias com as concessionárias CCR RioSP, EcoRodovias, EPR e Grupo Way Brasil.
O projeto da BTP, terminal de contêineres do porto de Santos, foi iniciado como uma prova de conceito em 2022 e entrou em operação definitiva em julho de 2023. A rede 5G permite monitoramento remoto e em tempo real de equipamentos, guindastes de diferentes portes e atividades, com gestão a partir de uma central de monitoramento. “A capacidade da rede saltou de 30 MB [da antiga rede wi-fi] para 1 GB, e a velocidade na troca de informações entre os equipamentos baixou de uma latência [tempo de resposta] variável de 2.000 milissegundos para 15 ms estável. A quantidade de antenas existentes no terminal também foi reduzida de 54 para oito aparelhos”, afirma Fábio Avellar, vice-presidente de receitas da TIM.
Fabiana Morgante de Alencar, gerente de tecnologia e segurança da informação da BTP, explica que a rede 5G trabalha em uma frequência licenciada, o que praticamente elimina as interferências comuns em redes wi-fi. “O maior ganho do 5G é a disponibilidade da rede. A longo prazo, o 5G apoiará a performance do terminal de contêineres. A BTP estuda a utilização do 5G para implementação de novas soluções como telemetria, monitoramento preventivo de equipamentos, sensores IoT e comunicação por rádio”, afirma Alencar.
Diego Aguiar, diretor de IoT e big data da Vivo, diz que hoje um dos desafios para os projetos de redes privativas no setor logístico é a falta de dispositivos. A Vivo procura atuar como desenvolvedora do ecossistema de dispositivos para o setor de logística, vertical estratégica na qual já tem três projetos de rede privativa 5G, incluindo centros de distribuição, porto e indústria química. Entre os destaques, está o Centro de Distribuição e Logística da Huawei, em Sorocaba (SP). São 12 antenas 5G, capazes de conectar até 300 dispositivos inteligentes, como veículos autônomos autoguiados, empilhadeiras autônomas, câmeras com inteligência artificial e dispositivos de rádio frequência. “Tarefas como transporte de matéria-prima e equipamentos passaram a ser executadas por robôs autônomos, o que ocasionou um ganho de 30% na eficiência da operação e uma diminuição do ciclo de produção de 17 para 9 horas. Houve ainda melhora de 20% na otimização do espaço e economia financeira anual de R$ 2,6 milhões”, diz Aguiar.
Fonte: Valor Econômico